Depois de Senna e Johansson pararem por falta de gasolina, Prost cruzou em primeiro, mas foi desclassificado após a pesagem – e assim de Angelis herdou a vitória.
Grande Prêmio de San Marino, 5 de maio de 1985. Terceira etapa do Campeonato Mundial de Fórmula 1. Mais de 100 mil espectadores eram esperados no autódromo Enzo e Dino Ferrari, em sua esmagadora maioria para torcer pelas rossas, claro. Mas até mesmo o mais vermelho dos ferraristas, ainda que o fanatismo não o permitisse admitir, dirigia-se a Imola de olho também na grande sensação daquela temporada: Ayrton Senna, que levava sua Lotus a vitória no Estoril com uma performance de cinema.
O primeiro triunfo do brasileiro na Fórmula 1 o havia colocado, mais do que nunca, na ordem do dia da imprensa esportiva internacional. Entre os inúmeros elogios e adjetivos dirigidos ao piloto mundo afora, destacava-se o apelido dado pela Auto sprint italiana: O ciclone brasileiro. No entanto, a coincidência de suas maiores atuações na categoria terem acontecido sob pesada intempérie – além de Portugal, ainda estava tatuado na memória de todos o segundo lugar no Grande Prêmio de Mônaco de 1984 – motivava Ayrton a mostrar sua capacidade de realizar proezas também em pista seca. Tomara que faça bom tempo em Imola, declarou ao jornal O Globo do dia 2 de maio. Quero desfazer a impressão que ficou em Monte Carlo, no ano passado, e de Estoril, que sou favorecido pela pista molhada, e mostrar que tenho o mesmo valor em dia de sol, acrescentou, fazendo questão de lembrar que os melhores tempos de classificação em terras lusas foram registrados sem chuva.
Na hora da corrida, o tempo estava seco, como queria Ayrton. O problema para ele – e para vários outros pilotos – é que, infelizmente, secaram também os tanques de combustível.
TROCA DE LÍDERES
Ayrton Senna, que dominara todos os treinos e largara na pole, caminhava para o que parecia uma vitória líquida e certa em Imola. A maior ameaça já ficara para trás: entre a 30a e a 32a volta, Alain Prost fizera sucessivas e agressivas tentativas de ultrapassagem – com Ayrton dando o troco na mesma moeda e fechando a porta em todas elas. ( Era o início do fantástico duelo que se repetiria ao longo das carreiras dos dois futuros campeões mundiais.) No entanto, na volta 34, enquanto Senna passou fácil pelo retardatário Patrick Tambay, Prost se enroscou no compatriota, perdendo segundos preciosos que fizeram o brasileiro disparar na frente.
A três voltas do final, porém, Ayrton sentiu o motor falhar: apesar de os mostradores não terem indicado a falta de combustível, era uma fatídica pane seca. O regulamento até então estabelecia um limite de 220 litros de combustível e não permitia reabastecimento durante a prova.
Com o abandono do brasileiro, o sueco Stefan Johansson, da Ferrari, que havia ultrapassado Prost na volta 53, assumiu a primeira posição, levando as arquibancadas a loucura. Mas a alegria dos tifosi durou pouquíssimo: na volta seguinte, também a Ferrari de Johansson ficou sem gasolina. Sorte de Alain Prost, que herdou a ponta e só precisou se segurar um pouco mais para receber a bandeirada. Foi na conta do chá: o francês, que também estava no toco, nem conseguiu completar a volta de comemoração.
TROCA DE VENCEDOR
Prost subiu ao degrau mais alto do pódio acompanhado por Elio de Angelis e Thierry Boutsen, da Arrows – também sem gasolina, o belga parou a poucos metros da linha de chegada e precisou empurrar o carro para garantir a terceira colocação. Mas as emoções do Grande Prêmio de San Marino ainda não haviam acabado: alguns minutos depois da celebração, na pesagem dos carros, a direção de prova constatou que a McLaren de Prost, com 536 kg, estava 4 kg abaixo do mínimo permitido.
Dessa forma, o francês foi desclassificado e a vitória passou as mãos de Elio de Angelis – que, com um motor novo em sua Lotus, optara por uma estratégia conservadora, visando terminar a prova. É um motor novo que não conhecia bem ainda, e, no fim, foi apenas uma questão de regulagem que eu mesmo consegui fazer, explicou em O Globo de 8 de maio. Vieram depois todos os acontecimentos que todos já sabem e eis-me aqui, vencedor. Talvez não seja a melhor forma de ganhar nove pontos, mas estou satisfeito, confesso.