AYRTON SENNA NO KART, O ÚLTIMO DUELO; VOLTA ÁS ORIGENS

Ayrton Senna no kart, o último duelo com Prost

A aproximação entre Senna e Prost teve mais um capítulo ainda em 1993, no Master Karting, evento beneficente em Bercy, na França.

As imagens de Senna e Prost juntos no pódio de Adelaide, em 7 de novembro de 1993, já começavam a rodar os noticiários de todo o mundo quando ambos se apresentaram para as entrevistas pós-corrida. Para Ayrton, era desnecessário discorrer sobre o que havia acontecido minutos antes. Na há muito a dizer nesses momentos. Prost é um grande campeão e minha atitude explica tudo. O gesto vale mais que mil palavras e foi sincero, reflete meu sentimento, explicou o brasileiro, que ainda dividiu com os jornalistas uma reflexão sobre os caminhos de sua vida profissional até então. Minha carreira é feita de muitas vitórias e muitas encrencas. Errei muito, mas aprendi com os erros. E este ano, particularmente, me descobri muito. Estou mais maduro, mais completo. E tenho certeza de que nos próximos anos tanto eu como a torcida do Brasil festejaremos muitas vezes.

Prost, por outro lado, foi mais detalhado em seu relato. Fiquei surpreso quando Senna estendeu a mão para me felicitar. Depois, o que aconteceu no pódio foi apenas consequência. Estou contente. Para mim era um verdadeiro absurdo duas pessoas com suas vidas dedicadas ao esporte, que competem juntas durante todo o ano, respeitando-se profissionalmente, não conseguirem uma relação pessoal. Foi bom para mim, foi bom para o Senna, foi bom para o esporte, declarou.

Um dos jornalistas lembrou que os tenistas Bjorn Borg e John McEnroe, rivais ferrenhos durante suas carreiras, se tornaram amigos após a aposentadoria. Prost, porém, preferiu não fazer prognósticos – era hora de simplesmente aproveitar aquele momento.

A vida vai dizer como será o futuro. Não dá para falar sobre o futuro sem cair no passado, e eu quero isso. Vamos deixar as coisas correrem naturalmente. Será melhor assim.

DUELO DE MESTRES

Pouco mais de um mês depois daquele fato, quis o destino que Senna e Prost se reencontrassem na pista – agora de kart. Ambos participaram do Masters Karting, disputado em Paris, na região de Bercy, nos dias 18 e 19 de dezembro, em Paris. Uma corrida beneficente que entraria para a história como o último duelo entre os rivais.

Senna se apresentou para o desafio vestindo um macacão branco, para evitar conflito com os patrocinadores – tanto os da McLaren, com quem ainda estava sob contrato, quanto os da Williams, seus futuros empregadores. Seu kart era o número 2.

TEORIA

Pilotar um kart sempre era uma experiência agradável para Senna, que tinha até um kartódromo particular na fazenda da família, em Tatuí. Você tem que conduzir os karts de lado porque eles são pequenos, a base e os pneus são pequenos, então a reação tem que ser muito rápida. Você está sempre guiando de lado, porque só assim você conseguirá se posicionar melhor para ter aderência na pista. Esse estilo de pilotagem é muito diferente de um carro de corrida, afirmou. Em um carro de corrida, se você tentar se apoiar em apenas um lado ele irá deslizar e sair da pista. Em um kart você tem que ser duro e agressivo, mas também tem que ser preciso. Você usa o seu corpo e, normalmente, o piloto sofre com o banco, especialmente se ele estiver um tempo sem prática.

PRÁTICA

A programação previa a disputa de duas corridas – com a participação de Damon Hill, Johnny Herbert, Philippe Alliot e Andrea de Cesaris, entre outros. Na primeira prova, tanto Senna quanto Prost tiveram problemas nos karts e acabaram não brigando por posições.

Na segunda, porém, as coisas esquentaram dentro da pista. De Cesaris manteve a liderança durante a maior parte da prova, seguido por Ayrton e por Prost, que travavam uma bela batalha pela segunda colocação. Senna conseguiu se manter á frente, mas, quando se preparava para atacar o italiano, teve problemas mecânicos e foi obrigado a abandonar, faltando cerca de sete minutos para o fim da prova.

Prost então pisou fundo e conseguiu ultrapassar De Cesaris e garantir a festa francesa em Paris. Apesar dos imprevistos, a equipe de SennaAyrton, Jean-Marc Gounon e Oliver Grouillard – ainda terminou em terceiro lugar.

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