A TERCEIRA VITÓRIA NA FÓRMULA 1; SENNA FAZ HISTÓRIA EM JEREZ

Ayrton Senna, a terceira vitória na Fórmula 1

Nos boxes, a homenagem de Hazel Chapman pela 100a pole position da Lotus; na pista, o triunfo na acirrada batalha contra Mansell.

Eu já estou velho para loucuras desse tipo, resignou-se Keke Rosberg, no box da McLaren, quando viu Ayrton Senna completar, ainda no treino de sexta-feira, a fantástica volta que acabaria lhe garantindo a pole position em Jerez de La Frontera. Era a centésima vez que uma Lotus largaria na frente na Fórmula 1, e o fato rendeu uma homenagem ao brasileiro no motor home da equipe inglesa: em festa com a presença ilustre de Hazel Chapman, viúva do fundador Colin Chapman, Ayrton recebeu da Lotus um vaso de cristal para celebrar a façanha.

Foi uma bela homenagem, claro, mas a taça em que Senna estava de olho era mesmo a do Grande Prêmio da Espanha. E conquistá-la seria mais difícil: na véspera da prova, a lista de preocupações de Ayrton era extensa, a começar pelos problemas da pista. Por mais impressionantes que sejam as novas instalações, por mais que seja bem desenhado o traçado, o asfalto apresenta defeitos lamentáveis, por ser ondulado demais e não haver área de escape suficiente nas curvas, algumas totalmente sem defesa para o piloto, sentenciou o brasileiro, no relato do jornal O Globo de 13 de abril de 1986.

Com poucas informações técnicas sobre o novo circuito, o consumo de gasolina e o desgaste dos pneus também se tornavam uma incógnita para o domingo. O consumo poderá criar um problema na corrida. Teremos de calcular muito bem, contar cada gota, para que não sejamos surpreendidos nisso também, afirmou, apontando que os engenheiros e mecânicos não tinham muita base para trabalhar. Nessa pista desigual e cansativa para o carro e para o piloto, teremos de ser muito precavidos. E por falar em precaução…..

BOMBA-RELÓGIO

Como Senna já havia deixado claro durante as sessões de treino, as Williams eram as máquinas a serem batidas naquele início de temporada. Mas, para ele, dentro de uma das Williams havia outra grande ameaça em potencial: a instabilidade de Nigel Mansell, com quem o brasileiro da Lotus já havia tido um atrito no início da corrida em Jacarepaguá. Por isso, antes da largada na Espanha, Senna se dirigiu ao inglês para trocar, ou tentar trocar, algumas palavras.

Fui até porque não havíamos conversado depois do incidente no Brasil, e queria sentir o ânimo, pois não pretendia me expor a outro acidente daquele tipo. Decidi que era melhor fazer a cuca funcionar e não custava nada falar com ele de uma vez, explicou Senna após a prova. Infelizmente a reação de Mansell não foi receptiva, e viu-se na pista que ele não mudou. Felizmente nada aconteceu, acabou tudo bem, mas que houve coisa, isso houve, durante toda a corrida.

DESCANSO DO GUERREIRO

Depois do pódio, foi preciso quase uma hora de massagens no caminhão da equipe para Ayrton se recompor. Só depois o vencedor partiu para as entrevistas, explicando todos os detalhes do espetacular triunfo em Jerez. Eu estacava o Mansell por todos os lados e ele só fechava o meu caminho. Fiz tudo, fui pela direita, pela esquerda, saí para a areia e não havia como. Numa das saídas de curva, ele chegou a me empurrar, até que desisti temporariamente, para bolar um outro meio, explicou Ayrton, detalhando o pulo do gato que assegurou a vitória.

Passei a vir atrás do Mansell aparentemente tranquilo, sem ele suspeitar que eu voltava a pressioná-lo. E o segui até um ponto onde sabia que ele não esperava a tentativa de ultrapassagem. O golpe deu certo, ele nem me viu sair da curva e pude passá-lo na maior tranquilidade pelo lado direito.

Depois disso, foi um olho no rival e outro no próprio carro: além da preocupação com o consumo de combustível, Senna precisava cuidar dos pneus. Na verdade, a estratégia da equipe previa mais uma parada para troca, mas quando Mansell foi para o box, Senna decidiu levar até o fim. O traseiro esquerdo, por exemplo, já tinha acabado naquela altura da prova, e eu passei a dirigir como se estivesse no gelo. Teve uma hora, como a duas voltas da bandeirada, que quase acaba a brincadeira, afirmou, para em seguida finalizar, com um sorriso nos lábios. Não sei se a tática dos adversários foi boa. Mas parece que a minha deu resultado.

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