GP DA BÉLGICA 1987; GUERRA E PAZ

Ayrton Senna GP da Bélgica 1987

Duelo entre Mansell e Senna terminou em confronto nos boxes. Longe das confusões, Prost venceu e igualou recorde de Jackie Stewart.

Brigas, brigas e brigas, dentro e fora da pista, no sentido literal e figurado. Foi esse o tom do fim de semana do Grande Prêmio da Bélgica, terceira etapa da temporada de 1987 da Fórmula 1.

Antes da prova, as manchetes revelavam a tensão entre Nigel Mansell e Nelson Piquet, ambos da Williams. O brasileiro, descontente com um suposto favorecimento da equipe ao inglês, havia afirmado no sábado que, quando fosse negociar a renovação de seu contrato – a vencer no fim do ano – não admitiria outro piloto de ponta como companheiro.

O clima esquentava para a corrida em Spa-Francorchamps.

Mas foi depois da prova que tudo ferveu de vez. Nigel Mansell e Ayrton Senna forma protagonistas de um entrevero que acabou em confronto físico. A disputa iniciada com uma tentativa frustrada do inglês causou a saída de ambos da corrida e teve um inesperado segundo round no box da Lotus: Mansell, enfurecido, foi tirar satisfações e tentou agredir Senna, que se esquivou do soco antes que a turma do deixa disso conseguisse segurar o inglês.

As polêmicas ofuscaram, mas não tiraram o brilho da histórica vitória do sempre frio Alain Prost, da McLaren. Foi o seu 27a triunfo na Fórmula 1, façanha que o colocou ao lado de Jackie Stewart como o piloto com o maior número de vitórias na categoria.

CLASSIFICAÇÃO ACIRRADA

Aquele fim de semana em Spa-Francorchamps havia começado de forma surpreendente. Em uma sexta-feira chuvosa, Gerhard Berger, da Ferrari, conseguiu o melhor tempo do dia – mais um indício de que a rossas projetadas por John Barnard, ex-McLaren, começavam a se apresentar para a disputa com Williams, McLaren e Lotus.

No sábado porém, em condições normais de pista seca, Nigel Mansell voltou a dominar com facilidade, com o tempo de 1m52s026. Atrás dele, houve uma espetacular briga – desta vez no sentido – pelas posições seguintes no grid. Nada menos que quatro pilotos cravaram suas voltas girando no mesmo segundo: Nelson Piquet (1m53s416) e Ayrton Senna (1m53s426), Gerhard Berger (1m53s451) e Michele Alboreto, da Ferrari (1m53s511). Alain Prost, com 1m54s186, ficou só com a sexta posição.

DUAS LARGADAS

Senna já havia feito bonito na primeira largada, quando ultrapassou Nelson Piquet e assumiu a segunda colocação. Mas a assustadora colisão das duas Tyrrell ainda na volta inicial – acidente que, milagrosamente, não causou ferimentos nos pilotos Philippe Streif e Jonathan Palmer – forçou a organização da prova a desfraldar a bandeira preta. Na relargada, Senna foi ainda melhor: passou Piquet e Mansell e tomou a ponta da corrida.

Seria por pouco tempo, infelizmente. Mansell não quis demorar a dar o troca e partiu para cima de Senna ainda na primeira volta, tentando ultrapassar por fora, na curva Stavelot, á esquerda; na curva seguinte, a Les Fagnes, á direita, os dois carros ficaram emparelhados. Nenhum dos dois cedeu, e assim, o choque foi inevitável, jogando ambos para fora da pista. A corrida de Senna acabou ali mesmo; Mansell ainda conseguiu retornar, mas com a suspensão avariada, abandonou na 17a volta – quando então seguiu para o box da Lotus para tentar acertar as contas com o brasileiro.

No âmbito automobilístico, com Mansell fora da disputa, a corrida tinha tudo para ser uma barbada para Piquet, que liderava seguido de Alboreto e Prost. Na 10a volta, entretanto, tudo mudou novamente de figura: uma pane elétrica tirou o brasileiro da prova, e um problema na transmissão abreviou a corrida de Alboreto. Dessa forma, a vitória caía no colo de Alain Prost, que, com a habilidade de costume, conduziu sua McLaren sem preocupações até a linha de chegada.

Presente em Spa como comentarista de Fórmula 1 de uma emissora de televisão norte-americana, Jackie Stewart celebrou o fato de o francês ter igualado seu recorde. Alain é fantástico. Sabe a hora certa de acelerar, tem um traçado sempre elegante e dificilmente se envolve em acidentes, declarou ao Jornal O Globo de 18 de maio de 1987.

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