Ele parou no grid depois da volta de abertura em oitavo lugar – Prost liderando. Com um movimento controlado, rápido e contínuo, Senna foi atrás dele. Ayrton foi auxiliado pelo fato de que a Honda e o piloto de testes, Emanuele Pirro, cobriram enormes distâncias no circuito durante a temporada, o que lhe possibilitou, ter o motor regulado corretamente para a corrida. Como consequência, Senna não precisou se preocupar com o combustível. Na quarta volta, conseguiu o quarto lugar; na décima primeira, o terceiro; na vigésima, o segundo. Ele foi se colocando cada vez mais perto de Prost, raciocinando que, se conseguisse ficar logo atrás dele quando começassem a ultrapassar os retardatários, poderia ter a oportunidade de ultrapassar.
Isso aconteceu na vigésima oitava volta. Prost hesitou por uma fração de segundo atrás de um desses retardatários – e Senna passou. Ele liderou até o final, apesar da chuva nas últimas cinco voltas, o que tornava a pista extremamente traiçoeira. Quando passava nos boxes, gesticulava em direção ao céu, querendo dizer; parem a corrida!
Eles não pararam.
Uma reportagem diz que, quando ele cruzou a linha pela última vez, vencendo o campeonato, estava gritando tanto, que o pessoal da McLaren no box tirou os fones de ouvido.
Ele disse que tinha visto Deus na volta final.
Um repórter de TV o abordou e disse que Senna tinha sacrificado amizades para conquistar o campeonato e, agora que tinha feito isso, ele iria se tornar uma pessoa menos intensa?
Senna chorou.
Richard West, diretor comercial da McLaren, lembra-se bem de jogar com Senna um game de corridas da Sega, no dia em que ele venceu o campeonato. Seu carro vinha atrás de mim, batendo nas minhas rodas traseiras, e eu sabia que o jogo ia acabar em lágrimas. Faltando duas voltas para terminar, Ayrton colocou a mão sobre meus olhos e eu gritei: sai, sai! Naquela hora, havia dúzias, aliás, centenas de japoneses ao redor da máquina. Ele me ultrapassou – até hoje eu não sei como -, mas acabei cruzando a linha em primeiro.
Acabei de vencer o Ayrton Senna! E ele respondeu: bom, nesse caso, você é o campeão mundial. Ele pegou uma garrafa de cerveja de um japonês, colocou seu polegar no gargalo, agitou e espirrou cerveja em todo o meu cabelo e no meu macacão. Fiquei com cheiro de bar até me trocar. Era típico daquele cara: a pressão ia embora e, de repente, ele era um ser humano incrivelmente caloroso e divertido.
West lembra-se de algo mais na última corrida, Austrália, duas semanas depois.
Tínhamos de ir a um jantar black-tie de premiação antes do GP. Ayrton sempre ia a esses eventos desde que: a) fosse devidamente informado, e b) soubesse da importância deles. Não fazia isso por arrogância.
Sentia que tinham de valer a pena. Se fossem cinquenta caras da Shell que tivessem fornecido tecnologia e apoio, ele iria.
Ele, Alain Prost, Ron Dennis e eu fomos. Pediram-nos que subíssemos ao palco e fizéssemos uma pequena apresentação. Eu tinha feito minha pesquisas sobre quem eram os figurões, os premiados e assim por diante.
Antes de irmos, Ayrton me chamou. Fiquei num canto da sala com ele, que, muito discretamente, me perguntou: quem é quem nas outras mesas? Expliquei, mesa a mesa, quem eram aquelas pessoas e o que elas faziam. Ok, disse ele, está ótimo.
Apresentei-o a Ron Dennis, Ron disse umas poucas palavras e voltou até onde eu estava. Fiz alguma perguntas sobre Alain Prost e me dirigi a Senna. Eu disse: Adelaide nos recebeu muito bem; você quer dizer alguma coisa?. Ele pegou o microfone com muita calma, agradeceu a todos por lá estarem e acrescentou: também gostaria de agradecer a….. e começou a citar os nomes de todas as pessoas sobre quem eu havia lhe falado. Ele olhava com sinceridade cada uma delas enquanto as agradecia.
Quando Ayrton voltou para a parte de trás do palco, eu disse: isso foi realmente impressionante. Obrigado por isso: Ele respondeu: todas essas pessoas fizeram um esforço para estar aqui: você fez um esforço para fazer o que fez e também se esforçou para me apresentar corretamente. O mínimo que posso fazer é responder profissionalmente e ser visto sob a mesma luz que Ron e a equipe são vistos. É por isso que nós vencemos o que vencemos e estamos fazendo o que estamos fazendo.