Depois de bela prova em Adelaide, infração da equipe ao regulamento causou desclassificação de Senna e azedou a despedida do piloto.
Com a confirmação de que Nigel Mansell não participaria do Grande Prêmio da Austrália, ainda em decorrência do acidente que havia sofrido nos treinos para o Grande Prêmio do Japão, Ayrton Senna passou a precisar apenas de uma vitória simples para ficar com o vice-campeonato da temporada de 1987 da Fórmula 1.
Mas simples não era uma palavra adequada para definir a tarefa que o brasileiro precisaria executar em Adelaide. Cheguei para uma missão impossível, afirmou Senna ás vésperas da corrida, Isso porque, além das sempre poderosas Williams, o brasileiro considerava que outras equipes estavam em condições de superar a Lotus na derradeira prova do ano. Em Mônaco e Detroit, a Lotus chegou a ser o seu ponto máximo de desenvolvimento. Depois, estacionou e as outras equipes evoluíram, como a Ferrari e a Benetton, explicou, sem esconder seu descontentamento com a agora futura ex-equipe – Ayrton já havia assinado com a McLaren para a temporada seguinte. Vou sair um pouco chateado, mas foi um ciclo na minha vida. Foi na Lotus que minhas seis primeiras corridas e onde aprendi várias coisas.
Ainda assim, Senna mantinha a esperança em um bom resultado, considerando que, em caso de uma boa largada no circuito de rua, poderia segurar o batalhão de trás, como havia segurado em Mônaco e Detroit. De qualquer maneira, prefiro um circuito de rua ás pistas de alta velocidade. O problema aqui, há pontos para ultrapassar, afirmou.
PONTO ALTO
O que seria um problema, na verdade, foi a solução – não para a vitória, que ficou com Gerhard Berger e a renovada Ferrari, mas para Senna cruzar a linha de chegada em segundo e, mais que isso, protagonizar o grande momento do Grande Prêmio da Austrália, uma ultrapassagem dupla que instantaneamente passou a figurar entre as mais espetaculares da história da Fórmula 1.
Aconteceu na 42a volta, quando Senna, ocupando a quarta colocação, acompanhava a briga de Alain Prost, da McLaren, e Michele Alboreto, da Ferrari, pelo segundo lugar. Quando os dois pilotos reduziram diante da Ligier de René Arnoux, o brasileiro viu a brecha, conforme explicou aos jornalistas. Vi que o Alboreto se jogava por fora, tentando passar o Prost. A McLaren hesitou, preocupada comigo e eu joguei por dentro, onde havia um espaço mínimo. Apontei, fechei os olhos e rezei… Se alguém fecha um pouquinho a porta, ia voar todo mundo.
A sensacional ultrapassagem deu novo ânimo ao brasileiro, que partiu em busca de Berger e do único resultado que lhe interessava, a vitória. A diferença, que era de 18 segundos, caiu para cerca de 7 segundos na 64a volta. Ainda restavam quase 20 voltas para o final, mas Senna, infelizmente, não conseguiu dar continuidade á perseguição.
Fui baixando o tempo, baixando o tempo e, quando cheguei a ter apenas 7,2 segundos de desvantagem, pensei que daria para lutar pela vitória. Só que aí aconteceu a única coisa que eu temia: os pneus começaram a acabar, a estabilidade foi indo para o espaço e eu não tive outra alternativa senão aliviar o ritmo e me conformar com o segundo lugar. Uma pena, pois do contrário certamente teríamos um final daqueles de arrepiar.
PONTO BAIXO
De qualquer forma, talvez tenha sido melhor assim. Após a celebração do pódio, ao lado do vencedor Berger e de Michele Alboreto, terceiro colocado, Senna recebeu a notícia que tinha sido desclassificado da prova. A informação o deixou absolutamente possesso com a equipe Lotus.
Dá pra entender um absurdo desses? Me mandar para a pista com um carro fora das especificações do regulamento? Agora imaginem se eu tivesse ganho a corrida e feito os pontos necessários para ser vice-campeão. Acho que, a esta hora, eu tinha matado o Peter Warr, exagerou.
O brasileiro explicou aos jornalistas o problema do carro. Como aqui os freios são exigidos ao máximo, e a temperatura é alta, abriram, na carenagem dianteira, pequenos orifícios, através dos quais três mangueiras de ar aumentavam a ventilação. Só que o conjunto todo, estou sabendo agora, acabou ficando 2,5 cm mais largo do que o permitido pelo regulamento. Agora, eu pergunto: será que eles não sabiam mesmo que isso era irregular ou achavam que ninguém iria descobrir?, questionou.
E foi com mais esse último desgaste que chegou ao fim, oficialmente, o outrora feliz casamento de Senna com a Lotus.