Na última corrida pela McLaren, Ayrton quebrou a sequência de poles da Williams e venceu sem dar chances ao agora tetracampeão Alain Prost.
Cinco anos, 95 Grandes Prêmios, 45 poles positions, 34 vitórias, 12 voltas mais rápidas, 441 pontos. Três campeonatos mundiais. E uma última corrida. Aquele Grande Prêmio da Austrália de 1993 não seria apenas o término de uma temporada da Fórmula 1. Muito mais do que isso, ele representaria o encerramento de uma era: em Adelaide, se escreveria o capítulo final da vitoriosa parceria entre Ayrton Senna e a McLaren.
E o piloto brasileiro, claro, gostaria de encerrar essa história no degrau mais alto do pódio. Quero que a última seja uma boa corrida, afirmou Senna, buscando não aumentar a expectativa em torno de seu adeus da McLaren, antes de partir para a nova carreira na Williams em 1994. Eu gosto de correr em Adelaide, um dos três melhores circuitos de que a Fórmula 1 dispõe. E como esse é um GP em que o Mundial já está decidido, há pouca pressão, um certo ambiente de festa no paddock.
De fato, as celebrações deram o tom na véspera da corrida, que aconteceria dia 7 de novembro de 1993. Alain Prost já havia conquistado o título e faria na Austrália sua última prova na Fórmula 1, o que desencadeou uma série de homenagens ao francês da Williams, agora tetracampeão. Senna, por sua vez, recebeu uma festa da Marlboro, com o direito a exibição de um filme com os melhores momentos de sua trajetória a bordo dos bólidos vermelhos e brancos da McLaren.
E eles eram muitos – inclusive daquele ano de 1993, apesar da turbulência sentida fora da pista por problemas contratuais e financeiros com a direção da McLaren. Ao lembrar disso, Senna admitiu que as questões burocráticas quase o fizeram optar por um período sabático longe da categoria mais rápida do automobilismo. Se tivesse parado de correr por um ano, poderia ter sido o fim de minha carreira, declarou, aliviado por ter mudado de ideia. E hoje sei que a decisão que tomei foi correta: as vitórias deste ano, pelas circunstâncias, me deram grande satisfação.
TRÊS EM UM
Além de encerrar á altura essa fase de sua carreira, uma vitória em Adelaide automaticamente faria de Ayrton o protagonista de mais duas conquistas. A primeira: garantiria a ele o vice-campeonato mundial de pilotos – naquele momento, Damon Hill, da Williams, estava á sua frente na tabela de classificação, 65 pontos a 63. A segunda: o triunfo faria a McLaren ultrapassar a Ferrari como a equipe com mais vitórias em Grande Prêmios na história da Fórmula 1 (ambas estavam empatadas com 103).
A supremacia da Williams e de seu motor Renault era visível, entre outros pontos, na briga pelas poles positions: Prost e Hill haviam conquistado todas as poles da temporada de 1993 até então: 15. Pois Ayrton acelerou fundo para quebrar essa sequência. Com o tempo de 1m13s371, obtido ainda no primeiro treino, garantiu a primeira posição no grid. Atrás dele vinham, claro, as duas Williams: Prost (1m13s907) e Hill (1m13s826).
Tenho um feeling muito especial para a corrida e Adelaide. Acho que temos condições de obter um grande resultado. A gente andou para trás na metade do campeonato e o período ruim durou até o GP da Itália. A partir de Monza, o combustível melhorou, em Portugal vieram os freios hidráulicos e melhorou a aerodinâmica. No Japão e na Austrália, o conjunto está funcionando de modo perfeito, declarou.
NA HISTÓRIA
O feeling de Ayrton estava certo. Os analistas mais ousados poderiam dizer até que foi mais difícil para ele segurar a ansiedade antes da prova do que vencer a corrida. A largada foi adiada por suas vezes, primeiro por problemas com Ukyo Katayama, da Tyrrell, e depois com Eddie Irvine, da Jordan. Mas quando a luz verde acendeu pra valer, Senna mostrou que não deixaria escapar a chance de sair da McLaren por cima. O tricampeão impôs um ritmo alucinante nas primeiras voltas, distanciando-se de Prost o suficiente para poder administrar a liderança no restante da prova. A bandeira quadriculada veio com uma vantagem de quase 10 segundos sobreo o francês.
Missão cumprida. Vitória na última corrida pela McLaren. E que seria também – algo absolutamente inimaginável a última vitória da carreira de Ayrton Senna.
Aceleraaa com a gente, Balaclava F1.