O TÍTULO MAIS PERTO DO QUE NUNCA; A LUTA CONTRA O JÁ GANHOU

Ayrton Senna vence o GP da Bélgica 1988

Vitória em Spa-Francorchamps deixou Ayrton Senna em situação tão privilegiada que até Alain Prost, após a prova, jogou a toalha.

Ser o número 1 havia se tornado uma situação rotineira para Ayrton Senna em praticamente toda sua carreira no automobilismo, do kart á Fórmula 3, com o brasileiro colecionando vitórias e títulos em todas as categorias de acesso. Nos quatro primeiros anos de Fórmula 1, porém, seus dias de protagonismo ficaram reservados a corridas específicas, graças a desempenhos fora de série em carros que nunca estiveram no primeiro escalão. No panorama geral, Ayrton era sempre um penetra na briga pelo campeonato – uma festa para a qual, na prática, ainda não havia sido convidado.

A chegada á McLaren representou, finalmente, sua oportunidade de ingressar nesse seleto grupo, que, em 1988, ficou reduzido apenas a ele e a Alain Prost, seu companheiro de equipe. No início dessa disputa, o francês se deu melhor, mas a essa altura Senna já havia equilibrado – ou melhor, virado – o jogo contra o bicampeão mundial. Estou mais tranquilo. Tenho hoje uma estrutura técnica e psicológica muito melhor do que no início do ano.  Prost tinha três vitórias e eu tinha uma, afirmou. Sofri uma pressão enorme.

Ás vésperas da disputa do Grande Prêmio da Bélgica, o placar mostrava seis vitórias para Senna e quatro para Prost. Para Ayrton, uma das chaves dessa virada foi seu acidente no Grande Prêmio de Mônaco, quando bateu sozinho no guard rail e perdeu uma corrida quase ganha. Descobri uma coisa que estava ali e eu não via: uma falha de capacidade de concentração. Acho que isso está resolvido.

As dificuldades naturais da transição para a McLaren, que já tinha estrutura vitoriosa – e um veterano talentoso como piloto – também já estavam aparentemente resolvidas. Aprendi muito sobre a equipe, sobre Alain e sobre mim mesmo desde o início do ano, garantiu Senna, que afirmou ter entendido melhor o funcionamento do companheiro de escuderia, completamente avesso á  demonstração de emoções. Nossa relação vem melhorando sempre por causa disso. Eu agora sei que ele é uma pessoa gelada, que não deixa transparecer suas verdadeiras reações. Agora, por exemplo, que ele está vivendo uma pressão enorme, continua aparentemente tranquilo. No início do ano apanhei muito por causa disso, mas estou aprendendo a conhecê-lo.

Com a obrigação de vencer transferida para as costas do companheiro, Senna corria mais tranquilo. Não sinto qualquer pressão por estar na frente. O problema seria, talvez, o clima de já ganhou, mas eu não entro nessa. Sei que ainda não ganhei absolutamente nada.

A LUTA CONTINUA

Após vencer o GP da Bélgica e aproximar-se ainda mais da conquista de seu primeiro mundial de Fórmula 1, Ayrton reforçou essa mensagem e fez questão, ainda no autódromo, de acalmar os ânimos da torcida brasileira. Quando se tem um adversário como o Alain, ninguém pode se considerar vitorioso antes do tempo. É claro que estou agora mais perto do título que sempre desejei, mas a luta vai prosseguir, curva a curva, mesmo a metro, até o fim.

O CAMPEONATO ACABOU

Curiosamente, porém, ainda nas dependências de Spa-Francorchamps, uma voz pedia licença para discordar de Ayrton – e afirmar que, sim, o campeonato já havia terminado. Ninguém menos do que….. Alain Prost.

Para ter anda alguma possibilidade de ganhar o campeonato, eu deveria ter vencido está corrida. Para mim, o título está perdido. É preciso ser lógico: é virtualmente impossível vencer quatro das cinco corridas restantes. Acho que o Ayrton tem sido mais rápido que eu e, merecidamente, já é o campeão de 1988. E muitas outras pessoas devem pensar assim, afirmou o francês, acrescentando que, de qualquer forma, pretendia endurecer nas corridas que restavam.

Alguns poderiam acreditar que suas declarações eram apenas estratégia para fazer Senna relaxar – e viabilizar uma improvável reviravolta -, mas Prost parecia mesmo convencido do que falava. É bom para o esporte, pois se trata de uma conquista justa, o que nem sempre acontece. É bom para a McLaren, que ano que vem terá dois campeões mundiais.

E bom também para mim, pois agora a pressão vai diminuir e podemos trabalhar com mais tranquilidade no desenvolvimento do carro aspirado para a próxima temporada.

Próxima temporada? Calma, professor. Ayrton ainda tinha um título para ganhar.

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