Preparação para a terceira corrida na Europa, uma corrida de apoio ao Grande Prêmio da Bélgica

Ayrton Senna

Uma semana depois, eles voltaram a Zolder para a terceira corrida do campeonato europeu, uma corrida de apoio ao Grande Prêmio da Bélgica. Classificando-se em segundo lugar para o Grand Prix, o canadense Gilles Villeneuve sofreu um acidente terrível ao bater em um carro retardatário. Foi declarado morto pelo hospital ás 21h12. Villeneuve enfrentava riscos- as pessoas próximas e ele próprio diziam que ele adorava correr riscos – e, com o tempo, o público viria a comparar Senna a Villeneuve, mas com uma diferença sutil: afirmando que Senna não percebia os riscos porque nunca tinha participado de uma corrida em que havia acontecido uma fatalidade.

É claro que ele já tinha participado. O público estava se esquecendo de Zolder.

De fato Senna realmente compreendia os riscos. Certa vez, fez uma pergunta retórica, uma queixa, que deixou isso claro. Só um idiota faria isso sem entender. Fez uma pausa. Você acha que sou idiota?

Silêncio.

Villeneuve tinha ido a Zolder em seu helicóptero de sua casa no sul da França, e Rushen se lembra de ter passado com Senna pelo helicóptero a caminho do circuito. É uma coisa da qual muitos outros também se lembram: ter passado por lá e percebido que Villeneuve estava realmente morto, que não voltaria mais. Era por isso que o helicóptero ainda estava lá, um epitáfio estático e inevitável.

Outro acontecimento significativo teve lugar em Zolder, Senna se apresentou a Nelson Piquet, que o esnobou. Na volta, ele disse a Rushen: eu vou vencer aquele bastardo algum dia. Nascia uma inimizade, que cresceu conforme Piquet desprezava Senna cada vez mais nos anos seguintes. Será que era a velha rivalidade entre Rio, a cidade natal de Piquet, e São Paulo? Será que era por que o piloto mais velho ressentia o mais novo? Será que era rivalidade natural entre dois homens competitivos da mesma nacionalidade? Ou será que era algo mais banal: eles simplesmente não gostavam um do outro?

Ou será que eram todas essas coisas somadas?

Nesse interim, Keith Sutton estava publicando artigos sobre Senna, e muitos dos dirigentes da F-1 começaram a telefonar, entre eles Alex Hawkridge, da pequena equipe Toleman, que conhecia bem Rushen.

Hawkridge, um astuto descobridor de jovens talentos, tinha observado Senna e não vira nada como ele desde Jim Clark, piloto lendário e quase mítico da Lotus, nos anos 1960. Hawkridge e Senna se encontraram e o resultado foi uma oferta oportuna da Toleman com a qual o jovens pilotos nem sequer ousavam sonhar. A Toleman iria financiar a próxima temporada de Fórmula 3 de Senna, o último estágio antes dos grandes prêmios de F-1, desde que ele assinasse uma cláusula para pilotar para a equipe na F-1. Ele declinou, explicando que ele mesmo poderia certamente levantar o dinheiro para a próxima temporada, e, se vencesse o campeonato de Fórmula 3, provavelmente receberia ofertas de equipes maiores.

Hawkridge começou a perceber que aquele jovem a sua frente, ainda competindo na segunda menor categoria do automobilismo britânico, não estava meramente interessado em chegar a F-1 e ver se conseguiria sobreviver na categoria. Ele tinha a intenção de vencer o campeonato mundial e dominar a F-1.

E esse foi o choque que Alex Hawkridge ainda discute aos sussurros um quarto de século depois. Senna realmente venceu. E venceu e continuo a vencer. Entre 31 de maio e 12 de setembro, ele correu quinze vezes e venceu treze. As duas que perdeu? Uma batida em Hockenheim, que não foi culpa dele, e um segundo lugar em Snetterton, porque, com a pista molhada, escolheu os pneus errados.

Um pouco antes de realizar esses feitos, houve outro sinal. Senna participou de uma corrida de celebridades promovida pelo salão de automóvel de Sunbeam Talbot, em Oulton Park. Como os carros eram mais ou menos iguais, era possível avaliar com precisão o desempenho dos pilotos, alguns deles muito mais experientes do que Senna. Um deles, Chuck Nicholson, lembra-se de que Senna, largou com perfeição, e nós não o vimos mais. Senna não só conseguia se adaptar de um carro de corrida para outro, mas, ao que parece, a qualquer carro.

Essa adaptação surpreendeu um jovem observador chamado Andy Wallace, um piloto de Fórmula Ford 1600 que estava treinando em Silverstone e tivera problemas com seu Van Diemen. Naquele dia, Senna também estava lá, mas treinando com o Fórmula Ford 2000, é claro. Pediram se ele poderia ajudar dando uma volta no 1600, e em quatro voltas, ele já tinha ido meio segundo mais rápido do que eu havia conseguido o dia inteiro com meu próprio carro, recorda Wallace. O que ele fez naquele dia foi inédito.

( Continuaremos )