A convite de Emerson Fittipaldi, Ayrton pilotou, pela primeira e única vez na carreira, um carro da famosa categoria norte-americana. Um dia para a história.
Em dezembro de 1992, com as especulações sobre o destino de Ayrton Senna na temporada seguinte a todo vapor, o brasileiro colocou um ponto de interrogação ainda maior na cabeça dos fãs de automobilismo. A convite de Emerson Fittipaldi, o tricampeão mundial embarcou para os Estados Unidos a fim de testar um carro de Fórmula Indy. A pergunta estaria mesmo disposto a trocar de categoria em 1993?
Com a experiência de ter vencido títulos mundiais em ambas as categorias, Emerson estendia o tapete vermelho da equipe Penske para convencer Ayrton a assumir o posto de Rick Mears, que havia anunciado naquele ano sua aposentadoria. Ao viajar para o teste no circuito de Firebird, nos arredores de Phoenix, no Arizona, o tricampeão mundial afirmava que ainda não havia nenhum tipo de negociação em curso com equipes da Fórmula Indy, mas garantia que não descartava nenhuma opção.
Se sentir o mesmo carro da Fórmula Indy a mesma emoção que sinto na Fórmula 1, meio caminho para eu correr nos Estados Unidos em 1993 estará percorrido. Eu sempre tive vontade de experimentar um carro de Fórmula Indy, mas nunca foi possível, pois eu estava completamente ligado á Fórmula 1. Agora, que estou decidindo o meu futuro e não tenho compromisso com equipe alguma, chegou a hora de satisfazer a minha curiosidade, afirmou Senna, que elogiou os carros da competição norte-americana. Com uma construção mais artesanal do que o Fórmula 1, o Fórmula Indy é o puro carro de corrida.
NINGUÉM ESQUECE
No domingo, 20 de setembro de 1992, Senna estreou no cockpit de um carro de Fórmula Indy. O teste aconteceu a bordo do modelo Penske-Chevy 92 usado naquela temporada por Mears e Fittipaldi, que inclusive preparou o carro para o compatriota, aquecendo os pneus no frio de dois graus negativos.
E Senna, em pouco tempo, mostrou que não estava para brincadeira, como recordou, anos mais tarde, Rick Rinaman, chefe dos mecânicos da Penske. Na segunda volta, talvez terceira, ele foi mais rápido que Emerson. Ficamos simplesmente impressionados, afirmou Rinaman. Ficamos sem palavras. Apenas as explicações dele sobre o carro após as poucas voltas que deu foram incríveis.
Senna também vibrou com a oportunidade. A Indy é melhor do que eu esperava. O carro é diferente do da Fórmula 1, mas é bom de dirigir, é gostoso. Me voltou o tesão de pilotar!, exclamou Senna, comparando aquele momento ao de seu primeiro teste com um Fórmula 1, em 1983.
Eu me lembro bem da sensação que senti ao entrar naquela Williams. E aqui, agora, quase dez anos depois, me aconteceu o mesmo. Eu estava ansioso, nervoso, e assim que comecei a pilotar o carro do Emerson tive uma sensação parecida. Voltei a sentir o amor pela coisa. Todos os esforços e o estresse de nossa profissão só podem ser justificados por essa sensação, explicou, dando o devido crédito a Fittipaldi.
Emerson é responsável pelo meu sonho de ser piloto. E agora está fazendo isso de novo. Ele é que botou fogo para que eu viesse para cá, e, ao chegar aqui, senti que o vírus despertou dentro de mim. Ele estava adormecido, mas quando ligaram o motor, eu senti que ele acordou.
Emerson, por sua vez, não escondeu sua emoção ao ver Senna pilotando um bólido da Indy. Estou muito feliz. Ninguém acreditava nessa possibilidade e hoje ela está aí. Pelo jeito dele, deu para ver que está adorando e acho que logo estará aqui com a gente. Já pensou, mais um brasileiro nessa equipe?, imaginou, contente. O bicampeão mundial de Fórmula 1 (1972 e 1974) e vencedor do campeonato da Indy em 1989 havia terminado a temporada da Fórmula Indy em quaro lugar, com quatro vitórias em 16 corridas.
PORTA ABERTA
Em 23 de dezembro, de volta ao Brasil, Senna deu uma entrevista coletiva em seu escritório paulistano ao lado de Emerson. Tive uma experiência interessante no último fim de semana. Mas quero deixar bem claro que isso não significa nenhum compromisso meu com a Penske ou com a Fórmula Indy. Serviu para eu formar uma opinião que poderá ser decisiva para o próximo ano, quando vou tomar uma decisão definitiva, afirmou, sempre deixando o futuro em aberto. Sei que hoje as possibilidades de ir para a Fórmula Indy um dia são bem maiores.
Não aconteceu, mas aquele teste, ao menos, ficou para a história do automobilismo.