Decisão de desclassificar o brasileiro do Grande Prêmio do Japão foi alvo de críticas em todo o circo da Fórmula 1, não apenas do piloto e da equipe.
As palavras foram duras, como precisavam ser, escolhidas a dedo por um piloto que parecia absolutamente consciente do que se passava. De forma serena até demais para alguém que viu seus esforços na pista anulados por uma canetada da organização, Ayrton Senna conversou com os jornalistas que o esperavam para repercutir todos os fatos ocorridos e fora da pista de Suzuka.
Para o esporte, é uma pena, uma vergonha. Não quero falar nada em relação á defesa, que será elaborada cuidadosamente, com base no regulamento, com base na realidade, e não em arbitrariedades, disse. Tenho a convicção de que agi corretamente, tanto no acidente como depois.
A decisão tomada pelos comissários é totalmente arbitrária e sem fundamento. Acho que o resultado publicado provisoriamente não reflete a realidade da competição, nem no sentido esportivo nem pelo regulamento. Vejo tudo isso como temporário. É uma pena que a gente tenha de apelar contra situações absurdas como essas.
PORTA FECHADA
Senna relatou em detalhes e colisão com o companheiro de equipe. Dadas as condições do meu carro e do carro do Prost, aquele era o único ponto em que eu podia me aproximar rapidamente, aproveitando a curva anterior, que era muito veloz. Ali eu podia chegar perto e, na freada pesada, tentar a ultrapassagem, como aconteceu no ano passado tantas vezes e neste mesmo ano, logo depois, com o Nannini. A ultrapassagem foi legítima, mas alguém que não tinha nada a perder fechou a porta ali e encrencou tudo, sentenciou.
De qualquer forma, esse nem foi o maior dos problemas. Eu não falo da ultrapassagem. Falo do incidente em si e da minha continuação na corrida, em colocar o carro na posição mais segura possível, depois do acidente, e não voltar para trás, para tentar colocar o carro na pista. Isto sim seria o que a gente chama de dangerous manoeuvre (manobra perigosa), o que a gente nunca deve fazer, de acordo com o regulamento, justificou.
Daqui para frente, vai estar nas mãos de advogados, nas mãos de pessoas que entendem da parte teórica da coisa, enquanto na prática, a corrida foi vencida na pista. Fiquei sem o gosto da vitória, sem o prazer de subir ao pódio e, depois de uma corrida como está, festejar com a equipe e com todo o público enorme que estava aqui torcendo por mim. Está é talvez a minha maior torcida fora do Brasil.
AJUDA EXTERNA
Qualquer um com o mínimo conhecimento dos bastidores da Fórmula 1 sabia os reais motivos da decisão de desclassificar Ayrton Senna, mas Jean-Marie Balestre, presidente da Federação Internacional de Automobilismo Esportivo (Fisa) e admirador declarado de seu conterrâneo Alain Prost, jurou que não influenciou na decisão dos comissários. Ele tirou vantagem da situação ao evitar a chicane, e isso é exatamente o que o regulamento proíbe. Por isso, foi desclassificado.
ANÁLISE PARCIAL
A explicação não foi aceita pela McLaren, que definiu como injusta e incoerente a desclassificação de Senna. A equipe luta para ganhar a maior quantidade de Grandes Prêmios possíveis e é normal que se faça uma apelação para tentar recuperar a vitória que Senna conseguiu na pista, explicou o diretor Creighton Brown. A decisão de desclassificá-lo está em contradição com o que aconteceu algumas vezes nessa temporada. O que é certo é que não queremos favorecer um piloto em relação a outro. Se Prost ganhou o título da temporada, estamos alegres por ele, mas não podemos aceitar tamanha injustiça com Ayrton.
Para Brown, os comissários não analisaram todos os fatores envolvidos no acidente. Queremos apenas que as coisas fiquem claras. O regulamento realmente diz que o piloto, quando corta uma chicane, está sujeito á exclusão, mas a verdade é que já houve muitos casos semelhantes e nenhum piloto até hoje foi excluído por isso, explicou. É necessário que se leve em consideração também que Senna, ao sair pela área de escape, pensou única e exclusivamente na segurança dele e dos outros pilotos. Os dois carros pararam no meio da pista e precisavam ser empurrados. Se os fiscais o empurrassem para chicane, havia o risco da chegada de um carro mais veloz e até um acidente mais sério.
VISÃO DOS PILOTOS
Não havia outra alternativa para Senna, afirmou Roberto Pupo Moreno, da Coloni. Se voltasse á pista pela entrada da curva, ficaria de frente para os outros carros e seria muito perigoso. Parte absolutamente desinteressada no episódio, o espanhol Luiz Pérez-Sala, da Minardi, é quem estava talvez melhor tenha resumido a situação. Senna estava em posição perigosa e agiu corretamente. Outra atitude poderia provocar um sério acidente, e aí iriam discutir a lei em cima do número de mortos.