Apesar dos problemas na prova, Senna contou com as quebras de seus adversários diretos para vencer em Spa e se aproximar do título.
A maré havia virado. De novo. Dois meses antes, a onda chamada Nigel Mansell crescia e ameaçava a liderança de Ayrton Senna. Quando parecia que o inglês iria mesmo invadir a praia do brasileiro, veio a vitória da McLaren no Grande Prêmio da Hungria.
A corrida seguinte era o Grande Prêmio da Bélgica, onde Mansell precisava a todo custo vencer para voltar a rondar a liderança. Mas desde o primeiro treino em Spa-Francorchamps, uma coisa ficou clara: Ayrton Senna era o mesmo o senhor das águas em 1991.
Agora tudo parecia conspirar a favor do bicampeão mundial. A McLaren havia desembarcado na Bélgica com um novo motor e um chassis mais leve, e Ayrton extraiu o máximo dessa combinação: com uma volta espetacular 1m49s100, novo recorde extraoficial do circuito, média de 229 km/h, o brasileiro garantiu a primeira colocação no treino de sexta, quase 1,5 segundo á frente de Nigel Mansell. No sábado, Ayrton foi além e conseguiu melhorar ainda mais seu tempo 1m47s811, garantindo mais uma pole. Já na Williams, as coisas não andavam bem. Patrese, que havia registrado a segunda melhor marca do dia 1m48s661, foi punido por um problema com sua marcha á ré e caiu para a 17a posição no grid. O consolo: Mansell, que havia feito apenas o quarto tempo 1m48s828, ganhou um posto na largada graças á punição do companheiro de equipe e sairia em terceiro.
Alain Prost, da Ferrari, fez o segundo melhor tempo e garantiu sua vaga na primeira fila. Nada como um dia após o outro: largar ao lado de Prost – um rival cuja simples presença antes representava uma verdadeira ameaça – agora era boa notícia para Ayrton, já que o francês seria mais um obstáculo para segurar o ímpeto do inglês.
COMPENSAÇÃO TRANSCENDENTAL
Em 25 de agosto de 1991, data da corrida, a sorte permaneceu ao lado de Senna. Os problemas que poderiam ter custado caro – um pit stop desastroso da McLaren, que fez o brasileiro perder a posição para Mansell no primeiro terço da corrida, e uma travada de câmbio na segunda metade da prova – acabaram neutralizados.
Na metade da disputa, Mansell era o líder e caminhava para o que parecia ser uma vitória tranquila quando seu motor estourou na 22a volta. Senna herdou a liderança e agora precisava se preocupar com Jean Alesi, da Ferrari, que vinha em ritmo forte. Mas o motor do francês também não resistiu.
Assim, Senna apenas administrou o triunfo que o colocou 22 pontos á frente de Mansell, a cinco provas do final. Com mais de 29 pontos, o brasileiro garantiria matematicamente o tricampeonato.
Acho que a vitória foi um golpe de sorte. Eu não tinha carro para ganhar. Mansell era mais forte do que eu, sem dúvida. Acho, porém, que foi uma corrida de riscos. Alguns arriscaram nos pneus, outros no motor. Daí o grande número de quebras, explicou. Acho que foi uma compensação pelos azares que tive nesta temporada, pois já perdi muitos pontos por ter ficado sem gasolina na última volta ( na Inglaterra e na Alemanha ). O universo tira, o universo devolve.
MICHAEL SCHUMACHER, O NOVATO; A ESTREIA INUSITADA DO PILOTO ALEMÃO NA FÓRMULA 1
Dez dias antes do Grande Prêmio da Bélgica, o piloto Bertrand Gachot, da Jordan, foi condenado a 18 meses de prisão na Inglaterra por ter disparado gás paralisante em um motorista de táxi após uma briga de trânsito em Londres. A situação inusitada obrigou o irlandês Eddie Jordan, dono da equipe, a agir rápido para substituir o piloto encarcerado.
E sua escolha acabaria mudando a história da Fórmula 1. Jordan entregou o cockpit a um alemão de 22 anos, apadrinhado pela Mercedes-Benz, que havia vencido o campeonato de Fórmula 3 em sua terra natal em 1990 e também fazia bom papel no Mundial de Protótipos. Seu nome: Michael Schumacher.
O novato não demorou a mostrar a que veio. Nos primeiros treinos na Fórmula 1, Schumacher garantiu a sétima posição no grid de largada no GP da Bélgica – seu companheiro de equipe, Andrea de Cesaris, fez apenas 0 11a melhor tempo.
Na corrida, porém, o alemão não teve sorte. Logo na primeira volta, a caixa de câmbio da Jordan quebrou e ele foi obrigado a abandonar. Sua carreira na Fórmula 1 continuaria na Benetton, que, já para a corrida seguinte, demitiu o brasileiro Roberto Pupo Moreno para contratar Schumacher. Isso não foi de todo certo – mas dá para dizer que estava errados?