MUITO PRAZER AYRTON SENNA; O PRIMEIRO PÓDIO

Ayrton Senna e o seu primeiro pódio

Mais um objetivo alcançado; o primeiro pódio.

Em sua sexta corrida na Fórmula 1, o piloto brasileiro duela de igual para igual com os grandes e eleva imediatamente seu patamar na categoria.

Eu era mais veloz, ultrapassava um e na volta seguinte já estava encostado no próximo. Incrível; pela primeira vez na Fórmula 1, eu estava brigando por posições, como nas outras categorias em que corri. Eu estava, finalmente, competindo. Até Mônaco, confesso, eu não estava curtindo muito a categoria, na qual só brigava contra meu carro.

Alguns dias depois do Grande Prêmio de Mônaco, Ayrton Senna recordava, em reportagem da revista Placar, os detalhes da extraordinária corrida que, já era possível dizer, havia mudado definitivamente seu patamar na Fórmula 1. Até então visto como a grande promessa da categoria, o brasileiro da Toleman se tornou realidade após aquelas 31 voltas no principado – uma realidade que ele há muito esperava.

Depois de Mônaco, o ânimo da equipe mudou. Eles acreditavam em mim, mas enquanto você não prova numa situação de fato o que realmente vale, sempre fica faltando alguma coisa. Para mim, faltava Mônaco, sentenciou ao repórter Álvaro Teixeira.

DA DECEPÇÃO AO ORGULHO

Ainda nos boxes de Monte Carlo, a compreensível decepção de Senna com a interrupção da corrida – e a sensação de ver subtraída a possível primeira vitória na categoria – foi pouco a pouco cedendo lugar ao orgulho pela certeza do dever cumprido. O reconhecimento do público, que dirigiu ao brasileiro efusivos aplausos na tradicional premiação com o príncipe Rainier e a princesa Stephanie, deixou isso evidente.

Não digo que esteja plenamente satisfeito, afinal todos viram que poderia ter vencido essa corrida e deveria

vencê-la.

Admito que a pista estava perigosa, mas já era perigosa desde a largada e todos os pilotos sabiam. Era uma questão de tomar mais cuidado, dirigir mais devagar. As condições não mudaram para justificar esse fim abrupto., declarou Ayrton a Janos Lengyel, enviado de O GLOBO a Monte Carlo.

Se a prova foi interrompida e se isso é legal, o problema não é meu, o meu negócio é correr. Foi o que fiz, disputando cada posição que ganhei como teria disputado a única que faltava e que seria a da vitória.

Na verdade, muito provavelmente o brasileiro nem precisaria gastar muita energia nesse último embate. Com mais umas voltas ele me passaria, isso não nego, confessou o sincero Alain Prost, em declaração reproduzida nas páginas de O GLOBO. Ao contrário: vendo-o chegar cada vez mais perto, estava até decidido a abrir o caminho e nem entrar na disputa da posição. Não sendo ele perigoso para a minha liderança no campeonato, havia resolvido contentar-me com o segundo lugar. Felizmente veio a bandeirada e acabei vencendo.

INDIGNAÇÃO BRASILEIRA

Muitos acreditavam que esse timing da bandeirada, milagrosamente feliz para o francês, foi mais do que uma mera coincidência – em especial no Brasil, onde o tom dos jornais reproduziu a revolta dos torcedores. Patriotada francesa tira vitória de Senna, decretou a Folha de São Paulo, enquanto o Jornal do Brasil estampou uma manchete contestada pelo piloto: Senna inconsolável diz que foi roubado.

Numa hora dessas, é preciso ser frio. Há certas coisas que não se podem falar. Eu disse que teria condições de passar Prost, e ele mesmo admitiu isso. Mas soube dessas declarações que não dei, e me chateei, replicou a Placar.

Anos mais tarde, em depoimento para o livro The hard edge of genius, de Christopher Hilton, Senna deu seu veredito pessoal definitivo sobre aquela corrida. Depois de um tempo refletindo, cheguei a conclusão de que foi um desfecho fantástico, considerando como tudo aconteceu. Provavelmente ganhei mais publicidade do que tivesse vencido.

 

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