Em uma decisão gritantemente injusta, segunda a McLaren, tribunal confirmou a desclassificação do piloto brasileiro em Suzuka e lhe aplicou novas penas.
Se alguém ainda tinha dúvida de que havia algo de podre no reino da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), a sessão de 31 de outubro de 1989 do Tribunal de Apelação da entidade serviu para trazer, definitivamente, a certeza. Reunidos para deliberar sobre os acontecimentos do Grande Prêmio do Japão daquele ano, em que Ayrton Senna foi desclassificado após a vitória em Suzuka, os quatro integrantes do órgão não apenas mantiveram a decisão dos comissários de prova como ainda trataram de aumentar a punição ao brasileiro.
Não foram analisadas provas nem foi dado ao piloto ou á McLaren a chance de defesa. Como se pode ver pela íntegra da sentença, houve uma incrível vontade de punir o brasileiro.
O Tribunal de Apelação, formado pelo advogado J.W.G. Van Rosmalen (Holanda), eleito presidente; pelo advogado Roberti de Winghe (Bélgica), por Manos Rewvikos (Grécia) e pelo advogado José Macedo e Cunha (Portugal) publicou a seguinte sentença:
A decisão confirma a sanção infligida pelo Colégio dos Comissários Esportivos do Grande Prêmio do Japão, excluindo o carro número 1 e o piloto Ayrton Senna dos resultados da prova e o agravante, conforme as disposições do artigo 189 do Código Esportivo Internacional, pronuncia uma suspensão de seis meses com sursis durante seis meses a contar do dia 31 de outubro, assim como uma multa de 100 mil dólares.
O sursis liberava Senna para correr, porém colocava uma espada sobre sua cabeça: caso as autoridades enxergassem em sua atuação nas pistas qualquer infração ao regulamento da Fórmula 1, o brasileiro perderia a licença. Na prática, o castigo duraria até o Grande Prêmio dos Estados Unidos, marcado para março de 1990.
INDECÊNCIA
Evidentemente, todo aquele circo tinha como objetivo chanceler a decisão que Jean-Marie Balestre, então presidente da FIA e também da Federação Internacional de Automobilismo Esportivo (Fisa), já havia tomado e até manifestado publicado em Suzuka. Balestre convocou uma entrevista coletiva no Automóvel Clube de Paris para comentar a decisão do tribunal, que, por consequência, entregou o título em definitivo a Alain Prost.
Sou contra Ayrton Senna por ele ter estragado nosso sonho no Grande Prêmio do Japão. Ele estragou o Campeonato Mundial de Fórmula 1. Não tinha o direito de fazer isso, declarou, brigando com os fatos. Senna corre risco demais. As imagens da corrida e do acidente provam que foi por excesso de velocidade que bateu em Prost. Questionado pelos jornalistas de um favorecimento pessoal ao conterrâneo, começou a vociferar mais impropérios contra Ayrton – a quem chamou de acrobata e equilibrista de corda bamba – e também contra Ron Dennis, acusando-o de chantagem e ameaçando excluir a McLaren da Fórmula 1.
Prost, que assim como os demais pilotos já estava em Adelaide para a disputa do Grande Prêmio da Austrália, não disfarçou a alegria. Agora estou tranquilo.
Seria muito difícil e desgastante ter de lutar pelo título em Adelaide. Este foi o título mais difícil da minha carreira, pois tive que lutar até contra minha própria equipe, afirmou triunfante. Oficialmente eu já era campeão desde o GP do Japão. Infelizmente tive que esperar.
Acreditava na Federação e no Tribunal de Apelação. É um grande alívio.
REVOLTA
De sua sede em Woking, na Inglaterra, a McLaren soltou imediatamente um comunicado oficial, contestando com veemência a punição a Senna. Antes mesmo de impetrarmos nosso apelo em Suzuka, estávamos conscientes da maneira política como nosso esporte é conduzido, e do fato de a Comissão de Apelação da FIA raramente voltar atrás em suas decisões. Ainda não tivemos a chance de avaliar as razões que a comissão teve para tomar essa decisão, mas já instruímos nossos advogados para que estudem os vários canais de apelação nos tribunais civis da França. Consideramos a sansão gritantemente injusta e vamos continuar a lutar pela lisura em nosso esporte.