Depois de deixar escapar pole e vitória na Hungria, a McLaren se recuperou em Spa-Francorchamps com excelentes performances de Senna e Prost.
Um raio, diz o ditado, não cai duas vezes no mesmo lugar. Por isso, após a dupla zebra no Grande Prêmio da Hungria, em que as McLaren não conquistaram a pole (garantida por Ricardo Patrese, da Williams) nem a vitória que ficou com Nigel Mansell, da Ferrari), a expectativa no circo da Fórmula 1 era de que Ayrton Senna e Alain Prost voltassem a dominar as ações em Spa-Francorchamps, onde se disputaria o Grande Prêmio da Bélgica, em 27 de agosto de 1989.
Com apenas seis provas para o final do campeonato, era imperativo que Ayrton Senna conquistasse a vitória para não deixar Alain Prost aumentar ainda mais sua liderança na tabela, que era de 14 pontos naquele momento.
O brasileiro estava confiante no retorno da boa performance das McLaren. A questão, claro, é que Prost também se beneficiaria disso.
A nova versão do motor Honda testada em Monza tem um pouco mais de potência, e as McLaren devem andar na frente também neste circuito. Mas o meu maior rival tem o mesmo equipamento.
Se dependesse só da minha vontade de ganhar, recebia agora a bandeirada da vitória. Mas, infelizmente, não é assim, avisou. Antes, preciso acertar o carro para o melhor rendimento dos pneus e do combustível, e, acima de tudo, não posso cometer o menor erro.
SOL SALVADOR
Com a chuva caindo muito forte na sessão de classificação de sexta-feira, os tempos do primeiro dia não obedeceram á lógica. Gerhard Berger, da Ferrari, foi o primeiro, com 2m11s102, seguido de perto por Senna, com 2m11s171. Prost foi o terceiro, com um tempo quase 2 segundos mais lento do que o dos líderes (2m12s721).
É evidente que somos mais rápidos nas retas, mas nas curvas somos mais lentos que as Ferrari. Foi assim na Hungria e está sendo assim aqui. Quando a aderência da pista é baixa, temos dificuldades. Se a pista estivesse seca, seríamos superiores, mas com ela molhada a aderência é pouca. Apesar disso, acho que no segundo treino as coisas vão melhorar, afirmou Senna, que, entretanto, fez uma ressalva. Se continuar chovendo, é possível que não dê para superar Berger.
Com a pista seca, porém, Senna fez valer a força da McLaren. O brasileiro registrou uma volta absolutamente espetacular no circuito belga: 1m50s867, mais de 0,5 segundo melhor do que o tempo de Alain Prost, 1m51s463. Berger foi o terceiro, seguido pelas Williams de Thierry Boutsen e Patrese e pela Ferrari de Mansell.
PODE CHOVER
No domingo, o aguaceiro voltou de tal forma que a largada precisou até ser adiada por alguns minutos. E Senna mostrou mais uma vez que, para ele, correr em pista molhada não era problema. O brasileiro largou bem, tomou a ponta e abriu uma vantagem confortável sobre Prost.
As grandes emoções da prova, aliás, ficaram justamente reservadas á briga pela segunda colocação. Berger rodou na décima volta – o décimo abandono consecutivo do austríaco, que fazia uma temporada para ser esquecida – e deixou caminho livre para seu companheiro de equipe, Nigel Mansell, partir em busca de Alain Prost. A briga foi quente: com seu estilo amalucado, o inglês saiu desesperadamente á caça do francês, cujo desempenho na chuva era reconhecidamente péssimo.
Dessa vez, contudo, Prost mostrou arrojo para conter os avanços de Mansell, o inglês até tentou algumas manobras pouco ortodoxas para ultrapassar o francês, que, entretanto, usou de todas as armas para fechar as portas.
Nas últimas 15 voltas, a chuva parou e parte da pista começou a secar; Senna, com pneus de chuva e 11 segundos de vantagem para os rivais, diminuiu o ritmo por precaução e viu Prost e Mansell se aproximarem. Mas as coisas se mantiveram sob controle: o brasileiro cruzou a linha de chegada com 1,3 segundo de vantagem para Prost – que, por sua vez, chegou apenas 0,5 segundo á frente de Mansell.
Adeus, zebra: a lógica voltava a dar as cartas no campeonato mundial de Fórmula 1, que agora estava mais equilibrado novamente, com 62 pontos de Prost e 51 de Senna. Faltavam cinco corridas……