AYRTON SENNA GP DOS ESTADOS UNIDOS 1991; ESTREIA NOTA 10

Ayrton Senna GP dos Estados Unidos 1991; estreia nota 10

De carro novo, Senna iniciou a temporada de forma impecável em Phoenix. Era a arrancada rumo a mais um ano histórico.

Cinco pilotos novatos, duas escuderias estreantes, um novo regulamento: a temporada 1991 da Fórmula 1 chegava com diversas mudanças a Phoenix, no Arizona, para a disputa do primeiro GP do ano. O clima de novidade, porém, durou até Ayrton Senna ocupar seu lugar em uma sala de conferências do Hotel Sheraton para a entrevista coletiva convocada pelos patrocinadores da McLaren. Pergunta para o novo bicampeão: Você espera mais um duelo com Alain Prost pelo título deste ano? Resposta, entre risos: Bem, fisicamente vai ser meio difícil ter algum duelo, porque ele é muito baixo. Pronto: parecia 1990 outra vez.

Entretanto, logo se viu que era apenas uma brincadeira de Ayrton com a estatura do francês – 1,63 metro, isso ainda com boa vontade da fita métrica. Na sequência, o brasileiro já emendou: Prost era mesmo um dos grandes do automobilismo, inegavelmente, mas suas diferenças inviabilizavam o convívio. Trabalhamos juntos por dois anos e tivemos dificuldades em nos aproximar. Fora nossa paixão pelo automobilismo, não temos nada em comum. Eu faço as coisas do meu jeito, ele faz do dele. Mas sim, o duelo continuará neste ano, já que estamos com bons carros e devemos disputar as primeiras posições.

De fato, tanto a McLaren de Senna como a Ferrari de Prost levavam muitas novidades aos Estados Unidos, e a expectativa era enorme pelo primeiro confronto direto entre os bólidos modelo 1991. Nos treinos livres, houve um intruso na briga dos campeões: Jean Alesi, novo contratado da escuderia italiana, superou Ayrton no finzinho da sessão e cravou a pole provisória. Nos treinos de sábado, entretanto, tudo voltava ao devido lugar: Senna largou em primeiro, com 1m21s434, e Prost em segundo, 1m22s555. Ricardo Patrese e Nigel Mansell, da Williams, e Nelson Piquet, da Benetton, vieram a seguir, Alesi não conseguiu melhorar seu tempo e caiu para a sexta posição.

UM APERTO A CADA CURVA

O circuito de rua de Phoenix estava longe de agradar. Apesar de algumas correções no traçado em relação ao ano anterior, a pista ainda era vista como traiçoeira pelos pilotos, ainda mais depois de três meses de férias. Havia, no entanto, uma exceção bem conhecida por rivais, engenheiros e dirigentes. Vencedor do Grande Prêmio dos Estados Unidos em 1990, Senna tirava de letra a missão de pilotar grudado aos muros de concreto e passar um aperto a cada curva. No fim, um de seus superpoderes – ultrapassar aproveitando as brechas que os oponentes não enxergavam – nem chegou a ser testado. Deu Ayrton de ponta a ponta, com absoluta superioridade.

Pela primeira vez na Fórmula 1, um piloto recebia dez pontos, não nove, pela vitória, uma das novidades do regulamento daquele ano. E nada mais justo: essa poderia ser também a nota de Ayrton Senna naquele fim de semana. A corrida de Phoenix, em 10 de março de 1991, foi uma das exibições mais espetaculares de sua carreira.

Os especialistas acreditavam que só uma largada ruim ou falha mecânica tiraria a vitória do bicampeão mundial. Mas Senna não deu chance a Prost no sinal verde, disparando na frente com autoridade, e sua nova McLaren mostrou-se ainda melhor do que se esperava. O passeio de Ayrton no Arizona durou exatamente duas horas, tempo limite para que o GP fosse concluído, na volta de número 81, uma antes do previsto.

MAGO E MESTRE

O pódio foi composto exclusivamente por campeões mundiais: Senna em primeiro, Prost em segundo e Piquet em terceiro. Desenha-se um campeonato de altíssimo nível, com pelo menos sete pilotos em condições de vencer corridas: além dos três que subiram ao pódio, havia o companheiro de McLaren Gerhard Berger, Alesi e a dupla da Williams, Mansell e Patrese, que abandonaram nos Estados Unidos. Mas também começava a ficar claro que Senna estava em uma fase iluminada – e que aquele poderia ser apenas um aperitivo do que estava por vir.

A repercussão da vitória foi impactante. Chamado de mestre e mago pelos jornais europeus, Senna foi logo apontado como candidato óbvio ao tri. Ele venceu como sempre, com seu próprio estilo, mantendo-se em primeiro lugar do princípio ao fim, nunca se preocupando com o que estava acontecendo atrás dele, resumiu o diário italiano La Stampa.

O único que não considerou a performance perfeita foi justamente o exigente Senna. Não acertei totalmente no ajuste, porque acabei gastando demais os pneus. O carro era novo e eu não o conhecia, e assim ficou difícil encontrar o acerto, explicou. No fim, acabou dando uma pausa na autocrítica para conhecer o óbvio: Foi uma grande performance – grande a ponto de merecer elogios, ainda que indiretos, de Prost. Existem pilotos melhores que eu em pistas como essa, confessou o francês, resignado.

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