AYRTON SENNA GP DE MÔNACO 1992; LEÃO BRASILEIRO

Ayrton Senna vence o GP de Mônaco 1992; segura Leão

Em um dos finais de corrida mais hipnóticos da história da Fórmula 1, Senna segurou no braço os ataques de Mansell para conseguir a quinta vitória no Principado.

Na segunda quinzena de maio de 1992, o circo da Fórmula 1 se preparava para armar suas tendas em Mônaco. A temporada não havia chegado nem á metade: a prova no Principado seria a sexta das 16 etapas do Mundial de Fórmula 1. Porém, para os bons entendedores, o campeonato já havia terminado.

A bordo da imparável Williams FW14B, equipada com suspensão ativa e motor V10 Renault, o inglês Nigel Mansell havia dominado de forma absoluta todas as cinco provas até então, fazendo a pole e vencendo os GPs da África do Sul, México, Brasil, Espanha e San Marino. Naquele momento, o Leão liderava o campeonato com 50 pontos, 25 á frente de Riccardo Patrese, seu companheiro de equipe, seu companheiro de equipe.

Teoricamente este mundial está perdido. Temos que pensar desde já em 1993, afirmou Senna em Imola, antes mesmo da quinta vitória de Mansell. Na ponta do lápis, porém, as possibilidades existem, pois ainda faltam muitas corridas. Mudanças radicais já ocorreram muitas vezes na história.

DE OUTRO PLANETA

E se havia um lugar onde Senna poderia provocar uma dessas mudanças, mesmo que pontual, seria Mônaco. O brasileiro, afinal, venceu quatro vezes em Monte Carlo, incluindo as três últimas provas, consecutivamente. Nigel Mansell, por sua vez, jamais havia recebido a bandeira quadriculada no Principado – e olhe que o inglês já havia corrida 11 vezes por lá. Mansell, aliás, sequer conseguiu chegar ao pódio: seus melhores resultados foram dois quartos lugares, em 1982 e 1986.

Para ter alguma chance de vitória, Senna sabia que largar na pole position era fundamental. Mas o brasileiro tinha consciência de que conseguir sair na frente, mesmo com o retrospecto favorável, seria uma missão quase impossível diante da Williams que definiu como de outro plano. Assim, conseguir um lugar na primeira fila, á frente de Patrese, já estaria de bom tamanho. Mas nem isso foi possível. Mansell, como previsto, fez um tempo sobrenatural: 1m19s495, quase um segundo á frente de Patrese, que marcou 1m20s368. Senna andou no limite, mas ficou mesmo com a terceira posição: 1m20s608. Se eu estivesse na primeira fila, fazendo a Saint Devote em primeiro lugar, a corrida seria interessante.

O jeito é largar com cuidado, espera que Mansell ou Patrese não consigam sair bem, e ter calma, resignou-se Ayrton após o último treino de classificação.

NO BRAÇO E NA TÉCNICA

Mas no domingo da corrida, 31 de maio de 1992, Senna deixou a cautela de lado. O brasileiro largou de forma ousada, colocando-se arriscadamente entre Patrese e o muro, na primeira curva, para tomar a segunda posição do italiano. Enquanto Mansell disparava na frente, Ayrton tentava controlar os ataques de Patrese, que, aproveitando-se da força da Williams, pressionou a McLaren de Senna. O brasileiro, porém, não negociou a passagem; cerca de dez voltas depois, a pressão de Patrese diminuiu; o italiano começou a sofrer o assédio de Michael Schumacher, da Benetton, e passou a se preocupar em defender a terceira posição.

Dessa forma, tudo parecia encaminhado para mais uma vitória de Mansell, que liderava com uma folga de 30 segundos para Senna, e com o brasileiro contente por superar Patrese pela primeira vez na temporada.

Na volta 71 de 78, a surpresa: um problema com a Williams obrigou Mansell a parar nos boxes. Inicialmente, o relato era o de um problema no pneu, mas depois a equipe concluiu que a presença de uma peça solta (provavelmente uma pequena bola de de aço que se desprendeu de um rolamento) foi o que causou a perda de equilíbrio no carro. De qualquer forma, o imprevisto deu a oportunidade de Ayrton Senna assumir a liderança da prova, algo que ainda não havia ocorrido em 1992.

Apesar de faltarem poucas voltas para a bandeirada final, havia muito chão até que essa liderança se transformasse em vitória. Na volta 73 de um total de 78, a vantagem de Senna sobre Mansell era de cinco segundos; duas voltas depois, era praticamente inexistente. A três voltas do final, portanto, McLaren e Williams estavam coladas, com o inglês tentando de tudo para ultrapassar o brasileiro. Senna, porém, respondia com uma destreza defensiva poucas vezes vista, que lhe permitiu manter a ponta até o fim da corrida.

Ayrton cruzou a linha de chegada apenas 215 milésimos de segundo á frente de Mansell. Com a vitória, o brasileiro igualou-se a Graham Hill como o maior vencedor do Grande Prêmio de Mônaco: cinco triunfos. Após a bandeirada, os dois pilotos emparelharam os carros para receber os aplausos do público de Mônaco, ainda eletrizado pela fascinante disputa. Tanto eu como Ayrton estávamos andando acima do limite. Foi um belo espetáculo, rendeu-se Nigel Mansell.

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