Jo Ramirez, membro sênior da equipe McLaren, era muito próximo de Ayrton Senna e comenta das façanhas do Rei de Mônaco

Jo Ramirez e Ayrton Senna

A corrida seguinte, San Marino, mostrou o quão rapidamente a situação podia mudar. Prost venceu o jovem Schumacher, e Senna saiu depois de 42 voltas, com um problema hidráulico. Venceu Senna na Espanha e passou a liderar o campeonato, com trinta e quatro pontos contra trinta e dois.

Isso os levou a Mônaco, onde Prost tirou a pole de Schumacher, com Senna na segunda fila ( inevitavelmente ao lado de Hill ). Ayrton passou a noite antes da corrida pensando nas táticas disponíveis, pois eu tinha de lidar com a velocidade da Williams. Ele tentaria conservar os pneus porque, se Prost e Hill não fizessem isso, ele poderia ter uma vantagem no final.

Prost queimou a largada – talvez, pensou Senna instantaneamente, por causa da pressão mental que exerço sobre ele estando logo atrás no grid, ele estivesse desesperado para chegar á frente na primeira curva.

Prost estava em primeiro, na frente de Schumacher, e Senna, em terceiro. Prost manteve a liderança até a décima segunda volta, quando teve de dar uma parada como penalidade por queimar a largada. Schumacher liderou até a trigésima terceira volta, quando a suspensão ativa de seu Benetton quebrou, e Mônaco se abriu para o braço de Senna. Ele derrotou Hill por 52,1 segundos e obteve sua sexta vitória em Mônaco.

Ainda hoje, esse é considerado um recorde absoluto. Graham Hill, conhecido como Senhor Mônaco na década de 1960, conseguiu cinco vitórias. Prost conquistou quatro.

Na noite de 23 de maio de 1993, Senna liderava o campeonato com quarenta e dois pontos – Prost, trinta e sete, Hill dezoito. É possível que ele nunca tenha pilotado melhor e estivesse fazendo aquilo que apenas os melhores são capazes de fazer: criar algo a partir do nada.

Ele não conseguiria, é claro, fazer isso sozinho. As vitórias não acontecem simplesmente de um momento para outro, ele costumava dizer. Elas são o resultado da preparação e do trabalho harmônico da equipe.

É claro que todos sabiam que, a certa altura, Prost e os Williams voltariam a vencer, e isso aconteceu rapidamente. Alain venceu no Canadá ( Senna saiu, com problemas no alternador, no final da corrida, quando estava em segundo lugar ), na Inglaterra ( Senna em quinto ) e na Alemanha ( Senna em quarto ). Isso conferiu a Prost setenta e sete pontos e a Senna, cinquenta – e, na verdade, o campeonato já estava perdido.

Em Portugal, a décima quarta corrida, Senna anunciou que estava deixando a McLaren e indo para a Williams, e Prost anunciou que estava encerrando sua carreira como piloto. No dia seguinte, Alain terminou em segundo lugar no Grande Prêmio de Portugal ( perdendo para Schumacher ) e conquistou seu quarto campeonato mundial.

A essa corrida, seguiu-se a do Japão, onde Senna afirmou que o iniciante Eddie Irvine ( Jordan ) o havia atrapalhado e lhe deu um soco, embora ele – Senna – tenha vencido a corrida de Prost, e, então, encerraria a era McLaren-Senna em Adelaide.

Pouco antes da corrida, quando Ayrton estava sentado no carro, ele me chamou como se quisesse que eu verificasse seu cinto de segurança, conta Jo Ramirez. Achei aquilo estranho, porque ele sempre tinha um jeito próprio de ajeitar o cinto. Pus minha cabeça no cockpit, mas ele não queria que eu apertasse seu cinto de segurança – só não queria me dizer pelo rádio.

Ele disse: é estranho para mim pilotar pela última vez pela McLaren. Eu respondi: se é estranho para você, para nós é desolador. Esta é uma das mais importantes corridas da história da McLaren, porque, se você vencer, além de ser sua trigésima quinta vitória pela McLaren na F1, serão cento e quatro vitórias para a equipe ( uma a mais do que a Ferrari, o que tornaria a McLaren a escuderia de maior sucesso da história ).

Se você vencer esta corrida, vou te amar para sempre! Aquilo era só piada, sério, mas olhei seus olhos e vi que estevam marejados. Ele estava comovido – ele sempre se comovia. Pensei: ah, diabos! Não devia ter dito isso antes da largada.

Todos os pilotos têm uma habilidade básica: dividir suas mentes em compartimentos de forma a deixar um compartimento e entrar completamente em outro. Senna conseguia fazer isso nas corridas, pilotando com frieza ao mesmo tempo que gritava com veemência no rádio de bordo. Ele mudava, agora, do compartimento emocional para o do piloto.

Ele derrotou Prost por 9,2 segundos.

Surpreendentemente, terminou o campeonato mundial em segundo lugar: Prost, noventa e nove pontos, Senna, setenta e três.

No pódio, Prost e Senna apertaram as mãos, aquele Prost inimigo tão amargo, aquele Prost que tinha pilotado a última das suas cento e noventa corridas.

Diversas eras terminaram em 7 de novembro de 1993, e nada seria igual ao que havia sido antes.

Hoje em dia, se você for a Donington Park, verá, ao longo do caminho para o escritório central, no meio do gramado, uma estátua de Ayrton Senna com Juan Manuel Fangio, apesar de Fangio nunca ter feito uma corrida naquele circuito. De fato, ele realmente deu algumas voltas de demonstração, certa vez. O caso é que Tom Wheatcroft era um admirador de Fangio, e, ao fazer a estátua conjunta, Wheatcroft estava dizendo: este é o apogeu.

Há uma estátua de Nuvolari dez metros adiante, feita muito depois de Senna-Fangio. O velho circuito de 1938 fica do outro lado da cerca viva, mas não é mais usado. Foi o mais próximo que conseguiram colocar Nuvolari do lugar onde ele passava em alta velocidade, naquela faixa de asfalto.

Você pode, como as pessoas realmente fazem, parar e observar as estátuas. Você vai sentir algo extraordinário no contexto do automobilismo, que é a busca constante, frenética, por frações de segundo.

Essa coisa extraordinária está além do tempo.

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