John Watson insiste que Ímola foi uma das poderosas imagens que a TV jamais mostrou

John Watson dá á sua opinião sobre o acidente de Senna em Ímola

O ex-piloto John Watson insiste que Ímola foi uma das mais poderosas imagens que a televisão jamais mostrou e reflete o enorme alcance e poder dessa mídia. Na era anterior a essa, as corridas de F1 eram um tanto elitistas – os pilotos eram acessíveis se você fosse as corridas, mas incrivelmente distantes se não fosse. As entrevistas com eles eram poucas, assim como seus perfis pessoais. A cobertura da televisão, em preto-e-branco, era esporádica e as câmeras, normalmente, filmavam a distância. Não existem filmes do acidente fatal de Jim Clark, em Hockenheim, na corrida de Fórmula 2, em 1968. Apesar de ele ter sido o piloto mais celebrado da sua época, depois do acidente, quase não houve manifestações: nenhum tributo em vídeo, nem revistas, nem livros celebrando sua vida.

Em 1994, o mundo havia mudado a ponto de um bilhão de telespectadores sentirem que conheciam Ayrton Senna. Isso se devia em parte ao poder da televisão e, em parte, ao poder daquele homem. Eles fizeram uma combinação muito potente, e o vazio depois de Ímola, uma coisa lúgubre, produziu uma angústia mundial – exemplificada por mais de um milhão de pessoas perturbadas que foram as ruas de São Paulo, quando seu corpo foi trazido de volta ao Brasil.

Ayrton Senna havia se tornado uma presença global, e assim continua. O fascínio sobre ele, tudo sobre ele é tão forte hoje como era antes. Em um leilão da Christie, em Londres no ano de 1998, o valor do macacão de corrida original de Senna foi estimado entre 33 e 49 mil dólares – conforme já disseram, qualquer item pessoal dele vale uma fortuna. Mas a lembrança vai muito mais fundo do que o material, e o legado vai além das realizações nas pistas. Aquelas corridas de domingo a que costumávamos assistir criavam uma expectativa em nós, descreve Viviane Senna. Um tipo de visão de que o Brasil realmente podia realizar seu verdadeiro potencial. Um número incontável de fãs que também assistiam deve ter sentido essa mesma promessa.

O homem no carro imediatamente atrás dele em Ímola – Michael Schumacher, na Benetton, uma valiosa testemunha da batida – continuou a quebrar todos os recordes da F1, inclusive as sessenta e cinco pole positions de Senna. Schumacher terminou com sessenta e oito, mas conquistadas em duzentos e cinquenta grandes prêmios. Senna bateu seu recorde com cento e sessenta e um GPs. Schumacher também encerrou sua carreira com a conquista sem precedentes, quase inacreditável, de sete campeonatos mundiais e dominou a F1 mais do que qualquer outro anteriormente. Seus dons eram lógicos, compressíveis, eficientes e despertavam grande respeito, exceto quando ele era grosseiro, batendo de frente com os outros.

Em contraste, os dons de Senna eram praticamente ilógicos, tão puros na sua execução que, em vez de provocar apenas respeito, causavam admiração. Ele tinha um carisma genuíno, que ninguém consegue qualificar, e uma vulnerabilidade curiosa. Ás vezes, parecia que estava lutando contra todo o mundo – e vencendo -, e talvez as pessoas normais – que adorariam lutar contra o mundo, mas não podiam – viam-se nele: que jogava sozinho e em equipe, rico mas nunca esnobe e – certo ou errado – sempre verdadeiro consigo mesmo, quaisquer que fossem as consequências.

A sua maturidade foi de tal que, quando sua carreira como piloto encontrava-se na fase final, Senna estava abrindo negócios que administraria quando se aposentasse. Nisso, ele se parecia com Niki Lauda, que fundou empresa aérea, e Jody Scheckter – o último campeão mundial da Ferrari antes de Schumacher -, que administrava uma empresa nos Estados Unidos que treina policiais e militares para decidir quando atirar e quando não atirar. Em geral, os pilotos aposentados da F1 participam de categorias ou salões automobilismos menos exigentes, tentam se tornar comentaristas de automobilismo na TV ou se tornam donos de empresas automotivas. Poucos saem completamente da área e criam algo diferente.

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *