GP DA ESPANHA 1986; UMA VITÓRIA MILIMÉTRICA

Em corrida impecável a bordo da Lotus, Senna superou Nigel Mansell por uma margem de apenas 14 centésimos de segundo.

Depois de quatro anos fora do calendário do Mundial de Fórmula 1, o Grande Prêmio da Espanha estava de volta em 1986. Não mais em Montjuíc ou Jarama, onde foi disputado entre 1967 e 1982, mas em um belo e novíssimo palco: o autódromo de Jerez de la Frontera. Tão novo, aliás, que estava ainda recebendo os últimos retoques quando as equipes começaram a chegar com seus equipamentos para dar início aos preparativos para a prova, agendada para o domingo, 13 de abril.

Com 4.191 metros de extensão, 16 curvas e sentido anti-horário, o traçado de Jerez recebeu muitos elogios dos pilotos – que, entretanto, criticaram bastante a ondulação da pista e previram grande desgaste físico na hora da corrida. Braços, pescoços e pernas que se cuidem, afirmou Nelson Piquet ao jornal O Globo após o primeiro treino no autódromo, no dia 10 de abril de 1986 – excepcionalmente, os carros haviam sido liberados para ir para a pista já na quinta-feira, a fim de fazerem o reconhecimento do circuito.

Um dia depois, na sexta-feira, aconteceu a primeira sessão de classificação. E o mais veloz foi Ayrton Senna, da Lotus, que, em sua última volta, a um minuto do encerramento, registrou incríveis 1m21s605, superando em quase um segundo e meio o tempo de Nigel Mansell, da Williams, o melhor até então. Consequentemente, a outra Williams, de Piquet, caiu para o terceiro posto, seguida das McLaren de Alain Prost e Keke Rosberg. Após a frustrante estreia no Brasil, a equipe de Ron Dennis, defensora do título de construtores, parecia estar retomando o prumo.

A excelente marca deixou Senna assistir de camarote, no sábado, á disputa da Williams pelo segundo lugar; Piquet conseguiu roubar o posto do companheiro de equipe e garantiu, mais uma vez, uma primeira fila brasileira, como já havia acontecido em Jacarepaguá.

Apesar da vantagem de largar na frente, Senna sabia que o caminho até a bandeirada seria tortuoso. Vai ser muito difícil manter a pole na corrida. Em provas de classificação meu carro equilibra-se ao do Piquet, mas em corridas a história é diferente. Os motores Honda têm muito mais potência e nas retas eles vão passar por cima de mim, afirmou ao Jornal do Brasil antes da prova.

CLÁSSICO INSTANTÂNEO

Na corrida, a história foi mesmo diferente, mas de uma forma que Ayrton jamais poderia prever. A tal ponto que, ao final do Grande Prêmio da Espanha, os fãs de automobilismo tinham a certeza de que aquela corrida já havia ganhado definitivamente um capítulo no livro de ouro da Fórmula 1. Em um dos finais de prova mais emocionante de todos os tempos, Ayrton Senna cruzou a linha de chegada apenas 14 centésimos de minuto á frente de Nigel Mansell – a segunda menor diferença já registrada na F1, atrás somente do um décimo de segundo que separou Ronnie Peterson do vencedor Peter Gethin em Monza, em 1971.

Com um total de 72 voltas, a corrida teve duas partes distintas. Na primeira metade, Senna, para surpresa geral, liderou com relativa tranquilidade. Conservou a ponta na largada e manteve uma distância segura para o segundo colocado, Nelson Piquet. Mas, na 32a volta, o inglês tomou a posição do brasileiro da Williams e deu início a uma perseguição do brasileiro da Williams e deu início a uma perseguição á Lotus do líder. Na 40a volta, finalmente, Mansell superou Senna no final da reta dos boxes, local preferencial das ultrapassagens até então.

Começou, então, a segunda parte da prova: um jogo de gato e rato entre Senna e Mansell aque só acabaria, literalmente na linha de chegada.

De início, o inglês abriu vantagem sobre o brasileiro, que não desistiu; extraindo o máximo do carro, Ayrton voltou a se aproximar do líder. Na 55a volta, Senna já havia tirado a diferença e passou a atacar Mansell, que usava cada centímetro da pista para tentar evitar a passagem do brasileiro. Foram sete voltas de assédio, até que no 62a giro. Senna surpreendeu o adversário ao dar bote na Curva Sul, retomando a ponta.

Na sequência, Mansell entrou no box para trocar pneus; com isso, na teoria, a vitória de Senna parecia encaminhada.

Mas a rapidez dos mecânicos da Williams no pit stop e a sede do inglês na volta á prova o colocaram de novo na cola de Ayrton, que, por sua vez, já com os pneus em condição precária, segurava o carro como podia – a custo, como já previsto, de um tremendo desgaste físico.

A chegada foi de tirar o fôlego: com Senna e Mansell praticamente emparelhados na reta de chegada, o brasileiro venceu por menos de meio carro.

Foi minha terceira vitória na Fórmula 1, mas a primeira em que tive de lutar para ganhar. Agora já sei também o que é isso, definiu Senna, aliviado.

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