NO PÓDIO EM JACAREPAGUÁ; UM SEGUNDO LUGAR COM SABOR DE VITÓRIA

Ayrton Senna; Um segundo lugar com sabor de vitória em Jacarepaguá 1986

Ayrton Senna só ficou atrás de Nelson Piquet no Rio de Janeiro e conquistou um ótimo resultado na primeira prova da temporada.

Prestes a iniciar seu terceiro ano na Fórmula 1, Ayrton Senna já havia se tornado definitivamente uma das estrelas da categoria – especialmente, claro, no Brasil, palco da corrida de abertura da temporada de 1986.

Enquanto Nelson Piquet tinha oito anos de experiência e dois títulos mundiais na bagagem, Ayrton Senna era a novidade e, portanto, a esperança brasileira para manter o País entre os ponteiros da Fórmula 1. Se por um lado isso lhe garantia visibilidade e patrocínios, por outro aumentava a pressão que, de acordo com ele, já o havia atrapalhado em 1985, seu primeiro ano na Lotus.

Eu tinha de mostrar um monte de coisas, provar que eu estava no caminho certo. Acho que em alguns momentos até exagerei um pouco, admitiu Senna ao jornalista Paulo César Martins, de O Globo, em entrevista publicada em 23 de março de 1986. Mas tinha também o problema do equipamento, que não ajudava muito. Andava e quebrava. Isso me deixava meio tenso e querendo mais do que nunca acertar.

Senna acreditava que os problemas do ano anterior não estavam solucionados, ao menos não para as primeiras corridas. Para ser franco, não tenho mesmo muitas chances. Não tenho equipamento para brigar pelo título. Isso só vai mudar se houver uma melhora em tudo, afirmou, acrescentando que, de qualquer forma, estaria atento e vigilante ao desempenho dos ponteiros. De repente os que estão andando lá na frente quebram e aí tenho de estar preparado para vencer.

Para isso, era preciso controlar o ímpeto de estar sempre na frente – em alguns momentos da temporada anterior, adversários e ex-pilotos alertaram para um perigoso excesso de vontade que prejudicava não só a Senna, mas também aos demais pilotos na pista. Quanto a isso, Ayrton afirmava já ter amadurecido. Numa coisa eu sou o mesmo de três anos atrás: se as coisas vão bem, se o equipamento não funciona, reclamo muito junto ao projetista, ao engenheiro, aos mecânicos. Isso não mudou. O que aconteceu é que agora conheço meu limite. Sei o que posso fazer e sei também que não adianta nada eu querer andar mais que o carro, afirmou.

De acordo com Senna, a teoria já seria colocada em prática em Jacarepaguá. Farei uma corrida tática, aguardando a quebra dos outros carros. Não vou ser audaz porque não tenho carro para isso. Só se chover.

RESULTADO GARANTIDO

Não choveu. E assim, de acordo com o planejado, Ayrton Senna conduziu sua Lotus sem tentar segurar qualquer uma das Williams ou das McLaren. O segundo lugar, portanto, foi um ótimo resultado – ainda que Senna tenha feito questão de dizer que o melhor teria sido chegar em primeiro. Já esperávamos que quem viesse por trás me ultrapassaria, como aconteceu com Piquet na segunda volta e depois com o Prost na décima nona, afirmou á Folha de S.Paulo de 24 de março. O Nelson era muito mais rápido do que eu, e como Arnoux e Lafitte não pareciam poder se aproximar, eu resolvi tirar o pé do acelerador, para não gastar gasolina.

Nigel Mansell, porém, tinha uma opinião diferente. Após a prova, o inglês reclamou de ter sido fechado pelo brasileiro no acidente que o tirou da prova. De acordo com Mansell, a preferência da curva seria sua. Vocês podem ver o que estou falando pela televisão, disse, impaciente.

Senna não titubeou e tratou de devolver a culpa para o piloto da Williams. Mansell estava afoito para me ultrapassar desde a primeira curva. No fim do retão, eu tinha a linha da curva e freei bem antes. Ele forçou a ultrapassagem por dentro, me fez abrir da linha e derrapar, e bateu na minha roda traseira, declarou ao Jornal do Brasil de 24 de março. Nem o vi sair da pista, pois tive que controlar o carro. O choque provocou um pequeno furo no meu pneu traseiro esquerdo, que quando fui trocar tinha apenas sete libras.

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