Modelo da escuderia britânica 1987 ganhou motor Honda, suspensão ativa e o nada discreto amarelo da nova patrocinadora.
Quando o novo carro da Lotus para a temporada de 1987 foi revelado em uma suntuosa festa no Heathrow Park Hotel, em Londres, emoções conflitantes tomaram conta dos convidados. Todos já sabiam das principais novidades, muito comemoradas pela escuderia e seus torcedores: o modelo seria turbinado por um motor Honda, muito mais possante que o antecessor Renault, e contaria com um novo patrocínio, da marca de cigarros Camel, que renderia muito mais dinheiro que o contrato com a John Player Special. Entretanto, ao ver o amarelo banana da Lotus 99T gritando no palco, foi impossível não sentir uma melancólica saudade da elegância do preto e dourado que adornava os bólidos da Lotus nos últimos 18 anos.
Mais preocupado com o desempenho da máquina, Ayrton Senna tratou de deixar a nostalgia em segundo plano.
O novo carro parece bonito e, á medida em que andar mais rápido, ficará ainda mais bonito. Mesmo os carros bonitos ficam feios quando não correm direito. Mas tenho certeza que este carro é rápido, confiável e será competitivo durante o campeonato, afirmou, antes de concluir com uma constatação irrefutável. Sempre usei capacete amarelo…. E tive sorte nas pistas.
Gérard Ducarouge, diretor técnico da Lotus e responsável pelo projeto do Lotus 99T, também desconversou sobre o visual. A diferença do carro novo não está na superfície, mas sob ela. Tivemos de produzir um novo chassi em Kevlar a fibra de carbono, para que acomodasse o motor Honda, incorporando ao design a nossa fórmula já testada, a fim de obter o máximo do motor japonês, sentenciou. Produzimos um carro clássico, baseado na filosofia dos três anteriores, com um desenvolvimento bastante refinado.
TECNOLOGIA JAPONESA
Geralmente reservado, Ducarouge dessa vez se permitiu um otimismo acima da média. Temos um grande pacote. Com a combinação do motor Honda e do homem que talvez seja o melhor piloto do mundo hoje, Ayrton Senna, achamos que estamos bem preparados para ter uma temporada extremamente competitiva. Além disso, a segurança do motor Honda permitirá o nosso desenvolvimento técnico em outras áreas, garantiu.
Na verdade, mais do que permitir, a chegada da fabricante japonesa obrigava a Lotus acelerar o desenvolvimento do carro que passaria a contar com o possante motor V6 da Honda – ainda que em sua versão RA166-E, e não a mais avançada RA167-e, até aquele momento reservada á Williams. De acordo com Martin Ogilvie, projetista-chefe da Lotus, o maior problema com o desenho do novo carro havia sido justamente a grande quantidade de detalhes do motor Honda que precisavam ser levados em conta. Havia muito mais fiação e encanamentos para os sensores adicionais e para as caixas de controle, explicou.
Diante da alta rotação do motor, o carro vinha equipado com uma caixa de câmbio com seis marchas. Mas a grande aposta da equipe era o mesmo a suspensão ativa, que fazia parte dos testes da escuderia desde a época da Lotus 92, carro da temporada de 1983. O controle eletrônico seria fundamental para manter a estabilidade do carro e equilibrar o consumo de combustível e o desgaste dos pneus.
Estivemos trabalhando constantemente os últimos cinco anos para colocar esta equipe novamente entre as três primeiras. Agora, acredito que a combinação dos novos patrocinadores, dos motores Honda e do novo carro projetado por Ducarouge, e que está sendo pilotado pelo Senna, que é um excelente piloto, vai nos dar a melhor oportunidade para conquistar o Campeonato Mundial de Fórmula 1, finalizou Peter Warr, chefão da equipe. Restava ver se a prática sustentaria a teoria.