OS DESAFIOS DE UMA PISTA ESPECIAL; RAZÃO E SENSIBILIDADE EM SPA

Ayrton Senna o GP da Bélgica 1989; Razão e sensibilidade em Spa

Para Ayrton Senna, circuito belga exigia dos pilotos um nível de concentração e de competição altíssimos; não á toa, a prova era uma das favoritas dele.

Esportivamente, o Grande Prêmio da Bélgica trazia ótimas memórias para Ayrton Senna. O brasileiro já havia vencido duas vezes em Spa-Francorchamps: em 1985, com a Lotus – a segunda vitória de sua carreira, e em 1988, com a McLaren, ano do primeiro título mundial.

Após conquistar a pole da edição de 1989 da prova, Senna explicou aos jornalistas que aquele circuito o fascinava por algo além das vitórias. Está pista é muito veloz, exige que a gente dirija com muita autoconfiança. Para mim, é sempre um desafio dirigir nessas condições. Fazer uma curva de 90 graus a 300 km/h sem aliviar foi muito excitante, afirmou.

Essas subidas e descidas exigem muito, mas também é necessário manter uma segurança absoluta. Antes de chegar na curva, você tem de ter certeza de que é capaz de fazer tranquilo. Antes de entrar na curva, é preciso decidir como ela vai ser feita, qual o trajeto que você deve seguir. Se alguma coisa der errado, você dança. É o tipo de situação que me atrai. Gosto disso porque requer muita sensibilidade. É preciso adivinhar o que vai acontecer. Para mim, isso estimula a sensibilidade: corpo, cabeça, tudo como uma coisa só, é realmente algo fascinante.

Com uma percepção mais aguçada do que representava o automobilismo em sua vida, especialmente depois da conquista do primeiro título, Senna comentava que valorizava esses momentos puros do esporte que uma pista com Spa lhe proporcionava. É durante uma competição, uma luta, que provavelmente o ser humano pode sentir suas maiores emoções. Principalmente quando está competindo num nível altíssimo, em termos técnicos, humanos, físicos e psicológicos.

DILEMAS

Aparentemente, Senna não enfrentou grandes desafios em sua terceira vitória na Bélgica, conquistada de ponta a ponta. Mas talvez seja mais correto dizer que ele não enfrentou grande concorrência. Porque existiram desafios, sim, e não apenas no tocante ao equipamento, como também relativo á mente do piloto.

Em condições como a de hoje, é sempre grande o perigo de atacar com força demais. Há uma tendência para se andar mais rápido do que a prudência recomenda. O mais importante para o piloto é conter seu instinto, explicou.

O fato de a chuva ter parado e ter deixado parte da pista seca a cerca de 15 voltas do final, deixando um rastro pelo traçado preferencial dos carros, também causou preocupação em Ayrton. De acordo com Lee Gaug, engenheiro-chefe da Goodyear, os pneus de chuva poderiam durar até um dia inteiro se a chuva continuar forte e pista sempre molhada. Mas, com a pista seca, podem acabar em 20 voltas, conforme relato de O Globo.

Senna então se viu diante de um problema. Aquela linha é realmente um dilema. Eu não sabia se andava nela para ser mais rápido ou saia para poupar os pneus. Procurei jogar; apertava um pouquinho correndo na linha e depois aliviava. Nas últimas duas voltas, levantei o pé e vim na ponta dos dedos. Não vou esquecer esta vitória porque não esqueço nenhuma. Mas foi uma corrida perigosa.

TI-TI-TI

Apesar de Ayrton Senna estar completamente ambientado na McLaren, satisfeito com o carro, com a equipe e com a parceria com a Honda – cujos engenheiros, diga-se de passagem, o tinham na mais alta conta, a incansável indústria de boatos da Fórmula 1 assanhou-se com uma notícia vinda da Itália, na semana do Grande Prêmio da Bélgica.

Na segunda-feira, o brasileiro havia visitado o quartel general da Benetton, em Treviso. Lá foi recebido por Luciano Benetton, magnata da moda italiana e proprietário da escuderia que ostentava seu sobrenome.

Estaria o chefão oferecendo uma vaga a Senna? Estaria Ayrton de olho em uma troca de equipe? O brasileiro nem perdeu tempo respondendo ás especulações. Foi Flavio Briatore, recém-empossado como homem forte da Benetton, quem ofereceu os esclarecimentos. Os dois são amigos e conversaram apenas sobre confecções. Nada sobre corridas.

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