No grid de largada, Senna e Piquet; no resultado final, Piquet e Senna, para delírio da torcida que lotou o autódromo de Jacarepaguá.
A temporada de 1986 ainda nem havia começado, mas a disputa pelo título do Campeonato Mundial de Fórmula 1 resumia-se, Alain Prost e Keke Rosberg; pela Williams, Nelson Piquet e Nigel Mansell. Era quase consenso que seria impossível para as outras equipes se equipararem aos motores Porsche e Honda que, respectivamente, equipavam as McLaren e as Williams, isso para ficar apenas em um dos pontos que tanto separavam as concorrentes.
Ao chegar em Jacarepaguá para a primeira etapa do ano, o Grande Prêmio do Brasil, marcado para 23 de março de 1986. Piquet falou sobre esse abismo. A temporada mostrará que há duas escuderias absolutas atualmente na competição: a nossa, Williams, e a McLaren.
Em organização, em carro e em motor. O resto, esqueça.
É claro que poderão vencer corridas, marcar poles, mas, a longo prazo, até o fim do ano, há de prevalecer a superioridade das duas que mencionei, declarou a O Globo de 21 de março.
Podia parecer soberba, mas Piquet estava trabalhando com fatos. A Williams havia lhe entregado nas mãos uma máquina ainda melhor do que a da reta final do campeonato anterior, que havia vencido as três últimas provas do ano. Apesar de Mansell e Rosberg contarem com o equipamento para chegar lá, a maioria dos especialistas acreditava que a briga ficaria mesmo entre o bicampeão Piquet e Prost, agora o detentor do título após ter finalmente espantado a má-sorte e conquistado o Mundial em 1985, o francês certamente pilotaria mais leve em 1986.
E Ayrton Senna? Corria por fora. Mas como corria…..
POLE BRASILEIRA
Para delírio da torcida brasileira, o brasileiro da Lotus se intrometeu na disputa das escuderias gigantes desde o treino de sexta-feira, 21 de março, quando ficou com o segundo melhor tempo, atrás apenas de Piquet. Naquele dia, Senna completava 26 anos, mas evidentemente não haveria festa na noite carioca. Tenho muito o que fazer no carro para me preocupar com comemoração. Quero é festejar domingo, afirmou á Folha de São Paulo.
Ayrton foi recompensado já no sábado. Com o acidente de Nelson Piquet a dez minutos do fim da sessão de classificação, bateu na curva norte quando ainda era o dono do melhor tempo, o caminho ficou livre para Senna, que marcou 1m28s412 e garantiu a pole position. Piquet ficou com o segundo posto, seguido por Mansell e por René Arnoux, que surpreendeu a todos ao registrar a quarta melhor marca a bordo de sua Ligier. As McLaren não renderam bem: Rosberg ficou em sétimo, Prost em nono. Na corrida, tudo poderia mudar, é claro.
VITÓRIA BRASILEIRA
Mas nada mudou para as McLaren, que abandonaram, ambas, o Grande Prêmio do Brasil, Rosberg na quinta volta, Prost na 30a. A grande mudança foi mesmo a troca de posiçãodos brasileiros. Senna, que havia largado na pole, terminou em segundo, e Piquet, o segundo do grid, terminou na ponta, após uma prova em que praticamente não passou sufoco. O piloto da Williams ultrapassou Senna logo na segunda volta e depois apenas administrou. Ao final, venceu com um diferença de 34 segundos para o compatriota, que também não teve sua segunda posição ameaçada: Jacques Lafitte, da Ligier, chegou quase 30 segundos depois de Senna e completou o pódio na terceira colocação.
Para Piquet, a saída de Mansell logo no início da prova, após uma tentativa frustrada de ultrapassar Senna, acabou sendo determinante para sua vitória. Foi um alívio quando ele saiu da corrida, pois a pista ficou livre, afirmou á Folha de S.Paulo de 24 de março.
HOMENAGEM AO CHEFE
Dono da escuderia que carrega seu sobrenome, Frank Williams, ainda em recuperação do gravíssimo acidente automobilístico sofrido na França no início daquele mês, assistiu á prova do hospital, na Inglaterra. E foi homenageado pelos integrantes da escuderia com uma faixa pouco antes da largada, próximo ao carro de Piquet. Tradução livre de seu conteúdo: Não se preocupe, Frank, estamos cuidando da lojinha.
