Após perder a ponta na largada, Ayrton Senna ultrapassou Alain Prost, venceu a segunda na temporada e diminuiu a vantagem do rival na tabela.
Depois de apenas quatro corridas do Campeonato Mundial de Fórmula 1 de 1988, já era possível afirmar com segurança que nenhuma equipe conseguiria competir de igual para igual com a McLaren. O que ainda permanecia impossível de dizer era qual dos dois pilotos da equipe chegaria na frente ao final da temporada.
Até aquele momento, Alain Prost levava vantagem sobre Ayrton Senna: o francês havia registrado três vitórias e um segundo lugar, contra apenas uma vitória e um segundo lugar, contra apenas uma vitória e um segundo lugar do brasileiro. Traduzida em pontos, a distância de Prost para Senna era de confortáveis 33 a 15.
Entretanto, Ayrton sabia que ainda havia muito chão até a definição do campeonato do campeão. O calendário apresentava um total de 16 provas, mas somente os 11 melhores resultados de cada piloto entravam para a conta final; os cinco piores desempenhos seriam descartados. Por isso, quando embarcou para a disputa do Grande Prêmio do Canadá, marcado para 12 de junho de 1988, Senna afirmou aos jornalistas em São Paulo que estava confiante, mas consciente, claro, de que sua reação não poderia demorar a acontecer.
A desclassificação no Brasil, meu erro em Mônaco e os problemas com o carro no México me prejudicaram muito. É certo que o campeonato está apenas começando e que esses resultados serão descartados, mas como agora com mais tensão, torcendo para que nada volte a ocorrer nenhum problema.
DE NOVO NA POLE
Nos treinos de classificação, como já havia ocorrido nas quatro etapas anteriores, Senna levou a melhor sobre o rival. Na sexta, Prost por pouco não fica com o melhor tempo. O brasileiro só conseguiu superá-lo na última volta, correndo com o carro reserva. A disputa também foi boa no sábado, mas terminou como das vezes anteriores: com Senna na pole position, pela quinta vez seguida. Ele registrou 1m21s681, contra 1m21s863 do francês.
A segunda fila foi preenchida pelas Ferrari. Gerhard Berger, que no treino da sexta surpreendeu ao ficar a apenas três décimos de segundo de Prost, não conseguiu melhorar o tempo no sábado. Ainda assim, garantiu a terceira colocação, com 1m22s719, quase meio segundo a frente de seu colega Michele Alboreto, que marcou 1m23s296.
UM OLHO NO RIVAL, OUTRO NA GASOLINA
Senna e Prost ainda não tinham protagonizado nenhuma disputa direta nas quatro corridas iniciais. Na última vitória de Senna, em San Marino, Prost teve problemas na largada que o impediram de acompanhar o brasileiro de perto; o mesmo roteiro se repetiu no triunfo de Prost no México, quando Senna chegou em segundo. Nas outras duas provas, Senna teve um desclassificação ( Brasil ) e um abandono ( Mônaco ).
No circuito Gilles Villeneuve, porém, ambos mediriam forças na pista pela primeira vez. E o duelo começou na largada: Prost aproveitou a colher de chá que recebeu da organização, que colocou a posição da pole do lado direito ( e mais sujo ) da pista, ( á esquerda, do lado do francês ) pulou na frente. Senna veio logo atrás, e foi assim até a 19a volta, quando o brasileiro, na Curva do Grampo, ponto de mais baixa velocidade do circuito , emparelhou e passou á frente.
Na pista de muitas curvas e retas curtas, repleta de freadas e mudanças de marcha, o consumo de combustível, especialmente para os potentes motores turbo, era uma questão delicada; por isso Senna e Prost corriam com um olho no rival e outro no mostrador da gasolina. A diferença, que se mantinha em torno de 2 segundos a favor de Senna, aumentou na volta 29, quando Prost ficou preso pelo tráfego de três retardatários, as Arrows de Eddie Cheever e Derek Warwick e a Ligier de René Arnoux.
Senna ganhou então uma folga de 5 segundos. E foi essa diferença que permaneceu até o final da corrida, quando Ayrton recebeu, pela segunda vez no ano, a bandeira quadriculada. Prost cruzou em segundo, seguido por Thierry Boutsen, da Benetton-Ford, um terceiro lugar histórico por marcar a volta de um carro de motor aspirado ao pódio, fato que não ocorria desde a temporada de 1983.
VITÓRIA OU NADA
Eu estava precisando de uma vitória assim. Não tanto por ter ultrapassado Alain, mas porque acho que fiz uma corrida muito boa e que me deixa em posição melhor no campeonato. Considerando que nós dois temos o mesmo carro, é importante que as vitórias também sejam divididas, disse Senna.
Prost, por outro lado, não estava contente com a segunda colocação. O problema é este nosso carro está tão bom que provavelmente vai vencer todas ou quase todas as provas do ano. Sendo assim, é bem possível que um de nós vença 11 vezes, o que deixaria completamente sem utilidade esses seis pontos que marquei. Chegamos a um ponto que só a vitória interessa.