Sem poder competir com as Williams, Senna superou Prost e manteve a primeira colocação provisória na tabela de classificação.
Ayrton Senna, Lotus, 27 pontos. Alain Prost, McLaren, 26 pontos. Nelson Piquet, Williams, 24 pontos. Esta era a parte de cima da tabela de classificação do Mundial de pilotos antes do Grande Prêmio da Inglaterra de 1987. Ayrton Senna, porém, alimentava poucas esperanças de estar no topo da lista depois da corrida. Só se batermos os três, né?, admitiu aos jornalistas, no relato publicado por Renato Mauricio Prado em 12 de julho, em O Globo. Viram a tabela dos tempos? Estou um segundo atrás do Piquet e do Mansell. Não tem jeito. A diferença é muito grande.
Com a sequência de provas em circuitos rápidos – iniciada na corrida anterior, em Paul Ricard -, Ayrton, que havia buscado na raça duas vitórias nos circuitos de rua de Mônaco e Detroit, sabia que eram mínimas as chances de uma nova façanha. E não necessariamente porque a Lotus estava tão mal – a questão é que a concorrência seguia muito á frente. Até que o carro está melhorando e a evolução nos vem deixando satisfeitos. Mas ainda não dá para competir com a Williams numa pista rápida como Silverstone, explicou. O problema é de aerodinâmica – que nos deixa mais lentos e, o que também é grave, consumindo mais do que as McLaren e as Williams. Se não tomar cuidado, posso ficar no meio do caminho, declarou, ciente dos problemas de consumo de combustível de sua Lotus beberrona.
Nos treinos de classificação, como previsto, a Williams conquistou as duas primeiras posições; na segunda fila, Ayrton ficou á frente de Alain Prost. Mas isso também não iludia o brasileiro.
Na corrida, o carro do Prost cresce muito. Não dá pra brigar com esses três, não. O que nos deixa satisfeito é que antigamente a diferença entre o nosso carro e os deles era de 2 a 2,5 segundos de pistas rápidas como essa. Agora, já está em um segundo. Se trabalharmos direitinho, pode ser que na Alemanha a gente já esteja mais perto, e, na Hungria, quem sabe, brigando de igual para igual. Aí dá para pensar em título mundial.
Era Ayrton voltando ao modo otimista e até brincando com a curiosa possibilidade matemática de que, ao final da corrida de Silverstone, os quatro pilotos de ponta ficassem empatados na tabela com 30 pontos. Isso aconteceria caso se repetisse a classificação final do Grande Prêmio da França, disputado em 2 de julho em terceiro e Senna em quarto. Quem sabe um deles não quebra e eu não chego um pouquinho na frente?
BOCA SANTA
Não deu outra. Assim como em Paul Ricard, Mansell recebeu a bandeira quadriculada, seguido por Piquet. Mas Alain Prost abandonou na 54a volta, permitindo a Ayrton manter a terceira posição na corrida e a liderança do campeonato, com 31 pontos, apenas um a mais do que Piquet e Mansell, que agora dividiam a segunda colocação com 30.
Aos poucos, o carro vai melhorando. Instalamos um aerofólio diferente antes da corrida, que tinha chegado da fábrica de madrugada, e isso aprimorou nosso rendimento.
Estouramos um motor no warm up, de manhã, o que nos impediu de ajustar o carro ainda mais, mas ele ainda assim estava melhor. Se não fosse o novo aerofólio, eu teria ficado duas voltas atrás das Williams, em vez de uma, declarou Senna, no registro do Jornal do Brasil de 13 de julho.
De fato, o piloto da Lotus percebeu que tentar acompanhar as Williams seria uma busca infrutífera e que, ao contrário, o prejudicaria pelo consumo de combustível e de pneus. Meu negócio era brigar com o Prost e, como o carro dele é melhor que o meu – embora a diferença não seja tão grande quanto para as Williams – pensei em ganhar no blefe dos pneus. Ia dando certo, mas nem foi decisivo, porque Alain quebrou, relatou para O Globo após a corrida.
Por enquanto, não dá nem para sonhar em brigar com a Williams. Nem eu, nem ninguém. Elas estão andando muito, mas muito mais do que os outros. Este Grande Prêmio mostrou bem com está a situação em pistas de alta velocidade. Há a corrida das Williams e a dos outros. Nesta última, fui o primeiro colocado. Até que não está mal, né?