EMOÇÃO NA FLORESTA NEGRA; DA ALEGRIA AO LUTO

Ayrton Senna vence GP da Alemanha 1989

Senna superou muitas dificuldades para vencer o GP da Alemanha de 1989; depois, sofreu o baque da notícia da morte do amigo Armando Botelho.

Com 6.797 km de extensão e velocidades que chegam á casa de 330 km/h, o circuito de Hockenheim, um dos maiores e mais velozes da Fórmula 1, era considerado também um dos mais perigosos. O mais famoso de seus acidentes aconteceu em 1968, quando Jim Clark morreu na em uma prova de Fórmula 2. Apesar disso, suas características únicas fazem dele também um dos preferidos de vários pilotos. Metade da pista, chamada de estádio, fica em uma parte baixa cercada de arquibancada; a outra metade fica dentro da Floresta Negra. Não é raro, durante uma mesma prova, que os pilotos enfrentem condições climáticas completamente diferentes nos dois espaços – chuva na floresta e sol no estádio, por exemplo.

A sensação de sair do estádio e entrar na floresta é especial. A mudança brusca de ambiente se compara a entrar num túnel. De repente, você só vê os guard rails, um ou outro bandeirinha, e está ali, você, o carro, o painel, o barulho do motor e a paisagem de árvores altas e muito verde.

Aí, você entra de novo no estádio, cheio de gente, e é um novo impacto. Mexe por dentro, afirmou Senna, que explicou ser necessária uma dose extra de concentração por conta da extensão do circuito. As retas são muito longas. Você vai indo, vai indo, e não acaba mais. Hoje cheguei a 330 km/h, a mais alta velocidade que alcançamos este ano. Todo cuidado é pouco, afirmou após o último treino oficial, no sábado.

MANOBRA BEM SUCEDIDA

Além do acidente da manhã de sexta-feira, Senna se deparou com um problema inesperado ao final do primeiro treino oficial no Grande Prêmio da Alemanha. Ao retornar aos boxes, uma pedra perfurou o radiador e provocou um vazamento de água sobre os pneus. E os mecânicos depois descobriram que o estrago não se resumia a isso, como explicou Senna aos jornalistas. O dano foi muito maior que a perfuração e afetou a estrutura do monocoque, do tanque até a parte de trás.

A questão é que, pelo rodízio determinado pela equipe, a prioridade para uso do carro reserva era de Prost. Para garantir a presença de Senna na corrida sem maiores problemas ou discussões, a McLaren deu início a uma operação de emergência para levar á Alemanha um quarto bólido, deslocando para Hockenheim o caminhão que estava levando um dos carros da equipe para os testes da semana seguinte, em Imola. Como o veículo de carga já estava em Dijon, na França, a cerca de 400 km de Hockenheim, o carro chegou ao circuito ainda na noite de sexta-feira; os mecânicos passaram a noite acertando o novo modelo, que seria o novo reserva. No sábado, o antigo reserva titular de Senna, e foi com ele que o brasileiro partiu para a vitória na prova. Coloquei toda a garra nessa corrida e muita fé, o que é fundamental. Foi uma prova plena de emoções, declarou.

PERDA IRREPARÁVEL

A alegria pelo triunfo que o recolocou na briga pelo campeonato, porém, deu lugar á tristeza assim que Ayrton Senna deixou o pódio. Naquele momento, o piloto foi avisado que seu empresário, Armando Botelho, morrera no dia anterior em São Paulo. Botelho, que tinha 50 anos, lutava havia meses contra um câncer no fígado e estava internado havia cerca de uma semana na capital paulista.

Apesar de preparado, ele não acreditou. Estava em pé e procurou logo sentar. Olhou para a irmã, a abraçou e pediu para ficarem a sós. contou o amigo Paulo Jossé Casseb, que deu a notícia a Senna no motor home da McLaren.

Depois de um tempo, o piloto, de óculos escuros e sem dar novas declarações aos jornalistas, deixou o circuito, compreensivelmente abalado.

Amigo de Milton, pai de Ayrton, o pecuarista Armando começou a participar da carreira do piloto após Senna se sagrar campeão da temporada da Fórmula Ford 1600 inglesa, em 1981. No retorno ao Brasil, Ayrton disse a Armando que gostaria de continuar a carreira nas pistas, mas sem ter que depender do dinheiro do pai. Foi aí que Armando, mesmo sem grande conhecimento de automobilismo –  mas com o tino de um grande vencedor – começou a busca por patrocinadores para o jovem disputar a temporada de Fórmula Ford 2000 em 1982, na Inglaterra. Deu certo. Assim, Botelho passou a cuidar dos negócios de Senna até sua chegada á Fórmula 1, incluindo os contratos da Toleman, Lotus e McLaren.

Mais que um empresário, Armando Botelho se tornou um amigo e um conselheiro de Senna. Uma perda irreparável.

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