Agora sem polêmicas, Senna conquistou mais um título em Suzuka e se tornou, aos 31 anos, o mais jovem tricampeão mundial de Fórmula 1.
De novo, tudo se decidiria em Suzuka. O autódromo japonês havia sido o palco da definição do título nas quatro temporadas anteriores – as duas últimas, em tensas e polêmicas disputas entre Ayrton Senna e Alain Prost.
Em 1989, depois de uma colisão entre os dois carros da McLaren, o brasileiro conseguiu seguir na pista e recebeu a bandeirada, mas foi desclassificado e o título caiu nas mãos do francês; em 1990, uma batida entre os ex-companheiros de equipe logo na primeira curva acabou com a corrida de ambos e deu o bicampeonato a Ayrton.
Em 1991, ao menos em tese, a briga pelo título no Japão prometia ser menos acalorada. Senna liderava o campeonato com certa folga sobre o segundo colocado, Nigel Mansell; a tabela marcava 85 pontos para o brasileiro e 69 para o inglês. Dessa forma, eram dois os cenários possíveis para que Ayrton conquistasse o tricampeonato em Suzuka: (1) caso Mansell não chegasse em primeiro e (2) caso Senna vencesse a prova. (Se o brasileiro chegasse em segundo, ganharia seis pontos e, em caso de vitória de Mansell, ainda ficaria a 1 do título.) Ao inglês, portanto, só a vitória interessava para levar a disputa do título para a Austrália.
Quando chegou á terra do sol nascente, porém, Ayrton tratou de dar uma apimentadinha na disputa. O bicampeão garantiu que não pilotaria apenas na defensiva, como explicou haver feito nos GPs da Espanha e de Portugal, as provas imediatamente anteriores ao GP do Japão.
Vou fazer a minha corrida. Nas últimas duas vezes, fiz a minha e a dele, me esforçando para que não houvesse um acidente. Agora, ele vai ter de fazer a sua parte, sentenciou, fazendo questão de explicar que não tinha nada contra o rival. Tivemos problemas no passado, mas isso acabou. Ele é um piloto rápido. Eu também. Tentei estabelecer com ele uma maneira diferente de competir, sem correr riscos.
Mas, nas duas últimas corridas, ele foi longe demais. Em Portugal, eu e Berger fizemos tudo para evitar um acidente. Na Espanha, ele me jogou para a esquerda, quando havia suficiente espaço para passar sem problemas. Mansell teve todas as oportunidades.
TERCEIRO ELEMENTO
Na briga pela pole, não deu Senna nem Mansell: o dono do melhor tempo da sessão de classificação foi Gerhard Berger, com 1m34s700. Mas Ayrton garantiu o segundo posto e o importantíssimo lugar na primeira fila, cravando 1m34s898 e superando por pouco. Nigel Mansell, que marcou 1m34s922. Ou seja, além de sair na frente do rival, o brasileiro ainda teria o pole position da prova correndo a seu favor: se Berger vencesse a corrida, o título seria de Senna, independentemente de qualquer outro resultado.
TRÊS VEZES SENNA
Eram muitas as variáveis naquele 20 de outubro de 1991. Mas logo todas elas foram reduzidas a uma única – que levava diretamente ao terceiro título de Ayrton. Berger havia largado bem e disparado na frente; Senna, que mantinha a segunda posição, tratou de segurar o sedento Leão na unha. Na 10a volta, porém, em sua desesperada e afobada perseguição ao brasileiro, Mansell errou a freada, perdeu o controle do carro e saiu da pista. Fim do campeonato: Ayrton Senna se sagrava tricampeão mundial de Fórmula 1. Com 31 anos, tornava-se o mais jovem tricampeão da história. (Alain Prost e Jackie Stewart haviam conquistado a façanha aos 34 anos.)
Mas se o campeão havia acabado, a corrida ainda não. Agora sem a pressão de Mansell em sua traseira, Senna foi buscar a liderança, e ultrapassou até com certa facilidade o companheiro de equipe. Mesmo fazendo um pitstop melhor que o de Ayrton, Berger não conseguiu alcançar o companheiro de equipe. A vitória de Senna parecia consolidada.
A 300 metros da linha de chegada, o gran finale: o brasileiro desacelerou a McLaren e deu passagem para o austríaco, que agradeceu, cruzou em primeiro e venceu sua primeira corrida pela McLaren.
E este não foi o último gesto de grandeza daquela jornada: quando Senna estacionou sua McLaren nos boxes, Nigel Mansell o esperava para cumprimentá-lo pelo título. Quem diria. Depois de dois anos encerrados sob o signo da discórdia, o desfecho do Grande Prêmio do Japão de 1991 renovou a esperança por dias de paz na Fórmula 1. Ao menos até a estreia da temporada seguinte.