Em um mesmo fim de semana, Senna se igualou a Jim Clark com o maior número de poles na Fórmula 1; venceu o GP do México: e alcançou a liderança isolada do Mundial.
Já estava quase virando rotina. Ao fim do último treino de classificação, Ayrton Senna era o dono do melhor tempo geral e garantia a pole position. Nas três últimas corridas de 1988 ( Espanha, Japão e Austrália ), acontecera assim: nas quatro provas iniciais de 1989 ( Brasil, San Marino, Mônaco e México ), idem. No total, portanto, já eram sete provas seguidas com Senna saindo na primeira posição. Mas no México havia uma novidade.
A pole conquistada por Ayrton em Hermanos Rodriguez era a 33a da carreira do brasileiro, o que lhe fazia igualar uma marca histórica: a de maior número de poles, ao lado do bicampeão mundial Jim Clark.
É um dia histórico para mim. Coisas desse tipo aumentam ainda mais a minha motivação e me estimulam a querer sempre mais, garantiu. Sou movido a desafios e o próximo será superar a marca de Jim Clark – algo que, faltando 12 provas na temporada, muito provavelmente seria conquistado ainda naquele ano. ( Spoiler: aconteceria já na corrida seguinte, o Grande Prêmio dos Estados Unidos ) Sei que tenho de fazer sempre mais. Na Fórmula 1, as pessoas têm memória curta e sinto-me sempre estimulado a me superar.
MISTURA FINA
Depois da prova, Senna ganhou novos motivos para celebrar. Sua vitória no México, a terceira consecutiva na temporada de 1989 e 17a de sua carreira, foi alcançada de forma brilhante. E começou a ser desenhada antes mesmo da largada, aliás, das largadas: foram duas, devido á bandeira vermelha desfraldada após um acidente envolvendo Stefano Modena ( Brabham ) e Alex Caffi ( Dallara ).
Tive de fazer duas boas largadas, e isso faz com que a adrenalina vá lá em cima. Mas no resto foi tudo perfeito e considero que a vitória começou na véspera, com o acerto do carro e a escolha dos pneus, afirmou Senna, que optou por uma mistura entre os compostos mais duros e mais macios. Eu não tinha medo do desgaste dos pneus.
O temor era a formação de bolhas nos mais macios, e por isso optei pela mistura. Alain escolheu os macios, que são bem mais velozes, mas minha opção se mostrou mais acertada. Preferi não ser tão veloz, mas estar seguro de chegar ao fim sem pit stops.
Por conta disso, no início da prova, Senna não conseguiu abrir grande vantagem para Prost e Mansell, que vinham mais velozes com pneus macios. Tinha de manter um ritmo constante até a pista ter mais borracha e segurar o carro. Por isso Alain chegou tão perto, mas seus pneus não suportaram e fiquei aliviado.
Com isso, Prost precisou ir ao boxes na 20a volta para colocar o pneu duro nas duas rodas do lado esquerdo. Só que, por um erro da McLaren, um novo pneu macio foi colocado na roda dianteira. Assim, o francês precisou retornar aos boxes na 35a volta, o que acabou com qualquer esperança de vencer a prova. Prost terminaria na quinta posição. Não havia jeito de competir. Esta foi uma má corrida para mim, afirmou, resignado.
SÓ CINCO?
Com a vitória no México, Ayrton Senna isolou-se na liderança do campeonato, com 27 pontos contra 20 de Alain Prost. A imprensa já começava a fazer contas: caso Ayrton Senna vencesse cinco das 12 provas restantes na temporada, garantiria matematicamente o título do Mundial, independente dos resultados de Prost.
Só cinco?, brincou o brasileiro, para em seguida comentar o nível de dificuldade dessa missão. De fora parece fácil, mas se manter o mais rápido e acertar sempre a regulagem do carro e a escolha dos pneus não é mole. A Honda está trabalhando duro para manter essa vantagem, nós também, e ainda resta muita competição pela frente. Mas se consegui o título ano passado, posso repeti-lo agora.
Alguém pode bater Ayrton Senna?, perguntou um jornalista francês ao brasileiro. Senna foi tão rápido na resposta. Qualquer um. Desde que tenha o mesmo equipamento e trabalhe duro.