O primeiro teste em um carro de Fórmula 1

Ayrton Senna

Williams voltou para a fábrica, mas não entrou gritando: este é o homem que temos de ter na nossa equipe. Em vez disso, teve de esperar onze anos para contratar Senna e, quando o fez, pagou-lhe uma fortuna. Nesse ínterim, Pye se lembra de um carro que uma certa equipe estava usando, o Sparton Fórmula 3. Era um carro exclusivo e eles não tinham dinheiro para mantê-lo. Mas batalhavam muito. Correram com pneus já usados em oito corridas e assim por diante, descreve Pye. Eles disseram a Senna: não temos absolutamente nenhuma ideia se esta coisa é boa, ruim ou indiferente: Ele disse: Vou pilotar e digo a vocês. Ele pilotou, entrou no box e disse: de fato, é muito bom. Ele podia fazer aquilo.

Logo ele faria outro teste importante, cortesia da Marlboro. A empresa estava investindo no automobilismo em diversos níveis e, sendo o principal patrocinador da McLaren, decidiu patrocinar Senna, Brundle e um jovem – e muito veloz – piloto alemão chamado Stefan Bellof, um dia de pilotagem em Silverstone, com um carro de F-1 da McLaren.

Tudo feito com muito profissionalismo, e a atenção da McLaren aos detalhes era evidente em todos os aspectos. Eles tinham até faixas especiais como os nomes impressos de cada pilotos, de forma, que, quando ele entrasse no carro, parecesse que o carro era dele. John Watson, que pilotava um McLaren em grandes prêmios, conheceu Senna naquele dia, Watson deveria sair com o carro e estabelecer um tempo, o parâmetro pelo qual os jovens seriam julgados. Depois disso, foi embora.

Brundle lembra que Senna deu duas voltas completas enquanto ele e Bellof deram apenas uma, mas a segunda volta de Senna terminou com o carro explodindo ao passar pelos boxes, só que ele manteve o pé no acelerador para passar por Ron Dennis. Lembro-me bem disso porque estava ao lado de Ron Dennis quando tudo aconteceu. Senna fez a Copse (a primeira curva), parou, com o motor estourado e fumegante, saiu do carro, pulou a mureta do box e perguntou a Ron qual tinha sido o tempo. Lembro-me claramente de Ron dizendo; acho muito difícil apertar o cronômetro quando o meu carro está soltando fumaça azul pela traseira e o piloto nem tenta diminuir a velocidade.

Mais Senna tinha sido rápido….

Ele se irritou com as insinuações de que tivera vantagem naquele teste porque, afinal de contas, já tinha pilotado um F-1 o Williams – antes, ao passo que Brundle e Bellof não tinham.

Aquela vez em que pilotei o Williams foi completamente diferente – pista, carro e pneus diferentes, reagiu Senna, A única coisa que eu podia contar como experiência era o fato de conhecer o ronco do motor! Ele tinha certeza de que, mesmo se tivesse pilotado o Williams, teria feito o tempo que fez no McLaren.

O campeonato britânico de Fórmula 3 chegava na última etapa, em Thruxton. Senna obteve a pole, Brundle saiu em terceiro, e o americano Davy Jones entre eles. A West Surrey Racing tinha selado a saída do radiador de óleo a fim de aquecer o fluído mais rapidamente. Isso fazia com que a temperatura do óleo chegasse ao normal em uma volta, em vez de em seis ou sete – uma tremenda vantagem. Na sexta volta, quando Senna liderava, a temperatura da água subiu, e ele afrouxou o cinto de segurança para alcançar a tampa e romper o lacre – algo que treinara na semana anterior. Entretanto, disse Senna, quando vi, estava quase na chicane e escorregando dentro do carro. Foi um momento de perigo, mas ele controlou o carro na chicane e venceu a corrida. Brundle chegou em terceiro, 8,53 segundo atrás.

Outras equipes de Fórmula 1, além da Williams, estavam curiosas para ver Senna conseguia fazer. A Toleman ofereceu-lhe um teste em Silverstone, do qual seu projetista. Roy Byrne, se lembra bem: já tinha ouvido falar dele, mas ainda não o conhecia pessoalmente, até que ele chegou a fábrica, antes do primeiro teste. Ele me deu a impressão de ser uma pessoa muito profissional e determinada, realmente agradável, mas totalmente dedicada ao que queria alcançar. Aquilo ficou claro desde o primeiro dia. (Continuaremos)