Com bela corrida de recuperação depois de uma parada imprevista no início da prova, Senna conquistou sua primeira vitória em Detroit.
Disputado nas ruas de Detroit, então considerada a capital mundial do automóvel, o Grande Prêmio dos Estados Unidos tinha como principal característica, ironicamente, a baixa velocidade. O traçado montado para os carros atravessarem o centro comercial da cidade era pouco propício ao ritmo acelerado da Fórmula 1, gerando uma velocidade média inferior aos padrões da categoria. De todo modo, esta era uma boa notícia para Ayrton Senna: ali, o motor de sua Lotus, reconhecidamente menos potente do que os das rivais Williams e McLaren, poderia dar conta do recado.
Marcada para 23 de junho de 1986, a etapa norte-americana seria a sétima do Campeonato Mundial de Fórmula 1, que tinha como líder Alain Prost, da McLaren, com 29 pontos, seguido de perto por Senna e Nigel Mansell, da Williams, com 27.
Tratava-se, portanto, de uma chance preciosa para o brasileiro assumir a primeira posição antes que a categoria voltasse ás corridas na Europa, onde seriam disputadas sete das nove últimas etapas do campeonato. No Velho Mundo, as pistas eram mais rápidas, e certamente dificultariam a vida do piloto da Lotus.
Senna, então, tratou de fazer sua parte. Após ficar com o segundo melhor tempo da sexta-feira, garantiu a pole position no sábado com 1m38s301, meio segundo á frente de Mansell, segundo colocado. Era sua quarta pole na temporada. Na segunda fila, viriam Nelson Piquet, da Williams, e René Arnoux, da Ligier.
FURO CUSTOSO
Na largada, Senna manteve a ponta, seguido por Mansell, que escapou por pouco de ser atingido por René Arnoux.
Logo depois, o inglês deu sorte de novo: Ayrton errou uma troca de marchas no final da segunda volta e Mansell não perdoou, roubando a posição, e restou para o brasileiro a tarefa de segurar i impetuoso Arnoux, que vinha na terceira colocação. Mas Senna se recompôs, deixou o francês para trás e partiu á caça de Mansell: na oitava volta, ultrapassou o rival e voltou á liderança.
Na 12a volta, porém, Senna começou a ter dificuldade para controlar a Lotus e percebeu que um dos pneus havia furado, sendo obrigado, assim, a antecipar sua parada. Os longos 12 segundos que ficou no box da Lotus lhe custaram caro: o brasileiro voltou na oitava posição, atrás simplesmente das duas Williams ( Piquet e Mansell ) das duas Ligier ( Arnoux e Jacques Lafitte ), das duas Ferrari ( Michele Alboreto e Stefan Johansson ) e da McLaren de Alain Prost. Difícil….
MAS NÃO IMPOSSÍVEL
Senna, então, recomeçou do zero. Depois de ultrapassar as duas rossas na pista, contou com as paradas de Arnoux, Prost, Mansell e Laffite; assim, na 31a volta, já estava na segunda colocação, atrás apenas de Nelson Piquet. Sete voltas depois, foi a vez do brasileiro da Williams ir para o box, deixando a liderança para Ayrton.
A má notícia para Senna era que o compatriota havia voltado em segundo, e, com pneus novos, partiria para o ataque. Foi o que Piquet fez. Na caçada ao líder, registrou a melhor volta da prova, 1m41s233 – novo recorde do circuito, superando a marca estabelecida por Senna no ano anterior, 1m45s612.
O bicampeão mundial, porém, acabou indo com muita sede ao pole: na 41a volta, Piquet errou uma tomada de curva, bateu na mureta de proteção e precisou abandonar a prova. Com Prost e Laffite a uma distância segura, Senna tinha, finalmente, caminho livre para conseguir sua segunda vitória na temporada. Mais uma vez, o brasileiro sofreu apenas com o desgaste físico do cockpit. As constantes freadas exigidas pelo traçado de Detroit fizeram Ayrton perder a sensibilidade no pé direito, que acabou adormecendo durante a corrida. Nada, porém, que o impedisse de cruzar em primeiro lugar, á frente de Jacques Lafitte e de Alain Prost.
Todos tiveram algum tipo de problema, mas eu tive menos problemas que a maioria, resumiu Senna ao jornal The New York Times de 23 de junho de 1986. Palavra do vencedor da prova e do novo líder do campeonato.