AYRTON SENNA O NOVO MISTER MÔNACO; NO LUGAR CERTO NA HORA CERTA

Ayrton Senna vence o GP de Mônaco 1992; O novo mister Mônaco

Ayrton e a McLaren celebraram muito a vitória que caiu no colo do brasileiro. mas a relação de forças no campeonato, eles sabiam, não se alterava.

Quando Ayrton Senna trouxe sua McLaren de volta aos boxes, após receber a bandeira quadriculada, encontrou Ron Dennis com lágrimas nos olhos. A vitória do brasileiro comoveu o frio, cerebral e por vezes implacável chefão da McLaren. E não era para menos, aquele tinha sido o primeiro triunfo da equipe em uma temporada na qual tudo vinha conspirando a favor da principal rival, a Williams, dona de um conjunto superior. Por saber do significado que a vitória em Mônaco teria para todo o pessoal da McLaren, Ayrton não mediu esforços para levar o troféu para Woking.

A McLaren é uma grande equipe, que ganhou muitas corridas nos últimos tempos e que tem meios para fazer um carro vencedor. Neste momento, está longe e sem condições de lutar pelos primeiros lugares. Por isso, essa vitória deixou todos muito emocionados. Nas duas últimas voltas, eu pensava comigo: não vou largar a liderança de jeito nenhum, revelou. Quando Mansell chegou, eu não tinha mais carro, nem pneu, nem condições físicas. Procurei ficar no meu caminho e não dar espaço para a ultrapassagem.

O carro estava perdendo a aderência e eu, brigando com ele, já sentia dores nos ombros. Aí, resolvi frear muito, fazer as curvas em menor velocidade, mais sair sempre com o bico apontado certinho, reto, para poder acelerar mais forte. Foi fantástico, mas muito cansativo.

TRANQUILIDADE

Apesar de evidente frustração com a dominância da Williams e a disparada de Mansell no campeonato, Senna vinha se mantendo tranquilo em 1992. Como sempre, exigia de si mesmo e da equipe o melhor que poderiam dar, mas de uma forma mais leve do que em outras temporadas.

A nossa realidade é essa. Trabalhamos o melhor que podemos, mas encerrado o treino não há mais nada a fazer. Você tenta mudar um pouco a atmosfera para quebrar aquela tensão que todos nós temos. Afinal de contas, a McLaren e a Honda ganharam vários campeonatos, e eu ganhei três dos últimos quatro. E muito sucesso. De repente você se encontrar numa situação como essa, tecnicamente falando, é muito frustrante. E fácil extrapolar na parte negativa que isso pode trazer, sem nenhum benefício. Até com prejuízo. É preciso muita paciência e controle para aguardar o seu momento, seja lá quando ele for.

INTUIÇÃO

Em Mônaco, mesmo contra todos os prognósticos, Senna revelou que sentiu uma energia favorável desde o início. Muitas vezes a vitória escapa da mão da gente na última volta; outras, como hoje, ela cai na mão da gente. Desde o começo, tive a intuição de que poderia vencer, E o tempo todo eu corri pensando nisso. Na primeira parte, procurei poupar os pneus, mesmo com o Patrese andando muito perto. Depois, quando o carro foi ficando leve, acelerei, para fugir dele e tentar reduzir a diferença que me separava de Mansell. Quando ela chegou a 20 segundos, achei bom e estabeleci o ritmo de corrida que me interessava.

De acordo com o brasileiro, o ápice da corrida aconteceu no momento em que Ron Dennis o avisou pelo rádio de que Mansell havia parado nos boxes. A adrenalina veio toda. Todos os alarmes soaram, fiquei a mil. Mas fiz tudo logicamente. Tinha o controle total da situação, explicou. Quando estava para passar pela saída dos boxes, porém, Ayrton não tinha certeza se cruzaria antes ou depois do retorno de Mansell. E então apostou todas as fichas. Foi o momento de maior emoção. Cheguei a pensar: agora, acelero tudo e passo. Se ele decidir sair, vamos bater. Para sorte de todos, deu certo.

Apesar da euforia, Ayrton tinha plena consciência de que aquele resultado havia sido mesmo um ponto fora da curva. Apenas estava no lugar certo, na hora certa. Sorte para mim, azar para Mansell, mas as corridas são assim mesmo, afirmou. Não muda nada em termos de relação de forças no Mundial. Mansell e Patrese continuam sendo muito velozes.

Mesmo isso sendo verdade, a corrida serviu como um alerta para o líder do campeonato: jamais dar Senna por vencido. Ayrton demonstrou hoje que ainda não desistiu da luta pelo título. Ele fez o seu trabalho com tanta perícia que algumas vezes eu saía para um lado, depois para o outro e não havia brecha. Parecia que eram três McLaren á minha frente. Ayrton defendeu a posição de maneira fantástica, sem cometer um só erro e sem riscos, elogiou Nigel Mansell, lamentando, mais uma vez, sair de Monte Carlo sem o primeiro lugar no Grande Prêmio de Mônaco. Está é uma pista em que você precisa contar com um pouco de sorte.

UM FANFARRÃO

Ao final da prova, antes de subir ao pódio, Mansell ainda deu um show á parte. Dizendo-se exausto, afirmou que não conseguia subir a escada para o pódio. Foi ajudado por dois homens e sentou-se no chão, esbaforido, antes de finalmente encontrar-se com Senna e Riccardo Patrese no tablado.

Senna brincou com a situação, garantindo que era tudo encenação do piloto inglês. O Mansell deveria ser ator. Quando vi aquilo, fiquei com vontade de rir. Se ele estivesse mesmo exausto como parecia, não teria condições de guiar a Williams como fez nas últimas voltas. Teria batido, entrado num guard-rail. De qualquer forma, logo Mansell estava a postos em seu lugar no pódio, esguichando alegremente champanhe em Senna. Para isso, ele teve energia.

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