AYRTON SENNA E NIGEL MANSELL, BALANÇO DA TEMPORADA DE 1992; A REVOLTA DO LEÃO

Ayrton Senna e Nigel Mansell, balanço da temporada de 1992

Enfurecido com o que considerou traição da Williams na negociação do contrato, o novo campeão mundial Mansell decidiu abandonar o circo.

Não é exagero dizer que as maiores emoções da temporada de 1992 da Fórmula 1 foram vividas fora da pista. Dentro dela, o domínio absoluto de Nigel Mansell e de sua Williams FW14B tornou o Campeonato Mundial monótono: ao iniciar o ano com cinco vitórias consecutivas, o inglês abriu uma vantagem tão grande que, na prática, a disputa terminou antes mesmo de começar. A conquista oficial do título aconteceu no Grande Prêmio da Hungria, nada menos do que cinco corridas antes do fim do campeonato.

Mas todo o drama, suspense e mistério que faltaram no asfalto nos bastidores, graças a uma novela que se arrastou desde o início da temporada e envolveu três personagens principais – Nigel Mansell, Ayrton Senna e Alain Prost – batalhando por duas vagas na Williams em 1993. Informações extraoficiais davam conta de que a Williams havia acertado com Prost para que este voltasse á categoria; no acordo, o francês teria vetado a presença de Mansell e Senna como companheiros de equipe.

O desfecho da trama veio apenas no fim do ano, em duas cenas finais. A primeira delas ocorreu antes do Grande Prêmio da Itália, quando o já campeão Nigel Mansell anunciou sua aposentadoria da Fórmula 1. E a segunda, no fim de semana do Grande Prêmio de Portugal, quando Frank Williams anunciou que um de seus carros seria de fato pilotado por Prost na temporada seguinte – na prática, acabando com as esperanças de Senna de guiar um dos carros da equipe em 1993.

DECEPÇÃO

Por circunstâncias que escapam á minha vontade, decidi retirar-me da Fórmula 1 no fim da temporada. Tomei essa decisão com grande tristeza e depois de muito ter pensado. As relações entre um piloto e uma equipe de Fórmula 1 são vitais para o sucesso e dependem apenas parcialmente do dinheiro – porque elas definem quão seriamente a equipe apoia o seu piloto, mas aqueles que me conhecem bem entendem a importância do lado humano, da confiança mútua, da boa vontade, da integridade e dor fair play, que são a base de todas as relações humanas. E todos esses itens sofreram nas últimas semanas.

Fazendo uma recapitulação, sinto que minhas relações com á equipe Canon-Williams-Renault começaram a se deteriorar no GP da Hungria. Um acordo foi feito com Frank Williams antes da corrida, em presença de uma testemunha, e devo dizer que naquele momento eu me sentia feliz por poder correr com a Williams em 1993. Tendo vencido o Mundial, eu procurava defender o título com o que acredito ser um carro muito competitivo, continuou Mansell. Entretanto, três dias depois da Hungria, recebi um telefonema de um diretor da Williams, que disse ter sido instruído para me dizer que, como Senna dirigiria sem receber nada, eu, o novo campeão do mundo, deveria aceitar uma significativa redução na remuneração que havia sido acertada na Hungria – receberia menos do que estou recebendo este ano. Se não fizesse, Senna estava pronto para assinar esta noite. Rejeitei a oferta e disse que, se esses eram os termos, a Williams faria melhora se acertasse com Senna.

Por fim, o novo campeão mundial de Fórmula 1, do alto de seus 39 anos, afirmou que estava disposto a iniciar uma nova carreira. Entendo que ainda não estou pronto para me retirar definitivamente. Ainda amo as corridas e ainda quero vencer. Assim, posso olhar para a Indy Car World Series e ver as oportunidades disponíveis, se é que existem.

OUTRO LADO

Citado por Mansell como um dos pivôs do estremecimento da relação do inglês com sua equipe, Senna, como de hábito, não demorou a dar sua versão dos fatos. Não é verdade que as relações de Mansell com a Williams tenham se deteriorado a partir do Grande Prêmio da Hungria. As coisas não vinham bem desde o começo do ano. Prova disso é que Frank Williams nunca disse para ele que tinha um contrato assinado com Alain Prost. Quando o Mansell soube, as coisas pioraram de vez. E ele sabia do meu interesse em dirigir para a Williams muito antes do Grande Prêmio da Hungria. Não foi ali que as coisas começaram, garantiu o brasileiro, que, contudo, se solidarizou com o rival inglês.

Eu sei como é difícil viver uma coisa assim, porque na verdade eu estou exatamente na mesma situação, sem saber para quem vou correr ou se vou correr no ano que vem. Está é uma situação que esmaga as pessoas.

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