GRANDE PRÊMIO DA INGLATERRA DE 1984; O NOVATO AYRTON SENNA ROUBA A CENA

Ayrton Senna no Grande Prêmio da Inglaterra de 1984

Com sua Toleman no limite, o novato Senna rouba a cena.

Niki Lauda vence em Brands Hatch, mas é Senna quem leva o público inglês ao delírio com um alucinante terceiro lugar.

Depois de três anos pilotando nas fórmulas britânicas, Senna já conhecia bem o circuito de Brands Hatch, palco do Grande Prêmio da Inglaterra de 1984. Mas a primeira sessão de treinos lhe mostrou algo que ainda não tinha testemunhado de perto: um acidente fortíssimo na Fórmula 1, justamente de seu companheiro de equipe, o venezuelano Johnny Cecotto, que bateu com violência sua Toleman no guard rail e teve fraturas nas duas pernas.

Quando vi o Ceccoto acidentado e sendo retirado do carro, decidi guiar com cuidado. Foi uma cena terrível, nunca vi igual na minha vida, ele com as duas pernas esfaceladas, deitado no chão, declarou ao jornal O Globo de 21 de julho de 1984. Mesmo com essa terrível impressão, consegui o melhor tempo com um carro que funcionava bem. Estava bem nervoso, outra razão para que tomasse os maiores cuidados.

Senna terminou o treino da sexta-feira com o quarto melhor tempo; no sábado pela manhã, porém, viu o turbo e o motor da Toleman estourarem e só conseguiu entrar na sessão de classificação na reta final. Então, com muito tráfego, não pôde melhorar o tempo e caiu para a sétima posição no grid. A pole ficou com Nelson Piquet, da Brabham, que necessitava da vitória para não deixar Alain Prost e Niki Lauda, da McLaren, se distanciarem na tabela de classificação.

PÓDIO NA RAÇA

Disputado em 22 de julho de 1984, o GP da Inglaterra teve três lideres. Piquet, que ficou a frente até a interrupção da prova, na 11a volta, após um acidente com a RAM de Jonathan Palmer, Alain Prost, que na relargada partiu para cima do brasileiro e assumiu a ponta; e, finalmente, Niki Lauda. O austríaco, que ultrapassara Piquet na 28a volta, herdou a liderança com o abandono de Prost, dez voltas depois, e manteve-se em primeiro até a bandeirada final. Em segundo, chegou Derek Warwick, da Renault.

Emoção maior aconteceu na disputa que acabaria determinando uma vaga no pódio – envolvendo Senna, René Arnoux, da Ferrari, e Elio de Angelis, da Lotus. O italiano roubou a posição do francês com facilidade, mas quando chegou a vez do brasileiro, Arnoux fez jogo duro, deixando Ayrton inconformado. Foi incrível, ele deixando passar o De Angelis e me barrando daquela maneira. Fez de tudo, e parecia até disposto a bater, só para não me deixar passar. Por fim, acabou inclusive batendo levemente, mas passei, relatou Senna ao enviado de O Globo, JANOS LENGYEL.

Com o apoio do público inglês e extraindo o máximo de sua Toleman, Senna foi então para cima de Elio de Angelis – e a ultrapassagem veio a apenas oito voltas da bandeirada.

Aí já era um outro problema. O carro dele tinha mais potência e tive de esperar o momento certo para desferir o ataque final, na saída da reta dos boxes. Foi quando eu vi o Piquet perdendo posições e subi para terceiro. Piquet acabou em sétimo.

ALEGRIA, ALEGRIA

Com a vitória, Niki Lauda não apenas colou em Prost na briga pelo título – 34,5 pontos a 33 – como ainda quebrou o recorde histórico de pontos na Fórmula 1, ultrapassando Jackie Stewart. Vencer em Brands Hatch é sempre um feito importante. Não há piloto que não fique emocionado diante desse imenso público, apreciador de uma boa pilotagem. E essa vitória me leva perto da possibilidade de ganhar mais uma vez o título.

Mas o mais feliz, disparado, era Senna, que subiu ao pódio pela segunda vez na Fórmula 1 e ensopou Lauda  e Warwick de champagne. Era um Ayrton descontraído, bem diferente daquele que recebeu o troféu de segundo lugar no GP de Mônaco, como o próprio confessou a Folha de São Paulo.

Foi a primeira vez que fiz uma festa no pódio. Naquela de Mônaco, eu estava mais irritado do que satisfeito.

 

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