BALANÇO DA TEMPORADA DE 1986; NO LIMITE DO POSSÍVEL

Ayrton Senna, balanço da temporada de 1986; no limite possível

Em desempenho além do esperado, Senna brigou pela liderança até a metade da temporada; ao término do campeonato, ficou com o quarto posto.

Para quem brigou pela liderança até a metade do campeonato, terminar em quarto lugar na classificação geral poderia ser considerado uma enorme derrota, mas não para Ayrton Senna, ao menos naquele ano de 1986.

O piloto sabia que o resultado final da temporada ficou dentro das possibilidades que a Lotus lhe oferecia. A questão é que a arrebatadora performance nas sete primeiras etapas do ano havia deixado a impressão de que Senna poderia ser um dos candidatos á conquista do Mundial, o que não procedia, como se mostrou na segunda parte da temporada.

Em teoria, eu nunca poderia ter sonhado em participar da luta pelo título da temporada. Eu me consolei com isso no começo do ano. Mas acontece que depois as coisas forma melhorando e eu me esqueci de que tínhamos equipamento para fazer parte dessa briga. Me entusiasmei mais do que podia, e quando tive que cair na realidade foi duro, explicou em entrevista publicada em O Globo de 26 de outubro de 1986. Não é bem uma decepção que eu sinto, mas sei que as coisas poderiam ter sido melhores. Poderiam, claro, ainda mais quando de considera o nível de exigência de Senna. De qualquer forma, o saldo do ano era ótimo para quem pilotava uma Lotus que estava a léguas da Williams e da McLaren. Senna conseguiu duas vitórias na temporada, nos Grandes Prêmios da Bélgica e dos Estados Unidos; subiu ao pódio em mais seis ocasiões, com quatro segundos lugares e dois terceiros; e, como no ano anterior, foi o líder disparado em pole positions, com oito – a distante segunda colocação no quesito foi dividida por Nelson Piquet e Nigel Mansell, da Williams, e Teo Fabi, da Benetton, com apenas duas poles cada.

BURACO NO ASFALTO

De volta ao Brasil, na tradicional conversa de fim de ano com os jornalistas em seu escritório na Vila Mariana, em São Paulo, Ayrton Senna mostrou esperança pelo acerto com a Honda, que seria a nova fornecedora de motores da Lotus na temporada seguinte, em substituição á Renault. Espero em 1987 ter um carro mais veloz, resistente e econômico, afirmou segundo o Jornal do Brasil de 7 de novembro de 1986. Vamos treinar o máximo que pudermos a partir de janeiro. Espero estar com o carro em ponto de bola já no Grande Prêmio do Brasil. Quero fazer buraco no asfalto e gastar muito pneu, seja na Espanha, Portugal, França ou Brasil.

ARIGATOU, RENAULT

Incentivado por Senna, o negócio com a Honda havia sido consumado por Peter Warr e Nobuhiro Kawamoto, chefão da fabricante nipônica, ainda com a temporada de 1986 em curso. E envolveu, como contrapartida, a contratação do piloto Satoru Nakajima para a segunda vaga na Lotus em 1987.

Feito na surdina, o negócio surpreendeu a Renault, cuja relação com a Lotus era estreita e considerada satisfatória por ambas as diretorias. Entretanto, a pressão de Senna por um motor competitivo – a Honda era a fornecedora da dominante Williams – foi decisiva para que Peter Warr optasse por rifar os franceses sem aviso prévio. Com Ayrton era assim. Tomávamos as decisões baseadas nele, pois nada era mais importante do que mantê-lo conosco e de nosso lado, relembrou Warr, anos mais tarde, no livro Ayrton Senna The Team Lotus Years.

Durante toda a temporada de 1986, Senna havia elogiado publicamente o trabalho da empresa japonesa – tanto que, após o Grande Prêmio da Austrália, que decidiu a temporada de 1986 em favor da McLaren e seus motores TAG/PORSCHE, o brasileiro fez uma defesa de sua futura fornecedora. Foi um castigo injusto para a Honda, que trabalhou melhor do que todas as fábricas. Seu motor foi superior em todas as situações: frio, quente, em pistas de baixa, de alta, no consumo e na força, declarou em O Globo de 27 de outubro.

Para o brasileiro, a postura da Williams, ao passar a temporada buscando atender igualmente Nelson Piquet e Nigel Mansell, acabou comprometendo o resultado final. Quando há divisão, raramente dá certo. Não foi bem a McLaren que ganhou, foi a Williams que perdeu.

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