Depois de mais de uma década na Fórmula 1, aos 39 anos Nigel Mansell conseguiu o primeiro título com um segundo em Hungaroring.
Trinta e nove anos de idade, 12 deles na Fórmula 1. Nada menos do que 175 Grandes Prêmios disputados, com 29 vitórias, 26 poles e 26 voltas mais rápidas. Um total de 447 pontos.
Apesar desse respeitável currículo, os números que falavam mais alto eram os menores. Três vice-campeonatos. E zero títulos.
Graças a essa dolorosa estatística, o inglês Nigel Mansell, inegavelmente um dos pilotos rápidos e talentosos do automobilismo mundial, convivia há anos com a fama de azarado, atrapalhado e afobado. Mas tudo isso começou a mudar no início de 1992, quando o inglês se apossou da poderosa Williams FW14B e fez dela praticamente uma extensão de seu corpo. Demonstrado perícia e maturidade, o Leão venceu oito das dez primeiras provas da temporada, em uma soberania poucas vezes vista na categoria. A conquista oficial do título de 1992, havia ficado claro desde o início da temporada, era mera formalidade.
E a primeira chance de ela acontecer seria no Grande Prêmio da Hungria, a 11a das etapas do calendário, a ser disputada em 16 de agosto de 1992. Para ser coroado campeão do mundo pela primeira vez, bastava a Mansell ganhar a corrida ou, em caso de chegar em segundo, que o vice-líder Riccardo Patrese, seu companheiro de equipe, não passasse do quinto lugar.
A arrancada para a conquista deveria ser dada nos treinos: em Hungaroring, traçado difícil e com pouquíssimos pontos de ultrapassagem, largar na frente era colocar uma mão na vitória. E Mansell, que havia feito a pole position em nove das dez provas anteriores, tinha tudo para sacramentar ali mesmo o título. Porém, com Patrese indo para o tudo ou nada, e Mansell talvez sentido o peso da responsabilidade, as posições ficaram invertidas. O piloto italiano foi mias rápido nas duas sessões de classificação e ficou com a primeira posição no grid – 1m15s476, contra 1m15s643 do inglês, ambos os tempos estabelecidos ainda na sexta-feira. Na segunda fila largariam Ayrton Senna, da McLaren (1m16s267), e Michael Schumacher, da Benetton (116s524).
COM EMOÇÃO
Se a temporada foi um passeio, a corrida de conquista do título foi um sofrimento só. As emoções que faltaram nas provas anteriores sobraram em Hungaroring. Na largada, Mansell saiu mal e foi ultrapassado por Senna e Gerhard Berger, que por sua vez havia ganhado a posição de Schumacher. Enquanto Patrese disparava na frente, o inglês tentava retomar a terceira posição do austríaco, algo que aconteceu apenas na oitava volta. Aproveitando toda a potência da Williams, Mansell partiu para cima de Senna.
O brasileiro, contudo, fechou a porta de forma magistral para toda a qualquer investida do rival. O Leão então desconcentrou-se; na 31a volta, um erro do inglês permitiu a Berger retomar a terceira posição.
Três voltas depois, porém, Mansell deu o troca e viu a conquista do campeonato se aproximar quando, na volta 39, Patrese rodou e caiu para sétimo lugar. Nesse momento, a segunda posição já daria o título a Mansell. E na 55a volta, quando Patrese abandonou por problemas no motor, a folga ficou ainda maior: Nigel só precisaria chegar em terceiro para garantir seu primeiro mundial.
Mas não seria tão simples: um pneu furado levou o líder do campeonato aos boxes na volta 62. Mansell voltou em sexto, e, a 15 voltas do final, precisaria ganhar três posições para sair campeão da Hungria. Começa o ataque final do Leão. Schumacher rodou sozinho e deixou a quinta colocação para o inglês, que acelerou e ultrapassou Mika Hakkinen e Martin Brundle. Mansell já era o terceiro, mas ainda ultrapassaria Berger para retomar, ainda na volta 69, a segunda posição. Alcançar Senna era tarefa impossível e desnecessária: com aquele resultado, o título já estava em posse do homem da ilha de Man.
PALAVRAS DO CAMPEÃO
Nesses últimos dias eu me sentia como se tivesse algumas toneladas nas costas. Agora estou leve, afirmou, afirmou Mansell, admitindo o nervosismo nos dias anteriores á prova em Hungaroring. Acho que vocês todos vão concordar comigo: fiz um grande esforço para mostrar um sorriso. Mas a corrida foi incrível. Ayrton dirigiu de maneira impecável, escolheu os pneus certos e ditou o ritmo. Nós tivemos um pequeno problema e eu quero agradecer á equipe por ter trabalhado com grande eficiência.
O inglês não imaginava que a conquista fosse mexer tanto com ele. Quando alguém como eu, depois de ter sido vice-campeão por três vezes, pensa no título, acha que já tem experiência, que ele não vai representar grande coisa, que vai ser apenas como vencer outra corrida. Hoje sou obrigado a confessar que não é assim. Ganhar o campeonato mundial é uma das coisas mais fantásticas que podem acontecer na vida de um piloto, garantiu ele, que, contudo, não acreditava que a conquista mudaria sua forma de ser. Acho que não. Vou continuar a ser Nigel Mansell. Apenas um pouco mais feliz.