Com o avanço das Williams, as reclamações de Senna no início de 1991 foram compreendidos, e McLaren, Honda e Shell trataram de melhorar o desempenho.
Não foi por falta de aviso. No início do campeonato, quando estava ganhando corridas e liderando a tabela com folga, Ayrton Senna insistentemente cobrava melhorias da McLaren e da Honda; o piloto sentia que os louros das vitórias estavam deixando a escuderia e a montadora acomodadas. Para muitos, as reclamações, que não raro evoluíam para críticas públicas, eram fruto apenas do perfeccionismo do piloto. Mas quando as Williams começaram a deixar os carros de Ayrton e de Gerhard Berger comendo poeira, sem que estes pudessem esboçar qualquer tentativa de reação, os motivos da preocupação do bicampeonato mundial ficaram claros.
Eu dizia que iríamos ter problemas, e as pessoas achavam engraçado, diziam que eu era chorão, lembrou Ayrton nos boxes de Hungaroring, ás vésperas do Grande Prêmio da Hungria de 1991. Quando se tem a sensação de que as pessoas estão procurando acertar realmente, pelo menos você tem uma motivação de trabalhar melhor. Quando não se sente isso, é duro. Por isso, em que pese a sequência recente de maus resultados, Senna agora estava aliviado ao perceber que, finalmente, seu recado havia sido compreendido. Os esforços que a equipe vinha fazendo para melhorar suas máquinas eram reconhecidos pelo piloto, que estava confiante que, com isso, os dias de vitórias voltariam.
PAIXÃO Á PRIMEIRA VISTA
Uma das inovações preparadas pela McLaren que mais entusiasmava Ayrton era o câmbio semiautomático. Ferrari e Williams já possuíam o sistema há algum tempo, mas a escuderia de Ron Dennis passou a correr mais rapidamente atrás do prejuízo no segundo trimestre de 1991.
Senna testou pela primeira vez uma McLaren equipada com esse tipo de transmissor em 31 de julho de 1991, em Silverstone. E ficou encantado – tanto que cancelou todos os testes de aerodinâmica e motor apenas para se familiarizar com o câmbio.
Esta foi minha primeira experiência, e o câmbio ainda não está respondendo como deve. Mesmo assim, já deu para sentir a diferença. O câmbio automatizado permite guiar com mais agressividade, com mais constância. A margem de erro também cai bastante, pois basta apertar um botão para trocar a marcha. Sem ele, ás vezes se erra a marcha e isso pode custar uma corrida. Com as duas mãos no volante o tempo todo, posso dar mais velocidade nas curvas. Sem falar que me canso menos. O carro fica mais constante, mais equilibrado. É muito mais fácil dirigir, constatou. Acho que o câmbio é tão bom que não contar com um equipamento desse hoje em dia é uma verdadeira desgraça.
Entretanto, Senna tinha consciência de que ainda era preciso algum tempo até que a McLaren arredondasse o sistema e o levasse para as corridas. Não posso correr o risco de não marcar pontos, e ele ainda não é confiável. A ideia inicial era usá-lo pela primeira vez nos treinos de classificação no Grande Prêmio da Hungria. Só que, ainda na manhã de sexta, Senna bateu no treino livre e danificou o carro equipado com o novo câmbio. Como não havia tempo hábil para consertá-lo, voltou para o manual.
COMBINAÇÃO PERFEITA
O câmbio semiautomático, porém, não fez falta nos treinos de classificação. Isso porque o carro que foi entregue a Senna tinha uma série de melhorias na aerodinâmica – a começar pelo peso, 13 kg mais leve. O novo combustível de classificação desenvolvido pela Shell também foi crucial para a pole. Eu levei muito tempo para convencer a Shell e a equipe de que precisávamos melhorar a gasolina, e eles conseguiram os resultados muito rápido, elogiou.
Ayrton também fez questão de dar crédito á Honda, que finalmente lhe entregara um motor para fazer frente ao Renault das Williams. A Honda estabeleceu tal superioridade nos últimos anos que era até difícil para eles motivarem seu pessoal. A consequência é que a Renault passou á frente. Agora eles perceberam e fizeram um motor totalmente novo em apenas 30 dias, uma coisa que costuma demorar um ano.
INJEÇÃO DE ÂNIMO
Mas a vitória em Budapeste não iludia Senna: ainda havia um longo caminho a ser percorrido até que a McLaren superasse a Williams. Eles só não ganharam porque consegui largar na frente. Não fosse isso, eles seriam primeiro e segundo de novo, afirmou. No conjunto, o carro deles ainda está bem na frente.
Só que as cobranças ficariam para depois: naquele momento, o melhor a fazer era comemorar. Essa vitória foi importante para mim e para a equipe pelo menos pelo lado psicológico. Acho que ela vai dar mais incentivo para o imenso trabalho que a McLaren, Honda e Shell estão fazendo. A verdade é que ainda precisamos melhorar muito. Temos alguns problemas técnicos, voltamos a enfrentá-los hoje, mas não importa, O que importa é que vencemos. A chama do tricampeonato de Ayrton Senna continuava acesa.