Ayrton Senna e a ligação que fez para Ralph Firman para correr na Fórmula 2000

Ayrton Senna

De volta a East Anglia, Senna se encontrou com Firman e Rushen. Este último, com seu sotaque típico da região e seu entusiasmo contagiante, estava prestes a levar o choque da sua vida. Senna afirmou que Rushen tinha lhe oferecido dez mil libras para ele correr aquela temporada e estava pronto a aceitar a oferta. Firman, que não sabia de nada a respeito daquilo, mas que sabia o quão insignificante era a proposta, ficou arrasado com o preço da barganha – no entanto, Senna não mudou de opinião, e Rushen também não podia mudar.

Aquele não foi o choque, diga-se de passagem. Ele viria em um instante.

O sócio de Rushen, Robin Green, ainda não conhecia Senna, e, naquele momento, quase no fim de fevereiro, aguardava sua chegada na fábrica da equipe. Senna estava usando um velho macacão com o nome Chico Serra, e Green pensou: quem diabos é esse cara? Nem macacão ele tem. Green, um homem agradável e perspicaz, deduziu que, como Senna encerrava efetivamente sua carreira no fim da temporada anterior, jogara fora seus macacões. Afinal de contas, não precisaria deles novamente. Ao voltar, não tivera tempo de comprar um macacão e pegou emprestado de seu amigo Serra.

Os carros de Fórmula 1600 não tem aerofólio, mas os de Fórmula 2000 si, o que os torna radicalmente diferentes, pois, quando se altera o aerofólio, afeta-se o desempenho do carro. Rushen se dispôs a ensinar Senna a respeito do aerofólio. Sem saber quanto tempo isso iria demorar ou quanto tempo seria difícil, preparou sua aula de forma a dar a Senna todas as variáveis possíveis.

Muito bem, disse Rushen. Vamos correr com os aerofólios apenas na frente, então, com aerofólios na frente e atrás, e, depois, sem nenhum,

Senna deu cerca de trinta voltas, explorando as diferenças e suas consequências, depois saiu do carro e disse, de pronto: já sei tudo sobre aerofólios.

Rushen concluiu mais tarde que Senna não estava se exibindo nem sendo arrogante – estava simplesmente expressando um fato. Ele realmente sabia. Rushen logo descobriria a sensibilidade de Senna com relação ao carro. Durante os treinos, entrou nos boxes e disse que um dos pneus precisava de mais duas libras de pressão.

Quando Rushen checou, viu que Senna estava certo. Sempre que isso acontecia, Rushen era abatido por uma forte incredulidade: se Senna podia dizer como estava o carro com aquele grau de precisão, o que mais ele poderia fazer? Bem, poderia sair com o carro e quebrar o seu próprio recorde de Snertterton em quatro ou cinco voltas, parar no box e ainda ter tempo para contar que o pneu traseiro esquerdo estava se comportando assim ou assado em tal curva – o que, obviamente, era inacreditável.

Esse foi o choque.

Senna morava com outro amigo e piloto brasileiro, Maurício Gugelmin, que estava na Fórmula Ford 1600. Naquela temporada, ele competiria em dois campeonatos, o britânico e o europeu. Ele também tinha um companheiro de equipe, Kenny Andrews. Seu principal rival era um rapaz de Norfolk, chamado Calvin Fish, que achou Senna um concorrente duro, porque tinha absoluta autoconfiança. De fato, entre eles haveria algumas batalhas encarniçadas .

Rushen destaca que seu Van Diemen tinha um motor Nelson que era brilhante e, embora os pneus Dunlop que a equipe usava não fossem excepcionais, uma vez testados e regulados em conjunto, aquilo valia um segundo, ou um segundo e meio, de vantagem sobre os demais. Isso significa que tinham o carro de que precisavam, o motor de que precisavam, os pneus de que precisavam e o piloto de que precisavam. Juntos, eram uma sensação.

Senna conquistou a pole, fez a volta mais rápida e venceu as seis primeiras corridas.

Rushen explica: vencíamos corridas com até dezessete segundos de vantagem. Aquilo era surpreendente.

A primeira derrota aconteceu no detestado e detestável circuito de Zolder, onde, embora Senna tenha largado na pole, o motor quebrou depois de três voltas. Aquela sua primeira corrida fora da Grã-Bretanha, algo que gerava problemas com idioma, transporte e todo um novo conjunto de pilotos: os melhores do continente. Nesse caso, os quatro campeonatos mundiais de kart que Senna disputara na França, em Portugal, na Bélgica e na Itália, com certeza, ajudaram. Ele sabia o que fazer. Largou na pole, na frente de Cor Euser, campeão europeu, holandês e de Benelux de Fórmula Ford 1600. Senna estabelecera um contexto mais amplo para sua carreira ao se classificar na pole position em três breves voltas.

A primeira corrida para a qual ele não conseguiu a pole a de Malory Park, em maio, pois seu motor estava com problemas. Mesmo assim, fez a volta mais rápida e venceu com uma vantagem de oito segundos. ( continuaremos )