Ron Dennis não se lembra como conheceu Senna, mas se lembra que Senna foi vê-lo na McLaren para conversar sobre sua carreira. Dennis tinha sido mecânico na empresa e chegara a ser diretor, convencendo, ao longo desse caminho, o lendário Lauda a sair da aposentadoria. Dennis já era um dos homens mais poderosos da F-1 e tinha a ambição de tornar a McLaren uma empresa internacionalmente reconhecida pela tecnologia e pelos carros de corrida.
Foi um pouco antes de ele começar na Fórmula 3, recorda Dennis. Explicou o que estava fazendo, e ofereci custear sua temporada de Fórmula 3, com a condição de ele assinar uma opção de pilotar na nossa equipe de F-1. Com um jeito divertido, Senna recusou e disse que, se eu garantisse a ele um lugar na F-1, o pagasse e depois o liberasse, ele assinaria aquela opção. É claro que Senna se sentou para a reunião na qualidade de piloto de Fórmula 2000, e eu, na de chefe de uma equipe de F-1, mas a única forma de ele me dar uma opção seria eu lhe oferecer um acordo consistente!
A seu favor, Senna tinha autoconfiança e a crença de que seria capaz de demonstrar na Fórmula 3 um nível de sucesso que o tornaria atraente a uma equipe de F-1.
A temporada de 1983 foi equilibrada de uma forma quase primorosa: a tradição e a experiência da West Surrey Racing complementadas pelo glorioso talento de Senna contra a irreverente ambição da Eddie Jordan Racing complementada por outro jovem piloto de Norfolk, Martin Brundle. O que aconteceu quando essas duas poderosas forças se confrontaram foi de tal intensidade que, na Grã-Bretanha, a disputa ganhou publicidade nacional. Na época, os grandes prêmios eram considerados o maior dos esportes menores, e ninguém fora do automobilismo tinha ouvido falar, de fato, em Fórmula 3.
Senna começou a temporada vencendo as primeiras nove corridas. Conquistou a pole em oito GPs e fez a volta mais rápida em sete. Brundle, de fala macia e com o típico sotaque de Norfolk, acabou em segundo nas cinco primeiras corridas, de forma que Senna tinha 48 pontos e Brundle, 32; e, depois das nove, Senna acumulou 88 e Brundle, 54, Em outras palavras, nas onze corridas restantes, Brundle ainda poderia alcançá-lo.
Eddie Jordan – showman, vendedor, motivador, psicólogo amador e orgulhoso detentor de habilidade irlandesa de convencer – começou a fazer a cabeça de Brundle. O fato é que trabalhamos tanto nisso que ele acabou convencido de que era tão bom quanto Senna.