Com performance inacreditável na reta final da corrida, Mansell roubou a ponta de Piquet e venceu pela primeira vez em Silverstone.
Todos os fãs de Fórmula 1 ainda se lembram de como havia terminado a disputa fraticida entre os dois pilotos da Williams, Nigel Mansell e Nelson Piquet, no Campeonato Mundial de 1986: ambos morreram juntos na praia, entregando o título de bandeja para Alain Prost, da McLaren. Inconformado, Frank Williams deixou claro que não permitiria a repetição do erro na temporada de 1987 – e, até poucos dias antes do Grande Prêmio da Inglaterra, sétima etapa do campeonato, as desavenças entre seus corredores realmente estavam sob relativo controle.
Depois que Piquet soltou o verbo no The Times, entretanto, a chapa esquentou de novo, para desespero de Frank.
O Mansell é meio maluco. Quando perde a cabeça, fica totalmente fora de controle. Não viram a maneira como me ultrapassou na França? Ele é perigoso, afirmou o brasileiro, que respondeu ás críticas a seu desempenho no Grande Prêmio da França, disputado no início de julho. Errei em Paul Ricard? E quantas vezes Mansell errou na sua carreira? Ou será que foi grande acerto se enroscar com Senna na primeira volta em Spa?, perguntou. Alguém tem dúvidas de que a Williams está dividida em duas? Foi por isso que perdemos o campeonato do ano passado, o que pode acontecer de novo nesta temporada. São dois engenheiros, dois times de mecânicos, dois tudo. E é um contra o outro mesmo.
Quando as equipes chegaram em Silverstone, em julho de 1987, a polêmica já dominava o ambiente. Piquet confirmou as declarações, mas reclamou do exagero da repercussão, especialmente entre a imprensa britânica.
Disseram até que convoquei uma entrevista exclusiva apenas para arrasar com o Mansell. Não foi nada disso.
Os jornalistas é que me descobriram no hotel, no café da manhã, foram perguntando e fui respondendo. É sempre assim: no Brasil arrumam briga minha com o Senna, na Inglaterra, com o Mansell.
O inglês, dessa vez, optou por não aumentar a controvérsia. Minha resposta será dada unicamente na pista. Não estou nem um pouco preocupado com o que ele anda dizendo, declarou no primeiro dia de treino.
SÁBIA DECISÃO
Com a trégua momentânea ditada por Mansell, a rivalidade em Silverstone se manifestou exatamente onde deveria ser manifestada: na pista. A briga pela pole position – que ficou reservada, como era esperado, apenas ás dominantes Williams – foi eletrizante e durou até os últimos segundos da última sessão de classificação. Os dois pilotos da escuderia vinham fazendo voltas mais rápidas atrás de voltas rápidas; Mansell cravou 1m07s180, marca que parecia imbatível até que Piquet a superasse, com seus incríveis 1m07s110.
De volta ao asfalto, o inglês voltou a fazer boas voltas, mas ainda insuficientes para garantir a pole. Em sua derradeira tentativa, quase no estouro do cronômetro, Nigel vinha voando baixo, com parciais que lhe deixariam perto de um possível melhor tempo. Entretanto, a poucos metros da linha de chegada, Mansell rodou no chicane de Woodcote e saiu da pista em meio a uma nuvem de poeira. Enquanto o inglês esmurrava o volante, o brasileiro abria um sorriso no boxes. A pole estava garantida – era a primeira de Nelson Piquet na temporada.
Na terceira posição, a um quilométrico segundo de distância das Williams, vinha Ayrton Senna na Lotus, com 1m08s181. Alain Prost, da McLaren, completava a segunda fila, com 1m08s577.
QUEM RI POR ÚLTIMO…..
Domingo, 12 de julho de 1987. O público de Silverstone assistia a um passeio de Nelson Piquet. Dando sequência ao excelente desempenho dos treinos, o brasileiro disparou na largada e não deu a menor chance para o companheiro, que logo sumiu de seu retrovisor. Quando Mansell voltou de sua troca de pneus, na 36a volta, a vantagem de Piquet era de 28 segundos. Com isso, após consultar a equipe, que lhe garantiu a integridade dos compostos até o final da corrida, o líder decidiu então não fazer o pit stop – estratégia que Ayrton Senna havia adotado com sucesso no Grande Prêmio dos Estados Unidos. Mas as coisas não sairiam bem como o planejado.
Tudo porque Mansell, para delírio da torcida da casa, colocou a faca nos dentes e decidiu tirar, no braço, a enorme diferença entre ele e Piquet. Aproveitando o máximo dos pneus novos e pisando fundo sem cometer erros, o britânico baixou cada vez mais seus tempos. E assim, a três voltas do final, conseguiu encostar em Piquet. A ultrapassagem, até então improvável, foi inevitável. Festa na terra da Rainha: Nigel Mansell vencia pela primeira vez em Silverstone, seu segundo triunfo consecutivo no Grande Prêmio da Inglaterra, já que havia saído vencedor também em 1986, na prova disputada em Brands Hatch.
Enquanto os entusiasmados repórteres ingleses ouviam as declarações de Mansell, Piquet se lamentava para os jornalistas brasileiros. Se tivesse trocado os pneus, teria ganho. Quando foi sua vez de falar com a imprensa internacional, porém, Piquet optou por diplomacia. O que eu tenho que fazer é dar os parabéns ao Nigel. Ele fez uma corrida magnífica e não adianta ficar discutindo se eu venceria ou não se tivesse parado para trocar pneus.