Aposta de Nelson Piquet na nova suspensão automática da Williams deu resultado e deixou o brasileiro muito perto da conquista do título.
Antes dos treinos para o Grande Prêmio da Inglaterra sétima etapa do Mundial de Fórmula 1 de 1987, Nelson Piquet tomou uma decisão que mudou os rumos da temporada. O brasileiro da Williams, que até então não havia vencido nenhuma prova nem conseguido pole position alguma, optou por pilotar, pela primeira vez, o mesmo modelo de carro que Nigel Mansell vinha utilizando, de chassis 4 polegadas mais comprido. A diferença parecia pequena, mas se revelou crucial. Ao final da primeira sessão oficial em Silverstone, Piquet registrou o melhor tempo com sobras. Matei a charada, explicou aliviado.
Estava ficando maluco com a história de o Nigel ser mais veloz do que eu em todos os treinos e praticamente em todas as provas. No ano passado, em 16 corridas, larguei á frente dele em oito, mas durante as provas fui mais rápido em 14 GPs. De repente começo a apanhar em todas. Não dava para entender, relatou Piquet. Desde o início do ano venho andando com o carro de chassis mais curto do que o dele. Descobri hoje que era mais fácil de guiar, mas o outro tem muito mais pressão aerodinâmica e, por isso, é mais veloz. Troquei o carro, olha no que deu.
Com problemas nos pneus, Piquet não venceu a corrida de Silverstone. Entretanto, nas três provas seguintes, o novo carro de fato impulsionou o bicampeão mundial, que saiu como vencedor na Alemanha e na Hungria e terminou em segundo na Áustria. A arrancada fez Piquet assumir a liderança do campeonato, com 54 pontos, contra 43 de Ayrton Senna, da Lotus, e 39 de Nigel Mansell.
A disputa seguinte era o Grande Prêmio da Itália, marcado para 6 de setembro. Lá, o novo líder do campeonato dobraria a aposta, correndo com a nova suspensão automática que vinha testada havia meses pela Williams, mas que ainda não tinha estreado oficialmente em Grandes Prêmios.
Posso até nem terminar. Se der certo, porém, acho que posso dar um passeio. É tudo ou nada mesmo, explicou. Andamos 4.000 km com esse carro e não deu problema. Mas na corrida as coisas podem acontecer de forma diferente. Por isso, tenho um pouco de receio. Acho que o risco vale a pena, pois tenho ainda três resultados para descartar, e se não terminar uma corrida, não será nenhum drama. Ganhando, posso liquidar o campeonato.
BOA ESTREIA
A nova suspensão passou com louvor no primeiro teste: após mais um disputadíssimo treino classificatório contra Nigel Mansell, Nelson Piquet garantiu a pole position com o tempo de 1m23s460, apenas um centésimo á frente da marca do inglês, 1m23s559. Repetia-se, assim, a primeira fila do Grande Prêmio da Áustria; naquela ocasião, porém, o resultado foi favorável a Mansell. Conseguiria Piquet mudar a história em Monza?
DISPUTA BRASILEIRA
Na corrida em terras italianas, entretanto, a briga de Piquet não seria com Mansell. Nem seria com o austríaco Gerhard Berger, que, para a alegria das arquibancadas, havia levado sua Ferrari ao terceiro melhor tempo nos treinos de classificação e encabeçava a segunda fila. O duelo, em senhor duelo, aliás, aconteceria com Senna, que, mesmo largando na quarta posição, tornou-se um dos protagonistas do Grande Prêmio da Itália.
Após cair para sexto posto na primeira volta, Ayrton partiu para uma recuperação espetacular, alcançando a vice liderança na 23a volta. Logo em seguida, assumiu a ponta com a parada de Piquet para troca de pneus. Nelson conseguiu voltar na segunda colocação, logo á frente de Mansell. Durante duas voltas, os rivais permaneceram juntos, mas Piquet conseguiu escapar e iniciou a perseguição a Senna, que tinha uma vantagem de cerca de 12 segundos para o compatriota. Estávamos na metade das 50 voltas da corrida. Faltando sete voltas para o final, a diferença havia caído para 4,6 segundos: apesar dessa aproximação, considerando-se o ritmo de ambos, era bem possível que Senna conseguisse defender sua liderança até a linha de chegada. Mas o brasileiro da Lotus se complicou ao encontrar o italiano Piercarlo Ghinzani, da Ligier, andando devagar no meio da pista; Senna freou forte e acabou perdendo o controle do carro, que foi parar na areia. Ayrton ainda conseguiu voltar á pista, mas Piquet já havia assumido a primeira colocação, e não mais perderia.
MISSÃO CUMPRIDA
A arriscada aposta de Nelson Piquet, portanto, se provou certeira. Com a vitória na Itália, ele agora colocava uma mão na taça: faltando cinco corridas para o final do campeonato, a tabela de classificação marcava
Piquet 63, Senna 49 e Mansell 43.
Se fosse uma prova normal, teria feito uma outra parada para troca de pneus e desistido de perseguir o Ayrton. Só fui até o final com aquele segundo jogo de pneus porque já tinha mesmo decidido que aqui seria tudo ou nada.