Após a inédita conquista em Mônaco, Ayrton teve miniférias no Brasil, de onde voltou energizado para triunfar de novo nos Estados Unidos.
Depois de vencer pela primeira vez o Grande Prêmio de Mônaco, em 31 de maio de 1987, Ayrton Senna ganhou uma merecida folga para descansar e celebrar a conquista. Certo? Errado. Menos de 24 horas depois do triunfo no principado, o brasileiro já estava acelerando a Lotus no circuito de Paul Ricard, para os ajustes de motor e suspensão em pistas de alta velocidade. Na sequência, Ayrton seguiu para Silverstone, onde a maratona de testes no carro.
No total, foram quatro dias de trabalho – depois disso, aí sim, Ayrton foi liberado para voltar ao Brasil e, enfim, receber o carinho de amigos, fãs e familiares após a façanha em Monte Carlo. Para a sorte do piloto, a estadia em casa seria mais longa do que de costume. Isso porque, no final de março, o Grande Prêmio do Canadá, originalmente marcado para 14 de junho, havia sido cancelado pela Federação Internacional de Automobilismo Esportivo ( Fisa ) após uma disputa sem solução entre as duas marcas de cerveja locais que garantiam ter o direito de ser a patrocinadora da prova. Assim, Senna ganhou uma semana extra de repouso até o compromisso seguinte, o Grande Prêmio dos Estados Unidos a ser disputado nas ruas de Detroit em 21 de junho.
ENERGIA BOA
Ayrton Senna desembarcou em São Paulo no dia 5 de junho e já concedeu uma entrevista coletiva aos jornalistas brasileiros, em seu escritório na Vila Maria, onde fez muitos elogios á suspensão ativa da Lotus. O sistema está funcionando bem, e em circuitos sinuosos, como Mônaco e Detroit, seu desempenho é bem superior, afirmou, antecipando, contudo, as dificuldades que se desenhavam após a prova nos Estados Unidos, com a sequência de pistas velozes. Nestes circuitos, o que importa mesmo é a aerodinâmica, e nisto as Williams e as McLaren estão bem superiores.
Mas as miniférias no Brasil fizeram Ayrton deixar essas preocupações para depois. Ao embarcar para os Estados Unidos, no dia 16 de junho, o piloto, energizado, já falava em vitória em Detroit. O circuito de Detroit é muito desgastante, mas não é isso que estou pensando agora. Esta pista favorece meu carro, ou, pelo menos, diminui a vantagem que os outros têm. Ganhei a prova no ano passado em condições mais desfavoráveis do que agora, e, por isso, posso voltar a ganhar. Só que a Fórmula 1 tem muitas surpresas e posso não me dar bem. Mas estou confiante.
SEM SURPRESAS
O mesmo sorriso voltou a aparecer após a vitória nas ruas da capital mundial do automóvel. Senna estava orgulhoso pela forma com que a vitória foi conquistada, com a teoria sendo aplicada na prática com perfeição. Meu carro pode não ser o mais rápido, mas foi o mais regular aqui e em Mônaco. Ganhei as duas provas e faço questão de elogiar publicamente toda a equipe, que vem trabalhando duro para desenvolver esse projeto revolucionário e difícil.
Para Senna, dois fatores foram cruciais para sua vitória. O primeiro deles foi evitar forçar o carro no início, deixando Nigel Mansell disparar na frente. Nas primeiras voltas, estava sentindo o freio muito mole e resolvi não arriscar.
Há dois anos, aqui mesmo em Detroit, tive o mesmo problema, não dei bola e acabei pregado no muro. Por isso, o Mansell fugiu na primeira parte da prova, explicou. Tratei apenas de manter uma cômoda segunda colocação.
PULO DO GATO
Com o decorrer da prova, o rendimento dos freios melhorou e Senna começou a rodar mais rápido. Depois de assumir a primeira posição com a larga parada de Mansell no box, Senna, mesmo com larga vantagem, decidiu não fazer o pit stop para troca de pneus – o que, para ele, sacramentou o triunfo. Vi que o Mansell e o Prost, que estavam de pneus novos, não conseguiam ser mais rápidos do que eu, que estava de pneus velhos. Ora, se eu continuava mais rápido e aumentava a vantagem a cada volta, porque parar? Conversei pelo rádio com o box e decidimos arriscar até o final. Acho que foi aí que ganhei o Grande Prêmio.
De fato, a partir daí, foi só administrar a vitória. Com ampla diferença para o segundo colocado, Ayrton, tranquilo, chegou a acenar para as câmeras nas últimas voltas, antes mesmo da bandeirada. Após a corrida, ao jornal O Globo, o novo líder do campeonato explicou o gesto. Era hora de saudar a torcida brasileira. Já que não pude fazer isso ao vivo, no Grande Prêmio do Brasil, mandei meu adeusinho desta vez via satélite.