Nigel Mansell teve o dobro de vitórias, mas Nelson Piquet foi mais regular e celebrou o título mundial com duas provas de antecedência.
Sonhar com o título, qualquer um podia. Mas, antes mesmo do início da temporada de 1987, todos sabiam que a realidade havia limitado aos dois pilotos da Williams a possibilidade da conquista. Só restava saber quem seria o vencedor da disputa: Nelson Piquet ou Nigel Mansell.
No final, a experiência do brasileiro triunfou sobre a ousadia do inglês. E Piquet, até com certa folga, garantiu seu tricampeonato mundial de Fórmula 1, beneficiado pelo acidente de Mansell nos treinos do GP do Japão, que tirou o rival das duas últimas provas do ano.
Acima de tudo, o título foi um prêmio para a regularidade de Nelson. Afinal, quando se analisa apenas os resultados isolados das corridas, a temporada de Mansell foi superior. Ninguém venceu mais Grandes Prêmios do que ele ( seis, contra três de Piquet e de Alain Prost e dois de Ayrton Senna e de Gerhard Berger ), nem fez mais poles ( oito, contra quatro de Piquet e duas de Berger ).
Mas o que o inglês tinha de veloz, tinha também de estabanado. Foram quatro abandonos em 14 provas, geralmente fruto de seu estilo agressivo e inconsequente de pilotar, o que acabou sendo fatal para suas esperanças de título. O acidente em Suzuka, quando rodou sozinho e bateu com violência na barreira de pneus, sintetizou sua autodestrutiva temporada.
PELAS BEIRADAS
Nelson Piquet, por sua vez, teve paciência para chegar ao topo. Sua primeira vitória aconteceu apenas na oitava das 16 etapas do campeonato, na Alemanha, quando Mansell já havia conquistado três Grandes Prêmios. A diferença é que o brasileiro havia conseguido o segundo lugar em cinco das seis corridas que disputou. Evidentemente, a sequência de vices era frustrante, mas Nelson sabia que os pontos somados eram preciosos para seu objetivo maior, o tricampeonato. E assim, no início da segunda metade da temporada, quando finalmente acertou o carro e emendou três vitórias em quatro provas, Piquet ficou a meio caminho do título.
A conquista veio antes mesmo da largada do Grande Prêmio do Japão, penúltima etapa do ano, decepcionando aqueles que esperavam sua coroação em um duelo contra o companheiro da Williams dentro da pista. O campeão, porém, não se incomodou com a anticlimática comemoração. Para mim, está muito bem ganhar o título assim, declarou ao Jornal do Brasil de 31 de outubro de 1987. Já tive azar demais este ano.
Piquet terminou o ano com 73 pontos, contra 61 de Mansell. Ayrton Senna, da Lotus, foi o terceiro colocado, com 57 pontos, á frente de Alain Prost, da McLaren, que ficou com 46. Gerhard Berger, da Ferrari, que venceu as duas últimas corridas do ano, fechou o Top 5 com 36 pontos.
ESTATÍSTICAS
Após a temporada, a revista italiana Autosprint compilou alguns números interessantes do campeonato. Além de ajudar a entender a conquista de Piquet, eles também lançam luzes sobre a excelente performance de Ayrton Senna, que, mesmo pilotando uma Lotus que estava muito distante das Williams, fez boa figura nas estatísticas.
Ayrton, por exemplo, foi o piloto que percorreu a maior distância na soma de todas as corridas: 4.303 km, contra 4.130 do segundo colocado, o inglês Jonathan Palmer, da Tyrrel – aqui, uma revelação surpreendente, considerando-se que o inglês terminou o campeonato na 11a colocação. Na sequência, veio Nelson Piquet, com 4.110 km. Nigel Mansell foi apenas o nono, rodando somente 3.369 km, pouco para quem sonhava com o título.
Por outro lado, o veloz Mansell foi o piloto que deu mais voltas na primeira posição: 416, mais que o dobro da segunda melhor marca, pertencente e Gerhard Berger, 203 voltas. Piquet ficou apenas na terceira posição, com 154 voltas na liderança; Senna, com 108, foi o quarto colocado.
O campeão Piquet, porém, foi imbatível no quesito voltas na segunda colocação: 369, contra 207 de Senna e 125 de Mansell. Alain Prost foi o líder de voltas em terceiro lugar: 222, pouco a frente de Senna.
Ayrton terminou como líder de voltas totais: 939. E, se elas ainda não o conduziram ao título. seguramente lhe deram mais maturidade na pista. Em 1988, as coisas seriam diferentes.