AYRTON SENNA RUMO AO SEGUNDO TÍTULO

Ayrton Senna, rumo ao 2* título 1989

Senna pertencia ao seleto clube dos campeões mundiais de Fórmula 1. Era o terceiro piloto brasileiro a conquistar o almejado título que continuava nas mãos do Brasil, já que, no ano anterior, 1987, Nelson Piquet conquistara seu terceiro título mundial.

Depois de um ano na Toleman e três na Lotus, Ayrton Senna conquistou, em 1988, em sua primeira temporada na McLaren, o primeiro campeonato mundial de Fórmula 1, aos 28 anos. O Brasil e o Japão estavam em festa – afinal, o motor do McLaren MP4/4 era Honda.

A idolatria dos japoneses por Senna nasceu na temporada de 1987, quando a Lotus passou a equipar o 99T com motor Honda. Apesar de ser brasileiro, Senna era como um herói nacional para os japoneses.

COMPETITIVIDADE Á FLOR DA PELE

O segundo ano do brasileiro na equipe de Ron Dennis começou com poucas mudanças. Para a temporada de 1989, o francês Alain Prost foi mantido como companheiro de Senna, e os dois pilotaram um carro equipado com motor Honda, dessa vez, porém, não era turbo, por força do novo regulamento. Se, até o ano anterior, Prost parecia ter uma posição privilegiada na equipe por ser bicampeão de Fórmula 1, a partir de 1989, com a conquista do título de Senna, tudo mudou. A relação entre os dois campeões tornou-se difícil ao longo da temporada e a rivalidade acabou em todos os meios de comunicação.

O McLaren MP4/5 tinha novo motor Honda V10, de 3,5 litros e aspiração a ar, uma vez que os turbos de 1,5 litro estavam banidos da modalidade. O carro era estado da arte, mas a Ferrari 640, pilotados pelo inglês Nigel Mansell e pelo austríaco Gerhard Berger, tinham uma das maiores novidades de F1 de todos os tempos: o câmbio robotizado, também conhecido como semiautomático. Mansell venceu a prova de abertura do campeonato, o GP do Brasil, em Jacarepaguá, onde Senna fez o melhor tempo; e Prost, o 5*. O francês terminou a prova em 2* lugar; e Senna, devido a um toque com Berger na primeira curva, teve  de entrar nos boxes, voltando para a pista na 11* posição, a duas voltas do vencedor.

Na segunda prova, o GP de San Marino, começou o atrito entre Senna e Prost. De comum acordo, ficou combinado que, quem chegasse antes á primeira curva, não seria ultrapassado ali. Mas não foi isso o que aconteceu. Na segunda largada (a prova foi interrompida na segunda volta devido a um grave acidente com o March do italiano Ivan Capelli), Senna ultrapassou Prost forçando um pouco e não cumprindo o acordo de antes da corrida. Na opinião de Prost, Senna não cumpriu o trato.

Durante toda a temporada, os dois McLaren foram os líderes absolutos. Prost conquistou o tricampeonato, e Senna foi o vice-campeão. A McLaren foi a campeã de construtores (144 pontos), seguida da Williams (77). Senna venceu seis vezes contra quatro vitórias do francês, mas abandonou outras seis  e sofreu uma desclassificação. Prost foi mais consistente na pontuação (seis segundos lugares contra apenas um de Senna) e, assim, sagrou-se campeão.

