AYRTON SENNA O ÚLTIMO DOMINGO COM A MCLAREN; SIMPLESMENTE O MELHOR

A irretocável performance de Senna na Austrália foi reverenciada pela equipe e eternizada pela homenagem de Tina Turner.

Ayrton Senna não conseguiu segurar as lágrimas ao final da prova em Adelaide. A corrida da Austrália representa para mim o fim de uma época. Estou deixando na McLaren uma parte da minha vida. Amigos. Vou sentir falta das pessoas, acima de tudo. E a verdade é que, desta vez, diante do tamanho daquela despedida, seria mesmo impossível disfarçar seus sentimentos. Sou muito emotivo. Vivo de emoções. Muitas vezes não dá para demonstrar isso, principalmente numa profissão como a nossa, que não deixa espaço para manifestações espontâneas. A verdade é que sou um coração mole, declarou, totalmente sincero.

O mais difícil foi antes da prova. Senti que o pessoal ao lado do carro estava emocionado, apertando os lábios. Também fiquei emocionado e tive que fazer um esforço imenso para me controlar. Dizia para mim mesmo: você tem que manter a concentração, não pode permitir que a emoção o domine, revelou. A última meia hora antes da largada foi de matar. E acho que me atingiu mais porque queria ganhar de qualquer jeito, para a equipe e para mim mesmo.

Após a vitória, o tricampeão afirmou que o Grande Prêmio da Austrália passaria a figurar no rol dos grandes momentos de sua carreira – evidentemente, o Grande Prêmio do Japão de 1988, palco da conquista do primeiro título, ainda seguia na primeira posição. Mas reconheço que esta corrida foi fantástica. Este foi o melhor Grande Prêmio aqui na Austrália, onde já consegui outra vitória, em 1991. Sempre tive carros competitivos aqui, desde os tempos da Lotus. A McLaren estava ótima.

A LÁBIA DE RON

Por falar em McLaren, assim como aconteceu no pódio do Grande Prêmio do Japão, Ayrton Senna e Ron Dennis esqueceram as desavenças recentes e se cumprimentaram carinhosamente após a corrida. Disse a ele que o mais importante para nós era lembrar este bom momento e os bons tempos que tivemos juntos. Os recordes e os campeonatos que ganhamos lado a lado falam por si. Tenho o maior respeito por Ron Dennis e estou feliz por ter vencido minha última corrida para ele, afirmou Senna.

O tricampeão ainda revelou que Dennis, maroto, aproveitou a emocionante ocasião para tentar um último apelo. Nós nos conhecemos há muitos anos, basta um olhar que já sabemos o que o outro está pensando. Estávamos muito emocionados. Ele me agradeceu pela vitória e disse: Nunca é tarde para você mudar de ideia. Balancei a cabeça, com um sorriso, e ele emendou: Não precisa ser agora, mais daqui a dois anos.

Em meio as celebrações, Senna ainda fez uma rápida, porém importante análise de como aquele ano de 1993 o ajudaria a projetar seus próximos passos. Minha carreira é feita de muitas vitórias e muitas encrencas. Errei muito, mas aprendi com os erros. E este ano, particularmente, me descobri muito, revelou. Estou mais maduro, mais completo. E tenho certeza que nos dois próximos anos tanto eu como a torcida do Brasil festejaremos muitas vezes.

UMA FÃ FAMOSA

Ao deixar o box da McLaren, Ayrton Senna resolveu conferir parte do espetáculo da cantora Tina Turner, que fazia o show de sua turnê What´s Love?, em um palco montado ao lado da pista de Adelaide. Ao saber da presença do piloto no local, a estrela norte-americana não hesitou e alterou a ordem das músicas para cantar The Best em sua homenagem. Ao final da música, Tina chamou o brasileiro ao palco e o reverenciou publicamente. Sou uma fã!, derreteu-se, arrancando sorrisos tímidos de Ayrton. E decidiu soltar um bis da canção, caso alguém tivesse perdido a mensagem.

A partir desse momento, a canção ficaria para sempre associada a Senna. Em 2004, dez anos depois do acidente fatal do tricampeão, Tina relembrou, em depoimento á revista Manchete, o encontro em Adelaide.

Quando cantei pela primeira vez The Best, ainda não pensava em Senna, mas pensava numa pessoa obstinada, que lutava pela vida, numa pessoa sem erros, perfeita, que não existia. Mas quando pude conhecer Senna pessoalmente, senti na hora que ele personificava The Best. Na segunda vez que o vi, ele estava na plateia VIP de um dos meus shows. Não resisti. Quando o vi á minha frente, não tive dúvidas. Chamei-o ao palco para que ele cantasse comigo a sua música. Aquele momento foi mágico, pois eu percebia a sua felicidade.

Aceleraaa com a gente, Balaclava F1.

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