Saída da John Player colocou em xeque a permanência de Senna em Norfolk, mas a chegada da Camel garantiu o brasileiro em 1987.
Com o acerto entre Lotus e Honda sacramentado desde meados de 1986, bem como sua renovação contratual, acordada em agosto, Ayrton Senna acreditava que não teria empecilhos para começar os testes para a temporada de 1987 logo no início do ano. Mas o piloto não contava com a decisão da Imperial Tobacco de não renovar o vínculo da John Player Special com a escuderia. Era uma notícia potencialmente apocalíptica para a Lotus, cuja competividade, para não dizer sobrevivência, dependia da injeção de dinheiro da patrocinadora.
Como havia no acordo entre Senna e Lotus uma cláusula que condicionava sua presença na equipe á permanência da John Player Special, o brasileiro estaria livre para procurar ares caso a Lotus não encontrasse uma substituta á altura da antiga patrocinadora. Estou certo de que não ficarei sem uma equipe para disputar a Fórmula 1 em 1987. Devo esclarecer que minha associação com a Lotus é o principal motivo para que tudo se acerte, mas não vejo problemas em correr por outra equipe, afirmou ao jornal O Globo do dia 14 de janeiro de 1987.
Não á toa, voltaram com força os boatos de que a Ferrari lhe ofereceria uma vaga. Mas foi a McLaren, de fato, que abriu tratativas com o piloto.
ELE FICA
Nem uma nem outra. O departamento comercial da Lotus, mesmo sob intensa pressão, fez um excelente trabalho e fechou um contrato ainda mais vantajoso com a R.J Reynolds, gigante norte-americana do tabaco. Agora, a marca de cigarros Camel, que havia sido a principal patrocinadora da Copa do Mundo do México em 1986, emprestaria o amarelo e o azul – e, claro, o camelo – de sua identidade visual para a decoração das máquinas da Lotus.
Nós ganhamos a estabilidade necessária, pois com esse contrato estamos em condições de pensar com calma no desenvolvimento de projetos para o carro, comemorou Warr, aliviado. A Fórmula 1 mudará muito nos próximos anos e precisamos nos adaptar o melhor possível ás modificações no regulamento decididas pela Fisa.
Dessa forma, ainda no fim de janeiro, Senna oficializou sua permanência na escuderia de Norfolk, assinando contrato por duas temporadas. Realmente estive muito próximo de guiar pela McLaren, por achar que é uma grande equipe e pela admiração que tenho por Ron Dennis, que me ofereceu as mesmas condições, inclusive financeiras, que tenho na Lotus, declarou Ayrton, segundo o Jornal do Brasil de 1a de fevereiro. Mas eu havia me esforçado muito para conseguir o motor Honda e não iria abandonar agora este novo desafio.
IGUAL, MAS DIFERENTE
Com essa questão resolvida, a preocupação do piloto era tirar o atraso nos testes do novo carro. Mas os primeiros treinos, no início de fevereiro, forma frustrantes: dois dias recheados de problemas mecânicos em Donington e dois dias de chuva e frio em Paul Ricard.
Em coletiva de imprensa para anunciar a renovação de seu contrato de patrocínio com o Banco Nacional, no Rio de Janeiro, no dia 18 de fevereiro, Senna explicava que teria um longo caminho a percorrer na pista para acertar a Lotus 99T – e um prazo relativamente curto: a prova de estreia da temporada, o Grande Prêmio do Brasil, estava marcada para 12 de abril.
Aparentemente, o novo carro é muito semelhante ao do ano passado, mas, fundamentalmente, é diferente.
Está cheio de coisas diferentes que não aparecem, mas são importantes, como câmbio, chassis e suspensão. Além do motor, é claro, afirmou aos jornalistas. Permanece em aberto se conseguiremos tomar o carro não apenas veloz, mas resistente, já para a primeira corrida do ano, no Rio. Se o acerto demorar mais, isso pode custar o título.
De qualquer forma, o piloto estava confiante. O importante é que agora a equipe tem a estrutura necessária para trabalhar com tranquilidade. Há muito trabalho a ser feito, mais do que na Williams, que só precisa melhorar um pouquinho em relação ao ano passado. Nós temos um carro inteiro a acertar. Mas, pelo menos a teoria, temos condições de chegar lá, afirmou.
O desejo de ser campeão é maior do que nunca e, depois dos últimos anos, a certeza de que isso pode acontecer também é maior.