A rivalidade entre os dois era evidente, mal se falavam e muitos tinham certeza de que esse estado de ânimos acabaria tendo maiores consequências. Na penúltima prova do campeonato, o GP do Japão, no mesmo autódromo de Suzuka em que Senna se tornara campeão mundial um ano antes, Prost liderava, mas Senna se aproximava. Perto do fim, antes da linha de chegada, Senna forçou por dentro na primeira perna do S da chicane, e Prost, aparentemente, não tentou evitar que os dois carros se chocassem, parando no meio da pista. Prost abandonou o carro, mas Senna permaneceu no cockpit, enquanto era empurrado pelos sinalizadores para a área de escape. Ele pediu que lhe empurrassem com mais força para ganhar velocidade, conseguindo que o motor arrancasse. Senna engatou a marcha e soltou a embreagem, voltando á pista pela continuação da área de escape ante o olhar atônito de Prost. Pouco depois, parou nos boxes para trocar a asa dianteira danificada e poder perseguir o líder, o italiano Alessandro Nannini, em seu Benetton-Ford, ultrapassando-o em poucas voltas. A câmera da tevê oficial do evento (FOCA TV) captou, naquele momento, a imagem de Osamu Goto, responsável pelos motores Honda, sorrindo de admiração quando Senna deixou os boxes após a troca da asa.

Senna foi o primeiro a receber a bandeira quadriculada. Os comissários esportivos, desclassificaram o brasileiro, baseando-se em um antigo do regulamento que proíbe usar áreas de escape para obter vantagem – o que era mais do que evidente não ser o caso, pois os dois carros colidiram, o de Senna foi empurrado lentamente, e era lícito fazer o motor funcionar daquela forma. Aos olhos do mundo, aquela foi uma decisão influenciada pelo compatriota de Prost, o francês Jean-Marie Balestre, presidente da Federação Internacional de Automobilismo Esportivo (FISA).

As imagens captadas mostraram um Ayrton Senna completamente desolado, em um canto dos boxes, que parecia não acreditar no que estava acontecendo. Naquele momento, passou-lhe pela cabeça abandonar tudo.

Na prova final, na Austrália, sob chuva torrencial, Senna e Prost abandonaram. O francês decidiu não participar da segunda largada – a prova foi temporariamente interrompida devido á chuva e Senna acabou batendo na traseira do Brabham-Judd do Inglês Martin Brundle, felizmente sem maiores problemas.

Prost, que chegara á Austrália já campeão, decidiu não correr naquelas condições tão precárias. Senna, porém, declarou aos jornalistas que, mesmo sendo uma temeridade reiniciar a corrida, ele era pago para correr e não podia deixar de largar, demonstrando seu profissionalismo e compromisso com a equipe, com a torcida e com ele mesmo.

A temporada seguinte seria decisiva para a conquista do segundo título mundial.

COMPETITIVIDADE DOIS N* 1

Pode parecer incoerente que em uma mesma equipe de Fórmula 1 haja dois pilotos n* 1, dado que n*1 representa maior importância em termos de hierarquia. O fato é que dois pilotos de mesmo nível fazem dois carros iguais serem mais rápidos do que a figura mais comum de 1* e 2* piloto. Esse aspecto adquire relevância especial por haver um título mundial de construtores em jogo e os dois carros da equipe somarem pontos após as provas para o construtor. Para o dono da equipe, é mais importante que ela conquiste o título. Esse fator por si só leva alguns donos de equipe a preferir ter dois pilotos n* 1, como fez Ron Dennis, o chefe da McLaren, ao contratar Ayrton Senna para a temporada de 1988, em substituição ao sueco Stefan Johansson. O brasileiro seria companheiro de equipe do francês Alain Prost, então bicampeão mundial (1985/1986). Senna ainda não tinha conquistado um título, mas já era reconhecidamente candidato a campeão. A equipe, que conquistara quatro títulos mundiais de Construtores – 1974 (Emerson Fittipaldi), 1984 (Niki Lauda), 1985 e 1986 (Alain Prost), havia perdido o de 1987 para a Williams (Nelson Piquet). Ao ter dois n* 1 pilotando o MP4/4-Honda, EM 1988, suas chances de recuperar o título eram grandes, e foi o que aconteceu Ayrton Senna sagrou-se campeão da temporada de 1988; Alain Prost, vice-campeão; e a McLaren, campeã de Construtores, com 199 pontos (134 pontos a mais que a vice-campeã, a Ferrari).

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *