Nigel Mansell invadiu o box da Lotus para acertar no braço as diferenças com Ayrton Senna; a temperatura só esfriou na etapa seguinte, em Mônaco.
A televisão mostrou a batida? Dá pra acreditar? Ele tentou me passar num lugar que não existe. Nos colocou em uma situação impossível. É completamente maluco. Só pode ser.
Quando voltou aos boxes após o acidente no Grande Prêmio da Bélgica de 1987, Ayrton Senna inconformado. De passagem, comentou o acidente com os repórteres brasileiros – preferiu não dar declarações para a imprensa estrangeira – e entrou no caminhão da escuderia. Alguns minutos depois, mais calmo, retornou a garagem da Lotus para assistir á corrida.
Logo a tranquilidade do local foi interrompida pela súbita chegada de Nigel Mansell. Fora de si, o inglês se aproximou de Ayrton e perguntou o que havia acontecido; antes que o brasileiro pudesse formular qualquer reposta, Mansell agarrou-o pelo pescoço e desferiu um soco. Senna conseguiu se esquivar e escapou ileso; imediatamente, três mecânicos da Lotus seguraram o piloto da Williams para evitar uma nova agressão. Devidamente escoltado por eles, o inglês acabou retirado do box da Lotus.
E assim, Senna pôde dirigir suas atenções de novo para a prova – na qual seu companheiro de equipe Satoru Nakajima chegaria na quinta colocação. A Lotus celebrou muito o resultado: depois da sexta colocação em Imola, o piloto japonês voltava a terminar na zona de pontuação.
VEM COIS AÍ
Depois da corrida, Ayrton detalhou para os jornalistas os dois confrontos com Nigel Mansell.
Dentro da pista: a ultrapassagem ali era impossível. Eu estava completamente dentro da curva. Ainda tentei frear, pois se forçasse no meu ritmo poderíamos ir os dois pelos ares, como acontece de vez em quando numa situação daquelas, afirmou. O que me dá mais pena é pensar que ele não precisava forçar aquela ultrapassagem, muito menos logo na primeira volta. Com o carro que tem, era só esperar um pouco mais que ultrapassaria com facilidade numa reta.
Fora da pista: Eu estava sentado no box, vendo a corrida na televisão, quando vi ele entrar. Imaginei logo: vem coisa aí, mas fiquei na minha. Ele estava totalmente transtornado e veio tomar satisfações comigo. Apenas me defendi, e o pessoal da equipe logo chegou para apartar. Foi uma coisa rápida, minimizou.
Mansell, ao contrário, demorou mais para esfriar a cabeça após o entrevero. Ao sair do autódromo, ainda estava visivelmente transtornado. Eu tinha metade do carro na frente, e a maior prova é que a minha roda traseira se chocou com a dianteira dele. Será que esse rapaz não aprende nunca? Comigo vai ter que aprender. Nem que seja na base do soco.
EM MÔNACO, AS PAZES?
Duas semanas depois, o circo da Fórmula 1 desembarcava em Monte Carlo. E antes que a dupla se enroscasse de novo nas ruas do principado, a direção do Grande Prêmio de Mônaco resolveu promover um encontro entre Senna e Mansell, esperando que os dois aparassem as arestas.
Aparentemente, deu certo, ao menos na visão inicial do brasileiro. Eu disse para ele: É isso que não entendo em você. Você tinha a chance de vencer na Bélgica, e eu não. Você tem a chance de ser campeão, eu não. Você é quem sai perdendo nessa briga. Então, ele disse: Vamos deixar isso pra trás. Por mim, tudo bem. Não existe intenção de represália de minha parte, contou.
A reunião de fato parece ter amansado Mansell, que até mudou o discurso sobre o ocorrido em Spa-Francorchamps.
Ele deve ter errado uma marcha, porque de repente ficou mais lento e eu passei. Aí, ele acertou a marcha, recuperou a velocidade e nós batemos, disse.
Ao saber da nova justificativa do inglês, porém, Senna não resistiu. Mesmo sem dar mais explicações para não estender o assunto, fez questão de ter a última palavra. Não troquei um única marcha naquele trecho.