GP DO JAPÃO 1988; O BATIZADO DE UM NOVO CAMPEÃO

Ayrton Senna, vence a dramática prova em Suzuka e é campeão mundial 1988

Em uma corrida emocionante e com um toque quase sobrenatural, Ayrton Senna conquistou o primeiro título mundial de Fórmula 1.

Outubro de 1988. Em ritmo de decisão, o circo da Fórmula 1 chegava ao Oceano Pacífico para as duas últimas corridas da temporada. O favoritismo ainda era de Ayrton Senna, que só precisava de uma vitória, no Japão ou na Austrália, para garantir matematicamente o título do Mundial de pilotos. Mas o momento, sem dúvida, pertencia a Alain Prost. Carregando na bagagem os triunfos consecutivos em Portugal e na Espanha, o francês estava confiante: com uma vitória simples na terra do sol nascente, levaria a decisão para Melbourne – hipótese considerada improvável algumas semanas antes, quando a vantagem de Senna parecia inalcançável.

Com isso, a pressão agora passava para o lado do brasileiro, que sofreu com dificuldades no carro nas duas provas anteriores – um abandono em Estoril e um quarto lugar em Jerez – e teve de segurar mais um pouco o tão esperado grito de campeão. Mas Ayrton não parecia sentir o peso da responsabilidade. Animado pelos testes realizados em Imola antes do Grande Prêmio do Japão, o brasileiro deixou o seu recado no embarque para Tóquio. As duas últimas provas eu corri para marcar pontos, mas porque enfrentava problemas no carro. Desta vez, porém, vou correr como em todo o resto do campeonato. Para vencer. Desta vez é para valer.

Definir o campeonato em Suzuka, a casa da Honda, seria também uma espécie de coroação perfeita para Senna, admirador confesso não apenas dos motores, mas do profissionalismo e da ética de trabalho dos japoneses. Ayrton elogiou o circuito nipônico, mas com poucos pontos de ultrapassagens, oque daria ainda mais emoção á disputa do título. Nossa briga deverá ser ainda mais acirrada, previu.

RESERVA ESCALADO

No treino de classificação da sexta-feira, Ayrton Senna optou por deixar de lado o carro titular, aquele que havia apresentado problemas em Portugal e na Espanha, e acelerou o reserva – o último chassi construído pela equipe, que levava o número de série 6. Com ele, garantiu a pole provisória: 1m42s157, contra 1m43s548 de Gerhard Berger, da Ferrari, e 1m43s806 de Prost.

Diante disso, Senna decidiu transformar o reserva em titular. Aparentemente, foi uma boa escolha: no sábado, o piloto melhorou ainda mais seu tempo (1m41s853) e conquistou o direito de sair na frente pela 12a vez em 15 corridas na temporada. Prost conseguiu deixar Berger para trás (1m42s177) contra 1m43s353) e assegurou a segunda posição, jogando o austríaco para a segunda fila, ao lado de Ivan Capelli, da March, que registrou 1m43s605 e ficou na quarta colocação.

VIRADA DE TEMPO

O carro estava tinindo. Mesmo assim foi por pouco que Ayrton não ficou a pé na largada do Grande Prêmio do Japão. Para seu desespero, o motor morreu não uma, mas duas vezes. Senna conseguiu fazê-lo pegar no tranco em ambas; na segunda, em definitivo. Sorte?

Com os problemas na partida, o brasileiro havia ficado muito para trás do primeiro pelotão. Agora, era o 16a colocado. Só uma reação fulminante o colocaria de volta á briga. Ayrton, então, foi buscá-la. Ainda na primeira volta, ultrapassou, entre outros, Philippe Streiff, Jonathan Palmer, Nelson Piquet e Andrea de Cesaris; na segunda, jantou Ricardo Patrese e Alessandro Nannini; nas duas seguintes, Thierry Boutsen e Michele Alboreto. Na 11a volta, Senna passou Berger, assumindo a terceira colocação, mas ainda bem distante dos líderes Prost e Capelli.

Foi quando a sorte – ou agora teria sido a providência? se manifestou novamente para Senna naquele domingo. Uma chuva fina começou a cair no circuito e permitiu ao brasileiro, perito em pista molhada, se aproximar de Prost e Capelli, que haviam tirado o pé do acelerador por precaução. Claro que ultrapassar o italiano, conhecido por vender caro uma posição, não seria fácil. Mas acabou sendo: quando Senna encostou para tentar a manobra, o motor da March simplesmente estourou, deixando caminho livre para Senna chegar em Prost. Sorte ou providência?

Seja como for, a ultrapassagem de Senna sobre Prost, na 28a volta, deveu-se ao talento e a ousadia do brasileiro, que aproveitou a hesitação do companheiro de McLaren diante de dois retardatários na chicane, abriu pela direita e encontrou o corredor exato entre o francês e a mureta para garantir a ponta. Senna estava a 23 voltas de seu primeiro título mundial.

PARA SEMPRE

Na Fórmula 1, claro, 23 voltas são uma eternidade. E assim Prost conseguiu pouco a pouco, descontar a diferença que Senna havia aberto após a tomar a dianteira. A menos de dez voltas da bandeirada, os dez segundos de folga haviam sido reduzidos para 1,5 segundo.

Mas o que aconteceria quando o francês encostasse no brasileiro, jamais saberemos. A chuva apareceu. Prost tirou o pé e a perseguição chegou ao fim.

Em 30 de outubro de 1988, a água de Suzuka batizava um novo campeão mundial: Ayrton Senna da Silva.

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