Enquanto Emerson Fittipaldi vencia as 500 milhas de Indianápolis, Senna triunfava em Hermanos Rodrigues e assumia a liderança do campeonato.
Para a quarta etapa do Campeonato Mundial de 1989, o circo da Fórmula 1 armava suas tendas nas alturas.
Construído a 2.240 metros acima do nível do mar, o autódromo Hermanos Rodríguez, palco do Grande Prêmio do México, era um dos mais bonitos do calendário – mas também um dos que mais dava dor de cabeça aos envolvidos.
Pilotos e equipes precisavam passar por uma fase de adaptação á altitude, bem como descobrir uma forma de compensar a perda de potência nos motores provocada pelo ar rarefeito. Par complicar ainda mais, as escuderias chegavam ao fim de semana da corrida sem saber, na prática, como os carros se comportariam na pista: o regulamento da Fórmula 1 proibia testes privados em circuitos não europeus; por serem muito caros, poderiam favorecer as equipes mais ricas em detrimento das que tinham orçamento mais restrito. A exceção permitida eram os testes de início da temporada no Rio de Janeiro.
Com tudo isso, não havia alternativa: para triunfar em terras mexicanas, era preciso viver perigosamente, encarando todos os desafios sem medo. Este é o tipo de pista em que o piloto tem de correr riscos o tempo todo para conseguir alguma coisa, confirmou Ron Dennis, chefão McLaren.
A TEMIDA PERALTADA
Empatado com o companheiro de equipe Alain Prost na liderança do campeonato, ambos tinham 18 pontos, Ayrton Senna vinha embalado, após vencer as duas últimas corridas, em San Marino e Mônaco. Mas para conseguir a vitória que o colocaria na liderança isolada, Senna sabia que teria de arriscar. Se andar redondinho aqui, você é dois segundos mais lento, garantiu.
O pior é que essa pista é escorregadia e também faz o carro saltar muito. É perigosa mesmo, o coração vem na boca. Não estou seguro de que saio das curvas na direção correta, afirmou. Nas outras dá para rodar, mas se você perder o carro na Peraltada as consequências podem ser muito graves. Já tive essa experiência uma vez, com a Lotus de suspensão ativa, e não quero experimentá-la outra vez.
O brasileiro se referia ao acidente que havia sofrido nos treinos para a prova de 1987 na curva mais perigosa do circuito, que obrigaram a ficar uma hora sob observação no hospital do autódromo.
MAIS UMA
Dessa vez, Senna passou ileso nos treinos. Mas Derek Warwick (Arrows), Martin Brundle (Brabham) e Andrea de Cesaris (Dallara) tiveram acidentes no primeiro treino classificatório, prejudicando a tomada de tempo de diversos pilotos. No sábado, porém, sem grandes intercorrências, todos os pilotos melhoraram suas marcas.
Na primeira fila, não houve surpresas: Senna marcou 1m17s876 e ficou mais lento: 1m18s773. Atrás dele, vinham Nigel Mansell, da Ferrari, com 1m19s137, e o surpreendente Ivan Capelli, da March: o outro piloto da equipe, Maurício Gulgemin, terminou o treino em 28a e não conseguiu a classificação para a corrida.
O sábado não foi bom para os demais brasileiros, por sinal. Roberto Pupo Moreno, da Coloni, ficou com a 30a marca e também não se classificou. Nelson Piquet, da Lotus, foi o 26a o que lhe valeu, ao menos, a última posição no grid de largada.
DOMINGO PERFEITO
Contudo, o domingo, 28 de maio de 1989, seria um dia histórico para o automobilismo nacional. Não apenas pela vitória de ponta a ponta de Ayrton Senna no Grande Prêmio do México, conquistada com uma performance tecnicamente perfeita, apesar das dificuldades da pista, e ainda com direito a uma vantagem de 56 segundos sobre Alain Prost, que acabou na quinta colocação. Mas também pelo triunfo de Emerson Fittipaldi nas 500 Milhas de Indianápolis, clássica prova da Fórmula Indy.
Fiquei emocionado. Ser duas vezes campeão de Fórmula 1 e ganhar em Indianápolis é o máximo para qualquer piloto, e Emerson merece. Ele passou por uma época dificílima pelo descrédito geral das pessoas e voltou por cima, afirmou Ayrton Senna, novo líder isolado do campeonato de Fórmula 1. Hoje é um grande dia para o Brasil, para ele e para mim.