Senna sentiu o gostinho da vitória em Monza, mas foi atrapalhado por uma Ligier e perdeu a liderança a seis voltas do final.
Nenhum piloto corre para chegar em segundo, evidentemente. Mas diante da enorme diferença técnica entre as duas Williams e as duas Lotus, qualquer segunda colocação deveria deixar Senna orgulhoso de seu desempenho. No Grande Prêmio da Itália de 1987, porém, a vitória esteve tão perto que foi difícil encontrar consolo no fato de ter deixado para trás uma das Williams, no caso a de Nigel Mansell, ou por ter brigado com Nelson Piquet praticamente até a bandeirada final. Dessa vez, o gostinho do champanhe no pódio foi amargo.
Não é sempre que posso fazer uma corrida quase que de igual para igual com a Williams. Falo quase porque só pude brigar até o final porque fiz a troca. De qualquer forma, poderia ter vencido. Faltou pouco, muito pouco, lamentou Ayrton após a prova, no relato de O Globo.
PARADA ÚNICA
O quase volta a aparecer quando se narra o desempenho de Ayrton em Monza. Saindo da quarta posição no grid, Senna caiu ainda na primeira volta para sexto, atrás de Piquet, Thierry Boutsen, da Benetton, Gerhard Berger, da Ferrari, Nigel Mansell e Alain Prost, da McLaren. Mas o brasileiro foi deixando o batalhão peso-pesado para trás e na metade da prova chegou á segunda colocação, pronto para perseguir o líder Piquet. Só que não seria preciso: Nelson parou nos boxes e deixou a liderança para Senna, que de virtual perseguidor passou a perseguido.
Foi quando Ayrton tomou a decisão de seguir até o fim com o mesmo jogo de pneus. O box me informou que eu deveria trocar, mas pedi que eles consultassem a Goodyear a respeito das condições em que estavam os pneus das outras equipes depois das trocas. A informação dos técnicos foi de que eu poderia até fazer a prova toda com os mesmos pneus, mas chegaria no limite máximo do desgaste. Como estava na frente, resolvi jogar tudo. Quase deu certo, não me arrependo, afirmou. Se eu tivesse feito a troca não teria vencido. Talvez nem fosse o segundo.
ÚNICO DESLIZE
Com os pés afundados no acelerador, Senna e Piquet faziam uma série de voltas rápidas. Com pneus novos e uma máquina mais ajustada – a suspensão eletrônica da Williams mostrou a que veio -, Piquet foi tirando, pouco a pouco, a diferença para o compatriota. Mas parecia que não seria o bastante: a sete voltas do final, a vantagem estava em 4,6 segundos, muito provavelmente suficiente para Senna ainda cruzar na frente.
Mas tudo ficou no quase – ele de novo… – quando apareceu, no meio da pista, o retardatário Piercarlo Ghinzani. Senna narrou assim o fatídico momento que o tirou da liderança, de acordo com o Jornal do Brasil: ou o Ghinzani não me viu, ou me viu e não se incomodou em mudar sua trajetória, Ele ficou bem no meio da pista, fechando a passagem. Quando vi que ele não ia abrir caminho freei, já era tarde demais perdi o controle do carro.
Houve vários momentos parecidos na corrida, vários outros acidentes em potencial com retardatários. Você acaba se segurando, deixando de fazer várias ultrapassagens e perdendo vários segundos, com medo de um acidente.
Quando voltou a pista após passar pela caixa de areia, Senna estava a sete segundo do novo líder. Ayrton até que tentou, mas não conseguiu alcançar Piquet, que cruzou a linha de chegada 1s806 antes de sua Lotus. Ficou a dúvida: não fosse o episódio com Ghinzani, Piquet teria chegado em Senna? E Senna teria segurado Piquet? É difícil afirmar que sim ou que não. Mas o carro estava andando bem e, apesar de os pneus já terem praticamente se acabado, eu estava conseguindo me manter á frente, afirmou.
De fato, as últimas voltas de Senna mostraram que o carro ainda tinha lenha para queimar. Mas, na prática, suas esperanças de vencer a corrida já haviam ido embora. O fato que dali em diante eu consegui diminuir a diferença para ele não significa muito: eu estava indo tirar o pai da forca e ele não, afirmou, no registro do jornalista Sérgio Rodrigues, no Jornal do Brasil de 7 de setembro de 1987.
CONSPIRAÇÃO JAPONESA?
Enquanto Senna buscava levantar a cabeça, Nigel Mansell a perdia novamente. O fato de comer poeira de seus dois rivais brasileiros deixou o inglês transtornado a ponto de levantar uma amalucada teoria. Está difícil competir com os prediletos da Honda. Quem me garante que os japonese não passaram a dar os melhores motores para o Nelson e para o Ayrton?, declarou, para surpresa dos repórteres.
Quem pode me dizer que um chip não falhará no computador que regula o meu motor? São suposições válidas, não? Bem….. O silêncio é a melhor resposta.